O corpo do político espanhol José Antonio Primo de Rivera, uma das últimas figuras ligadas à ditadura de Francisco Franco ainda sepultadas em monumentos nacionais de Espanha, vai ser esta segunda-feira exumado da sua sepultura no monumento do Vale dos Caídos e trasladado para um cemitério comum.

Segundo o El Mundo, a trasladação vai ser feita de modo discreto: durante a madrugada e apenas na presença de um número limitado de pessoas, incluindo descendentes de Primo de Rivera e funcionários do monumento — ao contrário do que sucedeu com a exumação dos restos mortais do ditador Francisco Franco em outubro de 2019, transmitida em direto na televisão com a presença de centenas de pessoas.

A exumação de Primo de Rivera é feita ao abrigo da Lei da Memória Democrática, que proíbe todos os dirigentes associados ao golpe militar de 1936 contra o governo republicano — que deu origem à Guerra Civil Espanhola — de estarem sepultados em monumentos públicos que não sejam cemitérios convencionais.

José Antonio Primo de Rivera, filho do ditador espanhol Miguel Primo de Rivera (que implantou uma ditadura entre 1923 e 1930), foi o fundador da Falange Espanhola, movimento fascista nas origens do partido político de Francisco Franco, que assumiu a liderança do país sob regime ditatorial em 1936.

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Na aldeia do Vale dos Caídos, a exumação de Franco só tem uma resposta: “Deixem-me em paz”

Primo de Rivera morreu em novembro de 1936, na prisão de Alicante, por fuzilamento, condenado à morte por ter sido um dos instigadores do golpe militar de 18 de julho de 1936. Inicialmente enterrado numa vala comum em Alicante, Primo de Rivera foi trasladado para uma campa do cemitério de Alicante três anos depois; alguns meses depois, por decisão de Francisco Franco, foi mudado para o mosteiro do Escorial. Finalmente, em 1959, o ditador Franco determinou a trasladação de Primo de Rivera para o recém-construído memorial do Vale dos Caídos — o grande monumento erguido por Franco que ainda hoje é um dos símbolos daquele período da história de Espanha e onde o próprio ditador seria sepultado.

Agora, pela quarta vez, o corpo de José Antonio Primo de Rivera vai ser trasladado para o cemitério de Santo Isidro, em Madrid, onde, como explica o El Mundo, está enterrada a sua irmã e outros familiares.

A trasladação começa às 5h30 de segunda-feira, com a presença de apenas 80 pessoas. O processo deverá demorar algumas horas, uma vez que é necessário retirar a pesada laje que cobre o caixão e, depois, preencher a cova com placas de mármore. Toda a operação vai custar 8.630 euros.

Da parte da família de Primo de Rivera, são os sobrinhos — já que o político não teve filhos — a organizar a mudança para o cemitério de Santo Isidro. “A família considera-se obrigada a cumprir a vontade do nosso tio e a levar a cabo a exumação e correspondente sepultura dos seus restos mortais num cemitério sagrado de acordo com o rito católico”, diz um comunicado da família, citado pelo El Mundo. A lei permitiria que o corpo de Primo de Rivera fosse colocado no cemitério civil que existe nas proximidades da basílica do Vale dos Caídos — mas não se trata de um cemitério católico.

O governo espanhol ainda tem mais duas exumações a levar a cabo para que se cumpra integralmente a lei em causa: os líderes militares José Moscardó e Jaime Milans del Bosch, ambos enterrados no Alcácer de Toledo, um palácio que pertence ao Ministério da Defesa.