Jacob Stevens tinha 13 anos. Tomou cerca de seis vezes mais do que a dose recomendada de Benadryl, um conhecido anti-histamínico, e passou os últimos seis dias de vida em coma, internado num hospital de Columbus, no estado americano do Ohio.

Quando finalmente morreu, no passado dia 12 de abril, os pais contactaram os jornais locais e revelaram a causa de morte do filho: intoxicação motivada por um popular desafio da rede social TikTok, o “Benadryl Challenge”.

Jacob estava em casa com amigos, que o filmaram a fazer o desafio, que consiste em ingerir mais de uma dúzia de comprimidos, os suficientes até começarem a surgir alucinações. Também terão captado em vídeo as convulsões que o rapaz teve — a partir daí, foi um caos, com Jacob a ser levado de ambulância para o hospital, de onde nunca voltaria a sair.

“Não havia atividade cerebral, não havia nada ali. Disseram que podíamos mantê-lo ventilado, que ele podia ficar ali deitado, mas que nunca mais abriria os olhos, nunca mais respiraria, sorriria, andaria ou falaria”, contou o pai, Justin Stevens, à imprensa local. “Vou fazer tudo o que puder para garantir que outra criança não passe por isto”, acrescentou a avó do rapaz, Dianna Stevens.

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Foi exatamente para chamarem a atenção de pais e adolescentes de todo o mundo que os familiares de Jacob, que nem sequer é a primeira vítima mortal do desafio, fizeram questão de partilhar fotografias da criança, entubada, na cama do hospital. Para além de apelar a pais e educadores para que monitorizem a atividade dos filhos nas redes sociais, Justin Stevens revelou também está a trabalhar ativamente no sentido de impedir que medicamentos como o Benadryl sejam comprados por crianças. Já terá inclusivamente contactado os legisladores locais para pôr o processo em marcha, disse: “O meu objetivo de vida agora é fazer com que isso aconteça. Vou fazê-lo até ao dia da minha morte”.

Chloe Marie Phillips tinha 15 anos. Morreu em agosto de 2020, no estado americano do Oklahoma, depois de fazer o mesmo “desafio do Benadryl” — que meses antes já tinha levado à hospitalização de outros três adolescentes, no Texas. “Foi assustador. Ela não conseguia completar as frases, tinha alucinações. O ritmo cardíaco dela em repouso era de 199″, revelou uma mãe em comunicado.

“Grandes quantidades de Benadryl podem causar convulsões e, especialmente, problemas de coração. O coração tende a sair de ritmo e não bombeia o sangue eficazmente”, avisou na altura, através da imprensa local, Scott Schaeffer, então diretor do Centro de Informação de Venenos e Medicamentos do Oklahoma, deixando bem claro que o desafio poderia provocar danos “potencialmente fatais”.

Na altura, logo no verão de 2020, a Food and Drug Administration (FDA), o equivalente americano ao Infarmed, emitiu um aviso, em que explicava que tomar uma dose superior à recomendada de Benadryl “pode levar a graves problemas cardíacos, convulsões, coma, ou mesmo à morte”. Aconselhava ainda os pais a trancarem os medicamentos e tentava contextualizar a tendência: fechados em casa, por causa da pandemia de Covid-19, os adolescentes, aborrecidos por natureza, podiam sentir-se tentados a experimentar este tipo de medicamentos e de desafios.

Questionada também na altura, a empresa responsável pelo TikTok garantiu não ter conhecimento da trend mas assegurou a existência de mecanismos para policiar a plataforma e apagar o tipo de publicações em causa. “A segurança e bem-estar dos nossos utilizadores é a prioridade máxima do TikTok. Como deixamos claro nas nossas Diretrizes Comunitárias, não permitimos conteúdos que encorajem, promovam, ou glorifiquem desafios perigosos que possam levar a lesões. Embora não tenhamos visto esta tendência de conteúdos na nossa plataforma, removemos ativamente conteúdos que violam as nossas diretrizes e bloqueiam hashtags relacionados para desencorajar ainda mais a participação”, pode ler-se na resposta, enviada à americana Fast Company.

Agora, depois das notícias sobre a morte de Jacob Stevens, o TikTok voltou a ser contactado e, uma vez mais, respondeu através de um comunicado, em que reitera nunca ter detetado conteúdo associado ao desafio e ter bloqueado, há anos, os hashtags associados nas pesquisas.

“As nossas mais sinceras condolências vão para a família. No TikTok, proibimos e removemos estritamente conteúdos que promovam comportamentos perigosos com a segurança da nossa comunidade como uma prioridade. Nunca vimos este tipo de tendência de conteúdo na nossa plataforma e bloqueámos as pesquisas durante anos para ajudar a desencorajar o comportamento de imitadores”, pode ler-se no texto enviado às redações americanas.

O problema, explica o britânico Independent: como deixou de ser possível pesquisar por “Benadryl challenge”, os adolescentes adaptaram-se e criaram designações novas para a trend, que nunca terá deixado de existir mas que nos últimos meses parece ter ganho novo fôlego. Agora, como “bena challenge” ou “benary changle”.