O empresário Roman Abramovich terá ocultado 760 milhões de libras (cerca de 874 milhões de euros) num novelo de estruturas offshore, num curto período de tempo entre a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, e as sanções executadas pelo governo britânico a 10 de março, que se traduziram no congelamento de milhares de milhões de euros, segundo uma investigação do jornal Público.

A operação foi confirmada numa circular do ministério dos Negócios Estrangeiros britânico datada de 12 de abril. Neste documento é também referenciado um cidadão cipriota que trabalhou com Abramovich nas últimas décadas, Demetris Ioannides, e que será o “responsável pela criação das estruturas offshore obscuras” para o empresário russo esconder a fortuna, cita o Público. Ioannides passou a constar da lista de sancionados pelo governo britânico desde o passado mês de abril por ser considerado “facilitador de oligarcas”, refere o jornal.

Abramovich, é apenas um dos oligarcas que procurou proteger a sua fortuna das sanções através de offshores e outros meios. Os bens do milionário estarão também a ser escrutinados na Suíça, uma vez que o Credit Suisse, que está a passar por uma grave crise, terá emprestado centenas de milhões de euros a empresas offshore de Abramovich, segundo documentos provenientes de fugas de informação. Nos Estados Unidos, o empresário russo, israelita e português não está na lista de sancionados, mas o seu nome consta na “Lista do Kremlin” do departamento do Tesouro.

Cidadania portuguesa em apenas dois meses

O Público revela também na sua edição desta quarta-feira que Roman Abramovich tem nacionalidade portuguesa desde 30 de abril de 2021 e passaporte desde setembro desse mesmo ano, cinco meses antes do início da guerra, o que lhe permite viajar para 188 países, entre eles os da União Europeia. Segundo o jornal, o processo de obtenção da cidadania portuguesa demorou apenas dois meses e teve uma rapidez fora do habitual. De acordo com a primeira investigação, o empresário e a sua família terão uma fortuna avaliada em cerca de 5,5 mil milhões de euros, tornando-o o português mais rico do mundo.

A Conservatória dos Registos Centrais (CRC), que trata do processo, tem obrigatoriamente de pedir “informações necessárias” à Polícia Judiciária e ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Ambos têm de responder num prazo de 30 dias que se pode prolongar para o dobro, mas neste caso a PJ terá dado o seu parecer no dia após a abertura do processo na CRC, segundo a investigação do jornal, enquanto o do SEF chegou mais de um mês depois. O processo requer também uma certificação do cidadão como descendente de judeus sefarditas, que só pode ser concedida pelas Comunidades Israelitas do Porto e de Lisboa. Foi a CIP do Porto que concedeu a certificação a Abramovich bem como a outros oligarcas.

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