Ao contrário do que tem sido dito para Diogo Lacerda Machado a manutenção no Brasil não foi um sorvedor de dinheiro. Aliás, para o advogado que foi administrador da TAP entre 2018 e 2021 o Brasil “foi de longe o melhor investimento que a TAP fez em 50 anos”.
Na sua opinião, “foi o investimento no Brasil que viabilizou a sustentabilidade da TAP e contribuiu para a criação do hub de Lisboa”, declarou na comissão da Economia e Obras Públicas, esta terça-feira 9 de maio no Parlamento. Diogo Lacerda Machado vai voltar à Assembleia da República na quinta-feira para a comissão de inquérito.
Lacerda Machado sem poupar nas palavras diz mesmo que “há uma perspetiva imbecil sobre o negócio de manutenção do Brasil”, realçando que “o investimento feito no Brasil é aquilo que permite que a TAP ainda hoje exista. Foi o melhor investimento em 50 anos”. E até cita um artigo de opinião de Sérgio Palma Brito, no Público — de quem diz que é um feroz crítico do que acontece na companhia e “um senhor tudo menos simpático para a TAP” — , no qual diz que sem esse acordo a TAP não seria o que é hoje.
O advogado garante que o investimento feito para “tentar salvar a Varig” foi financiado pelo BNDES (o banco de fomento do Brasil) e a Geocapital, da qual era, então consultor, financiou em 21 milhões de euros e, garante Lacerda Machado, “não ganhou prémio nenhum”. Passou para a TAP “ao cêntimo os encargos financeiros da mobilização dos fundos”.
A TAP ainda ganhou uma mais-valia de 7 milhões de dólares com a revenda a um fundo norte-americano da Varilog, empresa de logística da Varig.
Além disso, Lacerda Machado não tem dúvidas de que o investimento na manutenção da Varig “abriu o Brasil à TAP e construiu para a criação do hub de lisboa, gerou quota anormal no Brasil”, e foi essa aquisição que alavancou tudo isso, no seu entender. “Definitivamente, se não houvesse investimento no Brasil não havia possivelmente TAP. Viveu do Brasil e dos bancos portugueses, não podendo continuar a financiar a TAP. Era essa a razão da profunda agonia da TAP, justificava a privatização mas não aquela”. Aliás, diz mesmo que os chineses da HNA, que acabaram por falir, a determinada altura terão mostrado interesse pela VEM Brasil, pela qual estariam dispostos a pagar entre 450 e 500 milhões.
Quando a VEM foi comprada tinha 4500 trabalhadores, quando deixou tinha 780. E lembra que a manutenção no Brasil teve resultado operacional positivo em 2019. “Foi dificílimo restruturá-la”, assume.
“Resultados positivos? Não encontro nenhuns”, diz Bruno Dias que elenca os prejuízos acumulados até 2019 e um passivo a descoberto de 1,5 mil milhões de euros em 2019. Não pondo em causa o papel “estratégico” da VEM para abrir o mercado do Brasil à TAP, o deputado do PCP diz que a manutenção do Brasil teve um maior peso na ajuda pública de 3,2 mil milhões de euros do que a pandemia.
Lacerda Machado considera que grande parte das perdas acumuladas tinham que ver com contingências fiscais e laborais. Contingências relacionadas com processos, muitos das quais iam cair por prescrições e resultados favoráveis.
A manutenção no Brasil custou 450 milhões, os outros valores eram as tais contingências que têm estado a ser anuladas porque não se verificaram. “Levou muito tempo? Levou, mas se não fosse investimento feito do Brasil provavelmente a TAP não existia”, reafirma. Para calcular que “este investimento feito no Brasil tanto quanto eu consigo calcular gerou 10 a 12 mil milhões de receita para a TAP”.