No início da pandemia, em 2020, os agregados mais pobres receberam, em média, mais do que a população geral se tivermos em conta todos os apoios atribuídos. Mas se afunilarmos só nos apoios dirigidos à famílias, crianças e habitação, os mais pobres saíram a perder: ao quartil dos mais ricos foi mesmo atribuído um valor maior deste tipo de apoio (518,1 euros, em média) do que ao quartil mais pobre (471,3 euros).
Os dados constam no relatório “Portugal, Balanço Social 2022”, da Fundação La Caixa, do BPI e da Nova SBE, divulgado esta terça-feira. Segundo o documento, juntando todos os apoios atribuídos em 2020, no âmbito da pandemia, o valor médio para as famílias mais pobres foi de 1.012,8 euros, superior à média da população geral, de 987,5 euros.
Mas é quando se desagrega que se encontram algumas diferenças. Nos apoios destinados à “família, crianças e habitação”, as famílias pobres receberam, em média, 448,8 euros, enquanto à população total, em média, foram atribuídos 606,8 euros.
O estudo faz uma desagregação ainda mais fina, por quartil de rendimento. E conclui: “como a desagregação por quartil de rendimento demonstra, as famílias mais ricas (Q4), receberam um valor médio de apoios superior às famílias mais pobres (Q1), 518,1 euros e 471,3 euros, respetivamente”. Ou seja, os 25% mais ricos receberam, na rubrica dos apoios à “família, crianças e habitação” mais 46,8 euros do que os 25% mais pobres.
Os dados mostram ainda que, em 2020, 13% população total recebeu pelo menos um apoio, ligeiramente abaixo dos 13,8% da população pobre. Numa análise por quartil de rendimento, conclui-se que “foram as famílias mais pobres (Q1) que menos frequentemente receberam apoio financeiro no âmbito da pandemia”.
Esta análise muda se olharmos apenas para os agregados que reportaram reduções de rendimento em 2020. Nesses casos, o quartil dos mais ricos recebeu menos (686 euros) do que o quartil dos mais pobres (826 euros) nos apoios destinados à “família, crianças e habitação”.
Os dados dizem respeito a 2020 e podem mostrar que os apoios da pandemia começaram por ser mais generalizados numa primeira fase, para responder ao choque inicial, tornando-se só mais tarde mais direcionados aos mais necessitados.
As famílias com crianças receberam apoios mais frequentemente — 34,7%, o que compara com 14,8% para as famílias sem crianças. Em termos gerais, os apoios dirigidos a trabalhadores por conta própria foram os mais comuns entre os mais pobres (7,8%), mais 4,2 pontos percentuais do que a população total. Já os apoios dirigidos a trabalhadores por conta de outrem, incluindo o layoff simplificado, foram mais comuns entre a população total (6,2%) do que entre os pobres (3,1%).
“Os reformados e as pessoas com intensidade laboral muito baixa são os que menos frequentemente receberam pelo menos um apoio (7,6% e 7,5%, respetivamente)”, revela ainda o estudo.