Tudo o que se passou no Ministério das Infraestruturas, na noite de 26 de abril, e todos os detalhes que têm vindo a público nas audições da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão política da TAP têm impacto sobre o Governo e sobre o país. É preciso avaliar tudo o que aconteceu, dentro do próprio Executivo, mas esta não é a principal preocupação da equipa ministerial de António Costa. As palavras são de Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, em entrevista à CNN Portugal, transmitida nesta sexta-feira à noite.

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“É evidente que tudo o que aconteceu tem impacto”, disse Mariana Vieira da Silva quando questionada sobre o episódio passado no interior do ministério de João Galamba, que envolveu vários membros da sua equipa. “O primeiro-ministro não utiliza adjetivos como ‘deplorável’ sem ser por ter absoluta consciência do impacto”, acrescentou a ministra.

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No entanto, garantiu que esse “não é o centro da preocupação” do Governo. Vieira da Silva frisou que o Executivo está concentrado em resolver os problemas de Portugal e dos portugueses, referindo-se, por exemplo, à subida da inflação.

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“Com certeza que não é normal”

Mariana Viera da Silva falou então do normal funcionamento das instituições, esclarecendo o que, na sua opinião, isso significa. “O que mais protege as instituições é que a Comissão Parlamentar de Inquérito apure o que tem de apurar, que a Assembleia da República faça o seu escrutínio”, enquanto o Governo “dedica toda a sua energia a resolver os problemas dos portugueses”.

Questionada sobre o episódio que envolveu a saída do computador de Frederico Pinheiro, antigo adjunto de Galamba, do ministério que este lidera, Vieira da Silva não tentou desvalorizá-lo. “Com certeza que não é normal” a situação vivida na noite de 26 de abril, mas, acrescentou, é para isso que existe a justiça, as autoridades e a própria CPI.

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E por não ser “normal” o episódio de 26 de abril — em que há várias acusações de agressões físicas mútuas — “há uma avaliação que o próprio Governo que tem de fazer”, disse Vieira da Silva. Remodelação? Sobre isso, a ministra da Presidência foi clara: é a António Costa que cabe tomar essas decisões.

A governante frisou ainda que a CPI foi criada para avaliar a gestão política da TAP e não é isso que tem acontecido. “O tema que tem preenchido a agenda política mediática foi o que aconteceu a 26 de abril.” Por isso, diz que nada fará para “acicatar ânimos”, cabendo-lhe contribuir para a serenidade do país.

Ainda sobre a condução dos trabalhos da comissão de inquérito, Vieira da Silva considerou que “não é no final de cada ronda que devemos tirar conclusões”, devendo esperar-se pelo final dos trabalhos para fazê-lo.

Sobre a eventual ida do primeiro-ministro à comissão — que tem o chumbo da maioria do PS garantido —, a ministra da Presidência afirmou que essa é uma decisão que cabe à Assembleia. Apesar disso, frisou que quem é chamado deve ser porque esteve, de alguma forma, envolvido nos factos e pode esclarecê-los. Se António Costa não teve “participação direta” nos factos, então “não há razão para ser ouvido”.

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O reporte foi feito a quem tinha de ser feito, diz ministra

Questionada sobre o envolvimento do SIS e do SIRP, a ministra da Presidência afirmou que “o reporte foi feito a quem tinha de ser feito”. Mariana da Silva exemplificou: se um membro do Governo perder o seu telemóvel, seja por que motivo for, tem de o reportar, já que pode conter informação sensível.

Sobre a forma como as autoridades atuaram, e questionada se as chefias deviam demitir-se, Vieira da Silva respondeu que “essa dimensão” não lhe cabe a si avaliar. Sobre a noite em questão, afirmou não ter sido contactada previamente, antes de SIS e SIRP serem envolvidos, embora tenha falado com João Galamba ainda nessa noite.

“Soube de um evento atípico” — disse — “e conversei com o ministro das Infraestruturas bastante mais tarde.” Na sua opinião, cabia à equipa de Galamba resolver o problema e foi isso que foi feito.

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Questionada sobre a tensão que existiu entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa — quando o Presidente da República considerou que Galamba devia ser demitido e o primeiro-ministro optou por mantê-lo no cargo — a governante desvalorizou.

“Essa dimensão que envolve o primeiro-ministro, o Presidente da República e o Governo ficou tratada lá atrás”, sublinhou Mariana Vieira da Silva, recordando que ambos falaram ao país e a situação está resolvida, apesar de ter havido divergências na forma de lidar com a questão.

Agora, é aguardar “com serenidade” que o trabalho da CPI chegue ao fim.