A Visabeira é, em consórcio com a portuguesa Sodecia, candidata à privatização da Efacec. As duas companhias uniram-se nesta segunda tentativa de venda lançada pelo Estado no final do ano passado e fizeram, já este ano, uma oferta vinculativa, que está a ser analisada pela Parpública que irá propor ao Governo o avanço da operação.
A escolha de um candidato mais bem posicionado já terá sido feita pela Parpública e, segundo o Expresso, já estará na mesa dos membros do Governo o relatório da empresa pública com a avaliação das quatro propostas hierarquizadas e com a indicação do primeiro classificado. Mas ainda não foi esta quinta-feira que o processo foi aprovado em Conselho de Ministros, já que não consta do comunicado com o resultado da reunião dos ministros.
Na lista final estão quatro candidatos: três fundos — Oxy Capital, Mutares e Oaktree — e o consórcio Visabeira/Sodecia.
Quatro candidatos à compra da Efacec apresentaram propostas vinculativas melhoradas
Ao Observador o presidente executivo da Visabeira, Nuno Terras Marques, não esconde a oferta feita, mas não revela pormenores. “Efetuámos uma oferta, mas neste momento é um processo que está do lado do Estado para análise, para decisão. Nós fizemos aquilo que é o nosso trabalho. Demonstrámos mais do que interesse, materializámos esse interesse numa oferta, consideramos e julgamos que somos um potencial candidato com valências para poder fazer o turnaround da empresa”. Assume que “fizemos uma proposta conjunta porque acreditámos que juntos poderíamos olhar para o todo e que juntos mitigávamos o risco das partes”.
Garante, no entanto, não conseguir contabilizar quanto é que terá de ser injetado na Efacec pelo novo acionista, nem quanto eventualmente o Estado pode perder. “Também não consigo dizer, porque tudo tem a ver com o momento. Aquilo que era há um mês é diferente deste mês”.
Quanto mais avançarmos nesta venda em piores condições é entregue a empresa? “Disso tenho zero dúvidas, porque de facto a empresa tem tentado sobreviver ao longo dos últimos anos. Não tem florescido, não tem implementado uma estratégia como uma empresa normal porque é uma empresa quase que em recuperação. Está ali ligada às máquinas”.
A situação financeira da Efacec é, assim, uma preocupação: “A empresa está numa situação extremamente debilitada”. Ainda assim, acredita que há futuro para a empresa: “Se não acreditássemos que fosse possível dar a volta à empresa não teríamos avançado com a proposta”, atira Nuno Terras Marques.
Tendo poucos fornecimentos diretos da Efacec, a Visabeira explica que, no entanto, muitos dos seus clientes são fornecidos pela empresa da Maia. E que se sente algumas dificuldades nesses fornecimentos. “A Efacec tem tido dificuldades na entrega de produtos, seja por constrangimentos na cadeia de abastecimento, seja por limitações de outra índole”. Mas Nuno Terras Marques acrescenta: “Mas não posso dar opiniões porque não estou dentro da empresa. Nós, apesar de estarmos no processo concursal para adquirir a companhia, não estamos no dia a dia da empresa, portanto há muita informação que nós não temos, há muita informação que não sabemos. E, de facto, a cada mês que passa a empresa tem evoluções mais negativas do que positivas, mas é mais um feeling meu, do que propriamente conhecimento específico, diário, do que vai evoluindo, porque nós não estamos a discutir com a Efacec em particular, estamos a discutir com o acionista da Efacec”.
Segundo avançou o Jornal de Negócios, um dos fundos pretende, mesmo, se vencer, avançar com um PER (Processo Especial de Revitalização) da Efacec. Questionado sobre se a Visabeira/Sodecia também tem na estratégia um PER, o mesmo responsável prefere não fazer qualquer comentário, já que “depende da situação da empresa, defende se formos escolhidos, depende da forma como formos escolhidos, e se formos escolhidos, depende da forma como vamos fazer a contratualização da aquisição da empresa. São situações que de facto não consigo dizer”.
E os projetos que a Efacec tem apoiados pelo PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) são determinantes? “Aquela empresa, sem investir naquilo que é a sua estratégia, na evolução tecnológica e na evolução dos seus produtos, é uma empresa que cristaliza, o conhecimento não se pode cristalizar, tem de evoluir. E tem estado, de alguma forma, cristalizada no tempo por essas mesmas dificuldades”.
Concorrer à Efacec é um favor? “Não. É um interesse estratégico empresarial da Visabeira”
A Visabeira surge agora nesta segunda tentativa de venda da Efacec. Mas não apareceu na primeira, que teve a DST como vencedora, mas que acabou por ser cancelada.
O que mudou para a Visabeira agora estar interessada e há um ano não estar? Nuno Terras Marques explica que “tem a ver com o momento da própria Visabeira. Tem a ver com aquilo que é o crescimento da Visabeira, tem a ver com aquilo que é a estratégia da Visabeira”.
E afasta que esteja relacionado com qualquer pedido do Governo para avançarem para a Efacec. “Não”, responde Nuno Terras Marques, garantindo que a candidatura à Efacec “é um interesse estratégico empresarial da Visabeira”, que “não se materializou há um ano. Não quer dizer que não se tivesse [o interesse]… mas não se materializou. Materializou-se desta vez porque, de facto, chegámos a um entendimento com outro grupo, também português, com um perfil similar ao da Visabeira, bastante internacional. Houve um alinhamento daquilo que é a estratégia, daquilo que era a visão, e portanto decidimos fazer uma oferta conjunta”.
A Visabeira é um grupo empresarial de Viseu, cujo principal acionista é o empresário Fernando Nunes. Tem vários negócios, sendo o maior o de construção de infraestruturas de energia e de telecomunicações. Mas também está ligada ao turismo. E foi a empresa que comprou a Vista Alegre Atlantis e salvou a Bordallo Pinheiro em 2008.
A história, a tecnologia e a insubstituível mão humana. Um dia na fábrica da Vista Alegre
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