A SEDES defendeu esta segunda-feira que Portugal não tem um défice hídrico, mas um problema de distribuição, pedindo a conclusão dos planos de eficiência, o aumento das reservas, bem como a possibilidade de transferência de água de norte para sul.
“Se é verdade que, no sul, a precipitação anual tem sido mais reduzida, não é menos verdade que os fenómenos extremos de precipitação também acontecem – exemplo do que se passou no outono de 2022 -, e que a norte do Tejo os recursos hídricos são relativamente abundantes”, lê-se numa nota da SEDES enviada à Lusa.
Assim, para esta associação, Portugal “não tem um défice hídrico”, mas antes um problema de distribuição hídrica. Conforme apontou, no sul existem bons solos, parcelas agrícolas maiores, mas não existe água. Já a norte, os terrenos são menos aptos para a produção agrícola, com parcelas mais pequenas e água em abundância.
“É, por isso, urgente pôr em prática as soluções já estudadas e identificadas para que Portugal fique preparado para enfrentar estes fenómenos climáticos, evitar a desertificação de algumas zonas, fixar as populações nestas regiões e manter a coesão territorial”, defendeu.
A SEDES disse ainda ser importante concluir, “o mais rapidamente possível”, os planos de eficiência hídrica e os pactos de água já em estudo, de modo a tomar medidas adequadas à gestão da água. Paralelamente, há que ajustar as disponibilidades às necessidades, “do consumo humano à indústria, passando pelo turismo, pela agricultura ou até pelas novas fontes de energia”.
Esta associação considerou ser “absolutamente essencial” o aumento das reservas de água a sul, vincando ser necessárias mais barragens e charcas.
“O país tem em escorrências cerca de 47.000 h3 [hectolitros cúbicos] e o consumo total anual de todas as atividades é de cerca de 5.900 h3. 1% desta água dá para regar 100 mil ha [hectares], é fácil entender o quanto é desperdiçado para o mar“, apontou, lembrando que o Alqueva é a prova de uma “abordagem séria e estratégica” de armazenamento de água.
Outra solução é a possibilidade de transferir água de norte para a sul, “integrando as bacias hidrográficas do Douro, do Tejo, do Guadiana e do Sado, trazendo água do Minho para o Algarve, numa verdadeira ‘autoestrada’ da água”, acrescentou.
A associação pede assim “um verdadeiro empenho e vontade política” para resolver o problema dos recursos hídricos, em nome do interesse nacional.
A SEDES é uma associação cívica, constituída em 1970, com 17 distritais em Portugal, que tem observatórios dedicados a temas como Agricultura, Cultura e Comunicação Social, Justiça, Saúde ou Políticas Económicas.
O Ministério da Agricultura e da Alimentação, tutelado por Maria do Céu Antunes, reconheceu esta segunda-feira a situação de seca severa e extrema em cerca de 40% do território nacional. O ministério garantiu ter sinalizado a situação, na semana passada, junto da Comissão Europeia, acrescentando que a adoção de um conjunto de medidas está sempre dependente da “luz verde” de Bruxelas.
De acordo com o índice “PDSI – Palmer Drought Severity Index”, citado pelo Governo, no final de abril, verificaram-se 40 municípios na classe de seca severa e 27 em seca extrema, o que corresponde a cerca de 40% do território. Para isto contribuíram as temperaturas “acima do normal”, as ondas de calor e a reduzida precipitação em março e abril.