A enviada especial da ONU para o Haiti pediu esta quarta-feira o envio imediato de uma força internacional especializada para conter a escalada da violência de grupos armados e desenvolver a polícia mal equipada e com poucos agentes do país.

Contudo, apesar dos apelos, nenhum membro do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) mostrou interesse em liderar essa força. Maria Isabel Salvador, que foi nomeada para o cargo de enviada da ONU no mês passado, alertou que atrasos no envio dessa força podem levar a um aumento da insegurança em toda a região.

A representante da ONU disse ao Conselho de Segurança que a violência de gangues naquele que é o país mais pobre do hemisfério ocidental está a expandir-se a um ritmo alarmante em áreas anteriormente consideradas seguras dentro e fora da capital, Porto Príncipe.

Maria Isabel Salvador citou números da polícia e da ONU para ilustrar “o aumento chocante da criminalidade no Haiti”: incidentes criminais — que incluem homicídios, violações, sequestros e linchamentos — mais do que duplicaram para 1.647 no primeiro trimestre de 2023, face a 692 no mesmo período de 2022.

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A enviada destacou ser impossível avançar para as eleições no país sem que se restabeleça um mínimo de segurança.

Em declarações à imprensa, admitiu estar desapontada por nenhum país se ter oferecido para liderar uma força internacional desde que o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo urgente em outubro passado por ajuda externa, a pedido do próprio primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, e do Conselho de Ministros do país.

Na reunião do Conselho de Segurança desta quarta-feira, nem os Estados Unidos, que foram criticados por intervenções anteriores no Haiti, nem países como o Canadá, por exemplo, mostraram interesse em liderar tal força. Em vez disso, a comunidade internacional defendeu a imposição de sanções e o envio de equipamentos militares e outros recursos.

O vice-embaixador norte-americano, Jeffrey DeLaurentis, disse que o Governo de Joe Biden está “profundamente preocupado com o aumento da atividade violenta de gangues” e observou o pedido do Haiti por apoio internacional para enfrentar a violência e a insegurança.

“Os Estados Unidos continuam a trabalhar com um número crescente de parceiros internacionais para apoiar as necessidades urgentes de segurança no país”, disse o diplomata, acrescentando que o Conselho de Segurança precisa de fazer a sua parte, impondo sanções adicionais contra os haitianos que financiam e fomentam a violência.

O embaixador do Canadá na ONU, Robert Rae, também citou a importância das sanções como “uma ferramenta importante para quebrar o poder dos grupos armados”.

Rae disse que o Canadá está convencido de que é vital agir e declarou ao Conselho que o seu Governo decidiu aumentar o apoio para treino e novos equipamentos para a Força Policial Nacional do Haiti este ano.

Nem DeLaurentis, nem Rae, mencionaram contribuir para uma força internacional de estabilização.

Num relatório ao Conselho de Segurança esta semana, o secretário-geral pediu o envio imediato de uma força armada internacional ao Haiti para conter a escalada da violência de gangues e a pior crise de direitos humanos do país em décadas, alertando que a insegurança na capital “atingiu níveis comparável a países em conflito armado”.

A Força Policial Nacional do Haiti enfrenta ataques crescentes, mesmo com 22 agentes mortos por gangues este ano e com um número crescente de polícias a abandonar os seus postos, ausentes, reformando-se e, mais recentemente, candidatando-se a programas humanitários nos Estados Unidos, disse o relatório do chefe da ONU. Os programas estão abertos a haitianos que buscam refúgio seguro devido às condições do país.

Desde o homicídio do Presidente Jovenel Moise em julho de 2021, os grupos armados do Haiti tornaram-se mais poderosos e violentos. Em dezembro, a ONU estimou que gangues controlavam 60% da capital do país, mas a maioria das pessoas nas ruas de Porto Príncipe diz que esse número está próximo de 100%.

A agravar a guerra de gangues está a crise política do país: o Haiti foi destituído de todas as instituições democraticamente eleitas quando os mandatos dos 10 senadores restantes expiraram no início de janeiro.

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