A primeira visita de um submarino português a Cabo Verde despertou nos últimos dias a curiosidade da população de São Vicente, ao observar ao longe o exterior do “Arpão”, atracado desde 14 de abril no porto do Mindelo.

“Desde pequena que sonhava estar dentro de um submarino, para ver como é o fundo do mar, devido às fantasias de criança em que sonhava ver peixes, as conchas, baleias e a mais desejada era ver as sereias, devido à historias que escutava”, descreveu à Lusa Dulcineida Soares, psicóloga clínica natural do Mindelo enquanto avistava ao longe o submarino da Marinha portuguesa.

No entanto, Dulcineida Soares e vários outros cabo-verdianos não conseguiram cumprir o sonho de ir a bordo, face às características do submarino, que não permitem visitas do público em geral, como esclareceu o capitão-de-fragata Taveira Pinto, comandante do navio, já que transporta vário armamento.

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“Face às características do submarino não fazemos a abertura ao público, pois o submarino é por si uma arma estratégica. As visitas são restritas, mas temos colaboração e algumas atividades, nomeadamente com a Guarda Costeira de Cabo Verde, visto a relação estreita e próxima com atividades a desenvolver e temos alguma colaboração com o instituto do mar e a universidade, com cursos ligados ao mar, ciências do mar e maquinas marítimas que terão a oportunidade de conhecer o navio”, assegurou o comandante.

O submarino “Arpão” está a fazer escala no porto do Mindelo, ilha de São Vicente, no âmbito da iniciativa “Mar Aberto” 2023, o primeiro da Marinha portuguesa a atracar em Cabo Verde. O submarino largou a 4 de abril da Base Naval de Lisboa e nesta missão, de 120 dias, vai percorrer, até ao início de agosto, 13 mil milhas (cerca de 24.100 quilómetros) e realizar 2.500 de navegação por dois continentes e cinco países, fazendo escala em São Vicente de 14 a 18 de abril.

“O NRP “Arpão” será o primeiro submarino português a realizar uma missão deste tipo, sendo também a primeira vez que um submarino português cruza a linha do equador, tendo para isso posto à prova a capacidade logística operacional da Marinha”, destacou a Armada portuguesa.

“A iniciativa ‘Mar Aberto’ pressupõe o estabelecimento de contactos bilaterais e de colaboração e estabelecimentos de relações diplomáticas entre Portugal e outros países, neste momento focado na CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] e com grande enfoque na patrulha do Golfo da Guiné, tendo em conta indícios de pirataria e narcotráfico que há naquela zona. O primeiro porto a escalar é aqui no Mindelo, depois seguiremos para o Brasil, pelo Atlântico sul, cruzaremos para a cidade do Cabo, onde iremos participar nas comemorações participar nas comemorações do 10 de Junho [comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, na África do Sul]”, acrescentou o capitão-de-fragata Taveira Pinto.

O “Arpão” conta com uma guarnição de 35 militares, incluindo três mulheres, e a missão obrigou a uma intensa preparação prévia.

“Tivemos que nos preparar, estudar as correntes, as profundidades e temperaturas da água. É uma zona por nós desconhecida, por isso teve de ser uma preparação cuidada, com uma preparação logística cuidada e com a aventura de o fazer pela primeira vez, traz uma alegria diferente a esta missão”, disse o comandante Taveira Pinto.

Além de Cabo Verde, esta missão levará o submarino “Arpão”, da classe Tridente, de 70 metros de comprimento, ainda ao Brasil, África do Sul, Angola e Marrocos, “contribuindo para o estreitamento das relações de cooperação militar e diplomáticas entre Portugal e cada um dos países visitados”.

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Segundo a Marinha portuguesa, a iniciativa “Mar Aberto” visa “desenvolver ações de cooperação bilateral e multilateral, e de presença e diplomacia naval, nomeadamente, no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Presenças Marítimas Coordenadas no Golfo da Guiné e Iniciativa ‘5+5 Defesa’, com Marrocos”.

Salienta ainda que as “características operacionais do submarino conferem-lhe a capacidade de efetuar patrulhas discretas em qualquer altura do ano e qualquer lugar, garantindo assim que as águas sob soberania ou jurisdição nacional, ou quaisquer outras onde seja requerida a sua presença, possam ter uma garantia extra de segurança da navegação”.