A etapa 14 do Giro tinha a particularidade de ter ciclistas a quererem ganhá-la usando caminhos diferentes. Não que a ligação de 193 quilómetros entre Sierre (na Suíça) e Cassano Magnago tivesse alternativas ao percurso para os corredores chegarem ao fim. A nuance estava na forma como o queriam fazer. Uns, investidos na fuga; os outros a quererem uma chegada com o pelotão compacto para, nos metros finais, sprintarem até à meta.

Apesar de se tratar de uma das últimas etapas em ‘descanso ativo’ deste Giro, a chegada a Crans-Montana fez estragos na condição física dos ciclistas. Pascal Ackermann, o sprinter da UAE Team Emirates de João Almeida, admitiu que a equipa não ia participar na tentativa de anular uma eventual fuga, uma vez que o alemão não considerava estar capacitado para vencer. Primoz Roglic estava na mesma situação e foi perentório na resposta que deu à Eurosport em relação ao seu estado. Sente-se a 100%? “Não!”, evidenciou o segundo classificado, a dois segundos de Geraint Thomas. De olho na terceira semana e na vitória final, o esloveno pensa “dia a dia”.

Um, dois, três, chegaram colados outra vez: João Almeida acaba com Thomas e Roglic numa etapa que ficou a menos de metade em tudo

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Na possibilidade de uma chegada ao sprint, o maglia ciclamino, Jonathan Milan, era um nome a ter em conta para a vitória final, após a desistência de Mads Pedersen. Para isso, o italiano tinha que sobreviver à subida de primeira categoria que marcava o início da etapa. “Vamos ver como o Jonathan sobe ao longo do dia. Talvez consigamos a vitória na etapa com ele. Estou confiante na qualidade dele. Se ele gerir a energia dele no decurso da subida longa”, comentou o colega da Bahrain Victorious, Damiano Caruso.

Mesmo com a chuva, o pelotão, encabeçado pela INEOS Grenadiers, seguia a ritmo de passeio e a numerosa fuga começou a ganhar dimensão (6’40”). Na frente, Davide Bais tinha todo o interesse em integrar a fuga e, não tardou muito a chegar, em conjunto com Mirco Maestri, a alcançar os 27 elementos que seguiam em destaque. Assim, o homem da Eolo-Kometa, ao ser o primeiro a terminar a subida de primeira categoria, conquistou a liderança da montanha que pertencia a Thibaut Pinot e vai vestir de azul no domingo, naquela que será a corrida que antecede o último dia de descanso do Giro.

Quando faltavam 100 quilómetros para os primeiros ciclistas cortarem a meta, a fuga levava 9 minutos de vantagem em relação ao pelotão. Era de esperar que, mais tarde ou mais cedo, dada a heterogeneidade do grupo da fuga, começassem as movimentações. O pelotão estava definitivamente desinteressado em anular a distância para os líderes da etapa, preferindo poupar energias para o resto do Giro. Ainda com forças para utilizar, Davide Ballerini (Soudal-QuickStep), Stefano Oldani (Alpecin-Deceuninck), Laurenz Rex (Intermarché-Circus-Wanty) e Toms Skujins (Trek-Segafredo) tentaram atacaram, distanciando-se na frente.

Não faltaram mexidas para os apanharem. Oldani foi o mais empenhado em que isso não acontecesse, embora faltassem forças para evitar a morte na praia. Bettiol, Denz, Gee, Mayrhofer, Rex passaram por eles a toda a velocidade e decidiram ao sprint a vitória na corrida. Nico Denz acabou por ser o melhor na ponta final, tornando-se no primeiro ciclista a vencer duas etapas em linha no Giro (Evenepoel ficou em primeiro nos dois contrarrelógios realizados). A ilusão de ótica deixou dúvidas sobre se não teria sido Derek Gee a ganhar. O photo finish confirmou o triunfo do alemão.

O pelotão só chegou 21 minutos depois. Bruno Armirail (Groupama-FDJ), que terminou a prova 53 segundos após Denz, ascendeu ao topo da classificação geral, algo que parece não assustar os candidatos. João Almeida caiu para o quarto lugar, mas continua a 22 segundos de Thomas e a 20 de Roglic. O português permanece líder da camisola branca.