De olho nas quatro subidas — uma de primeira categoria e três de segunda — da etapa 15, entre Seregno e Bérgamo (195 km), o pelotão poupou-se no dia anterior e chegou mais de 20 minutos depois de Nico Denz, o vencedor da corrida. No meio do relaxamento dos candidatos à geral, Bruno Armirail tornou-se no novo camisola rosa com 1’41” de vantagem para o segundo classificado, Geraint Thomas. João Almeida caiu para quarto, mas sem perder tempo para os rivais diretos. “Não estava planeado, o objetivo era integrar a fuga e ganhar a etapa. Estava muito longe de imaginar que podia ficar com a camisa rosa”, explicou Bruno Armirail, da Groupama-FDJ.

Photo finish serviu de prova à vitória de Nico Denz. Armirail foi apanhado com a camisola rosa

Desta vez, a corrida servia para marcar diferenças entre os melhores, até porque esta segunda-feira é dia de descanso, uma folga que podia compensar algum esforço adicional que fosse gasto para conseguir distanciamentos. No entanto, toda a gente parece muito conservadora. As condições atmosféricas que inclusive levaram ao encurtamento da etapa 13 têm provocado dificuldades acrescidas aos ciclistas que, quer para se defenderem de quedas, quer para se salvaguardarem para a terceira semana do Giro, têm apostado na cautela.

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Um, dois, três, chegaram colados outra vez: João Almeida acaba com Thomas e Roglic numa etapa que ficou a menos de metade em tudo

Na possibilidade de existirem ataques, restava também saber quando é que chegariam. Oportunidades não faltavam. Logo ao quilómetro 47 estava o topo de Valico di Valcava que obrigava os corredores a despenderem energias valiosas que podiam ser usadas mais perto do fim. Em princípio, seria só isso. A seleção aconteceria mais à frente, principalmente na subida a Valpiana, a 20 quilómetros do fim da etapa.

Ficava também a dúvida se os dois sprints intermédios, que antecediam duas das subidas, podiam ter influência no posicionamento no pelotão das equipas dos primeiros classificados da geral ou se, por outro lado, visto que tinham de ser as equipas dos velocistas a trabalhar pela maglia ciclamino, ia permitir à INEOS Grenadiers, Jumbo-Visma e UAE Team Emirates pouparem esforços para momentos concretos das subidas. Ao mesmo tempo, também os interessados da camisola azul dos trepadores, que Pinot perdeu este sábado para Davide Bais, podiam criar algum tráfego que prejudicasse algumas estratégias.

Acontece que a fuga de 17 elementos foi muito numerosa para sobrar o que quer que fosse para o pelotão. Na primeira subida, Ben Healy somou, com uma luta ombro a ombro com Einer Rubio, 40 pontos para a classificação da montanha. O irlandês, que tem sido um dos corredores com mais destaque no Giro, tentou agitar a frente e abandonar a concorrência, ao mesmo tempo que, atrás, a Groupama-FDJ trabalhava para defender a camisola rosa de Armirail.

“Acho que é um bom dia para mim, mas também é um bom dia para os corredores da geral, vamos ver como corre. Prefiro sempre a fuga. Vamos ver como o meu corpo responde e espero que seja um bom dia para nós”, disse Healy antes de começar a pedalar. Poderá ou não existir uma relação direta entre a quantidade de corredores a integrar a fuga do Giro e a falta de proatividade dos candidatos. O certo é que integrar as fugas tem sido sinal de sucesso por não existir grande vontade das principais equipas de as anularem. Tendo em conta este comportamento, os underdogs têm tido oportunidade de vestir de rosa. Nesta lógica, Einer Rubio, que ninguém esperava que ameaçasse o primeiro lugar, seguia em condições de ter acesso ao topo da geral. O próprio ciclista da Movistar entendia isso, embora tenha começado a quebrar.

Pelo contrário, Healy atacou a sério. Brandon McNulty, colega de equipa de João Almeida, foi o principal perseguidor, sendo que também Marco Frigo reuniu esforços para alcançar o homem mais adiantado. Na descida, McNulty acabou mesmo por alcançar Healy. A dupla não colaborou o suficiente e Frigo também se juntou dentro dos dez quilómetros finais.

Num curto momento de subida, Ben Healy forçou o ritmo — ainda bem há alguém a dar espetáculo — e deixou, aparentemente, Frigo para trás. McNulty respondeu à altura. A descida até ao final permitiu ao italiano passar para a frente e, a pouco metros do fim, parecia mesmo que ia ganhar. Estavam criadas as condições para um sprint entre os três. McNulty acabou por ficar com o triunfo na etapa.

Encontrado que estava o vencedor do dia, as atenções viravam-se para o pelotão (quase sete minutos atrasado), onde João Almeida foi protagonista. O português atacou na subida final, mas a elevação foi demasiado curta para que Roglic, Thomas e Leknessund perdessem tempo. O ciclista UAE Team Emirates testou o pulso à concorrência e todos responderam bem. Fica para a imaginação o que poderia ter acontecido se a subida final fosse mais longa. Acabou por ser mais um dia que ficou a dever à ação.

Ao nível da geral, Armirail conseguiu manter a camisola rosa, mesmo que tenha chegado um pouco mais tarde que João Almeida e companhia limitada. Geraint Thomas diminuiu para 1’08” a distância para o francês, sendo que o português mantém o quarto lugar, mantendo a diferença para os rivais diretos.