Dicen que nunca se rinde…

O verso do hino do Sevilha não se perde no meio da letra quando ganha expressão naquilo que os jogadores mostram em campo. Não se renderam quando estiveram a perder 2-0, em Old Trafford, e não se renderam quando, no Sanchéz Pizjuán, com tudo empatado tinham o lado vermelho e branco da cidade a torcer pela passagem às meias-finais da Liga Europa. Bruno Fernandes, suspenso, viu de fora a derrota por 3-0 do Manchester United e a consequente eliminação (5-2 no agregado). Uma equipa cheia de coração contra outra desprovida da sua alma. E que melhor podia pedir o treinador de 62 anos que orienta o Sevilha, José Luis Mendilibar, para a sua estreia em grandes competições europeias do que eliminar o Manchester United?

Na primeira mão, o Manchester United parece ter querido relembrar aos adeptos do futebol o porquê de gostarem tanto deste desporto e da sua imprevisibilidade, mas para bem dos red devils era necessário rescindir o contrato com os episódios inesperados. Afinal, sofrer dois golos nos instantes finais de um jogo que a equipa de Erik ten Hag teve controlado na grande maioria do tempo era pedir uma surpresa e mostrar ao Sevilha o caminho para lá dos quartos de final da Liga Europa que, devido à temporada dececionante na La Liga, deixaria os espanhóis a lamber os lábios.

O desnível que se sentia do ponto de vista do rendimento ao longo da época podia fazer pender o favoritismo para o Manchester United. No entanto, no contexto certo a perceção muda: na Liga Europa, tudo pode acontecer para o Sevilha. “Nesta competição, o Sevilha é o maior. Eles são melhores fora do que em casa. Vamos ver como recuperam os jogadores. O nome do rival não assusta, exceto quando estão no relvado. Enquanto isso, vamos pensar em nós mesmos e depois pensar neles”, disse José Luis Mendilibar que, quanto às hipóteses de seguir em frente, foi direto “50%”.

O treinador do Manchester United, Erik ten Hag, aproveitou para sacudir um pouco as responsabilidades da equipa no jogo. “A nossa organização em todo o campo é muito boa. Temos que atacar melhor contra o Sevilha . Estou confiante de que podemos marcar golos”. Com tudo empatado na eliminatória, estas palavras do técnico neerlandês tiveram o efeito inverso.

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Sabitzer que regressou ao onze após o bis na primeira mão, quase ficava arrumado para o resto do jogo. O central do Sevilha Marcão empurrou o austríaco e enviou-o para bem fora das quatro linhas, correndo o risco do Manchester United ficar ali encostado o resto do encontro tal o impacto do choque com os banco de apoio. Um episódio representativo do que se ia seguir.

Como cada um tem um lugar onde pertence, Sabitzer voltou às quatro linhas. No entanto, Maguire tentou ocupar zonas do terreno que não são para si. O central inglês, num ato mais solidário do que revelador do conhecimento das suas próprias capacidades, deu uma opção de passe nas costas da primeira linha de pressão do Sevilha e, devido ao mau posicionamento corporal e lentidão, foi um alvo fácil para os três jogadores que o pressionaram. A bola sobrou para En-Nesyri (8′) e, só com De Gea pela frente, fez o golo. O guarda-redes espanhol também teve responsabilidades, pois o passe vertical que direcionou a Maguire foi feito com o conhecimento de que o colega estava condicionado.

Manchester United sonhou que subiu dois degraus e quando acordou não tinha escada (e Bruno Fernandes atingiu números de Messi)

Diogo Dalot voltou a ocupar o lado esquerdo da defesa e, quando tentava proteger a baliza, tocou a bola com a mão. O seu compatriota, o árbitro Artur Soares Dias, não considerou existir motivo para marcar grande penalidade. A baliza do United continuava sem sossego. Mais um erro na primeira fase de construção levou Ocampos ao segundo golo do Sevilha, mas Acuña estava fora de jogo quando fez a assistência, logo o lance foi anulado.

Ao intervalo, Erik ten Hag fez uso do regressado Marcus Rashford. Se a substituição fez efeito ou não? Pelo menos, até Loïc Badé (47′) alargar a vantagem, não tinha, mas com o United a perder por dois, era bom que não demorasse muito a ter consequências positivas para os red devils. Nos cruzamentos, os andaluzes estavam imparáveis e voltaram a meter De Gea em apuros nos momentos seguintes com a bola a estar em cima da linha de golo em duas ocasiões.

De Gea, que na antevisão foi classificado pelo seu treinador como um “guarda-redes completo”, cometeu outro erro de todo o tamanho. Perante uma bola bombeada, tentou dominar, mas o que que conseguiu foi entregar a En-Nesyri (81′) o 3-0 final. O Sevilha avança assim para as meias-finais, onde vai encontrar a Juventus.