A Associação do Património e da População de Alfama, em Lisboa, vai realizar na terça-feira um cordão humano no Largo de São Miguel para apelar à Câmara Municipal para que haja reconstrução dos edifícios demolidos naquela zona da capital.

Em declarações à agência Lusa, a presidente da Associação do Património e da População de Alfama (APPA) explicou que o cordão humano visa pedir essa reconstrução sem descaracterizar o local, bem como a colocação dos imóveis no mercado de arrendamento, privilegiando o regresso dos moradores que foram despejados ao longo dos últimos anos.

Maria de Lurdes Pinheiro recordou que a Câmara Municipal de Lisboa quis construir no local o Museu Judaico (uma decisão entretanto alterada), tendo para o efeito sido despejados os moradores e demolidos prédios no Largo de São Miguel, na Rua de São Miguel e no Beco do Pocinho.

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“Na altura a associação apresentou uma ação judicial e ganhou. O acórdão do tribunal, em 2018, travou a construção naquele local do Museu Judaico. Depois recolhemos 1.500 assinaturas a exigir casas no Largo de São Miguel“, contou.

Cinco anos depois, segundo Maria de Lurdes Pinheiro, nada foi feito e no local continuam “as crateras” resultantes das demolições dos edifícios.

“O espaço está completamente degradado. Está tudo cheio de lixo. Uma vergonha. Por isso, e porque consideramos urgente reabilitar aquele espaço para trazer habitantes para Alfama, a associação decidiu realizar este cordão humano”, disse.

Na opinião de Maria de Lurdes Pinheiro, a decisão de construir habitação no Largo de São Miguel seria uma importante sinal de mudança.

“Por um lado, vai trazer habitantes para a Alfama; por outro, seria recuperado o Largo de São Roque, um dos mais bonitos de Lisboa, preservando-se a sua arquitetura e património”, concluiu.

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O cordão humano “Queremos casas no Largo de São Miguel!” está marcado para as 10h30.

Em outubro de 2017, a APPA apresentou uma providência cautelar que, em janeiro de 2018, obteve decisão desfavorável do Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa. Após recurso, um acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul deu razão à associação.

Em julho de 2018, o município anunciou ter recorrido desta decisão, que suspendeu a demolição de edifícios no Largo de São Miguel. Já em janeiro de 2019, o Supremo Tribunal Administrativo recusou o recurso interposto pela autarquia e manteve suspensa a construção do equipamento. Em dezembro de 2020, a Câmara de Lisboa aprovou a construção do Museu Judaico em Belém e a consequente revogação da instalação do equipamento em Alfama.

Intitulado de Tikvá, que significa esperança em hebraico, o museu vai situar-se em Belém, com uma área de construção bruta de 3.869 metros quadrados, e será desenvolvido pelo arquiteto Daniel Libeskind, que desenhou os museus judaicos de Berlim, São Francisco e Copenhaga, bem como os memoriais do Holocausto nos Países Baixos, no Canadá e nos Estados Unidos.

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