O Giro d’Itália começava com um contrarrelógio que, não fosse o ritmo imposto nas pedaladas, demonstrativo do desejo dos corredores ficarem com a primeira camisola rosa da edição deste ano, parecia um passeio junto à praia. Terreno plano, água a engolir a costa e um percurso desenhado por uma ciclovia.

A velocidade média esperada, acima dos 50km/h, é que não era tão propícia ao lazer e tão pouco o vento lateral. No entanto, as maiores dificuldades estavam no fim. Como se os pneus das bicicletas passassem a rodar sobre areia, os últimos três dos 19,6 quilómetros reservavam para o fim um desnível médio de 5,4% e um pico de 8%, o que deixava antever que seria a zona do percurso entre Fossacesia Marina e Ortona que maior diferença marcaria nos tempos.

“Vai ser um Giro dos diabos…”, antevia João Almeida no Observador. “Acho que estar no pódio é sinal que estamos na luta pela vitória mas gosto de ter os pés bem assentes na terra por isso vamos só dizer candidato ao pódio…”. Depois de um bom arranque de 2023, o ciclista luso geria as expectativas para o início de uma prova na qual demonstra ter particular aptidão para conseguir bons resultados. Depois do quarto lugar em 2020 e do sexto em 2021, João Almeida revelou estar pronto para voltar a atacar os lugares cimeiros.

“Giro? Estar no pódio é sinal que estamos na luta pela vitória mas vamos só dizer candidato ao pódio…”: entrevista a João Almeida

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No contrarrelógio inaugural, o primeiro de três que fazem parte das 21 etapas do Giro, João Almeida tinha um trabalho a solo, para não deixar os grandes favoritos partirem em vantagem. Ainda assim, o corredor admitiu que se sente suportado pela equipa, a UAE Team Emirates (sem Tadej Pogačar), para as etapas em linha. “Claramente que sem uma equipa um corredor não consegue ganhar.

Os companheiros de equipa são essenciais todos os dias e sem uma equipa nem mesmo o melhor corredor consegue vencer. É essencial ter uma boa equipa mas também se pode ter uma equipa excelente que depois não corresponda de forma física, o que não dá para vencer. São as duas coisas: primeiro ter uma boa equipa, depois ter as pernas para conseguir andar sempre com os melhores”.

O nome de João Almeida não era dos mais citados como possível vencedor do contrarrelógio. Primož Roglic (Jumbo-Visma) e Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step) pareciam mais bem posicionados para vincarem o favoritismo à vitória na geral logo desde início. Existia, também, muita expectativa para ver o que o corredor da casa, o italiano Filippo Ganna (Ineos Grenadiers), podia fazer. Todos estes nomes partiram praticamente de forma consecutiva.

Laurens Huys (Intermarché-Circus-Wanty) foi o primeiro a partir. Os ciclistas melhor classificados rodavam na ordem dos 22 minutos. Enquanto João Almeida aquecia, Brandon McNulty, também ele da UAE Team Emirates, ocupou a cadeira do líder. Tao Geoghegan Hart (Ineos Grenadiers) foi o primeiro a conseguir baixar o tempo de referência para a casa dos 21 minutos.

João Almeida saiu para a estrada e impôs um bom ritmo no percurso. No final, o tempo de 21′ 47” valeu-lhe a liderança provisória. Faltava muita gente de qualidade sair, mas ninguém podia tirar ao português o entusiasmo crescente a cada corredor que chegava à meta com um tempo mais lento do que o seu.

Logo a seguir ao ciclista das Caldas da Rainha, Evenepoel, Roglič, Küng e Ganna iniciaram a prova. Estavam ali as maiores ameaças ao lugar do corredor da UAE Team Emirates. Um desempenho poderoso de Evenepoel (21′ 18”) retirou 29 segundos à marca de João Almeida e Ganna (21′ 40”) também superou o português.

O belga tornou-se, assim, o primeiro a usar o rosa e, pelo domínio que impôs, quem sabe se já não encontrou o que vestir até final de maio.