O Livre manifestou-se esta quinta-feira solidário com o PS depois do protesto do Chega convocado como um “cerco” à sede socialista realizado este mês, com BE e PAN a lamentar o sucedido e a criticarem André Ventura.

No período de declarações políticas na Assembleia da República, o deputado único do Livre, Rui Tavares, recuou a 2016, a um debate realizado numa sede do seu partido, após a vitória de Donald Trump nas presidenciais dos Estados Unidos da América, que foi alvo de protestos no local por “um grupo de militantes de extrema-direita”.

O deputado fez depois a ponte com a manifestação convocada pelo Chega no passado dia 13 de maio que tencionava cercar a sede do PS, algo que acabou por não acontecer, juntando algumas centenas de pessoas que ficaram a alguns metros de distância do edifício.

“Não gostei de estar cercado na sede do meu partido, não gosto de ver outros partidos democráticos cercados nas suas sedes”, disse Rui Tavares, caracterizando, momentos depois, a manifestação do Chega como “um fracasso”.

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Tavares — que foi várias vezes aplaudido pela bancada socialista – salientou também que o parlamento “tem que ter um papel na defesa de deputados, e sobretudo deputadas que, foi noticiado e relatado, foram alvo de insultos neste parlamento”.

“E querer que essas deputadas, que possam ter sido alvo de insultos racistas ou misóginos, vão a uma comissão fazer queixa para depois se poder acionar qualquer coisa para as proteger, é como querer que o Livre na altura em que a sede foi cercada viesse fazer grandes parangonas nos jornais – não fizemos porque estávamos a falar em causa própria”, argumentou.

O deputado do Livre fazia referência a uma das conclusões que foi aceite de forma maioritária pelos partidos numa conferência de líderes, em 10 de maio, que decidiu incentivar qualquer parlamentar “que se sinta vítima de insultos, comportamentos agressivos, ou de qualquer outro modo, desrespeitosos da sua dignidade e direitos, a proceder à comunicação formal ao presidente do parlamento e/ou à 14.ª comissão [de Transparência e Estatuto dos Deputados]”.

O deputado do PS Pedro Delgado Alves agradeceu a Rui Tavares a solidariedade sobre “o putativo cerco que mais parecia uma fila para entrar no metro”, vincando que “há regras em democracia” e que no parlamento todos os deputados têm de se “sentir em casa”.

Delgado Alves salientou que “as ameaças, intimidação e violência são reais”, argumentando: “se assim é com quem até tem um estatuto de proteção legal e constitucional, perguntemo-nos como será com o casal de mulheres que dá um beijo em público, como será a mulher cigana sozinha à noite a caminho de casa por ruas esconsas e que não sabe o que está ao virar da esquina” ou com “um militante antirracista que tem uma t-shirt com uma mensagem muito clara”.

“Esses correm o risco na pele, nos seus ossos, que podem ser partidos, do seu sangue que pode ser derramado”, alertou, responsabilizando diretamente o Chega.

Tanto a deputada Joana Mortágua, do BE, como a deputada única do PAN, Inês Sousa Real, condenaram o protesto do Chega mas alertaram para as atuais condições socioeconómicas do país e a necessidade de resolver problemas, com a bloquista a questionar “se não é nas condições históricas a que nos trouxe o Governo do PS que se abrem o caminho dos populismos”.

Pelo Chega, o líder André Ventura lamentou que “um parlamento inteiro ataque um partido” e argumentou que “até hoje houve apenas um líder na câmara [parlamentar] que foi apedrejado diretamente à saída de um comício”, fazendo referência a um incidente que o envolveu nas presidenciais de 2021.

A bloquista Joana Mortágua pediu para que fosse distribuída uma notícia intitulada “‘Caixa de pastilhas atinge André Ventura em Setúbal’, apenas para fazer ver que há outra versão sobre esse apedrejamento”, respondeu, tendo Ventura argumentado que “basta ler os autos da polícia” desse dia para saber o que aconteceu.

Ao longo da tarde, os partidos fizeram várias declarações políticas, com o Chega a alertar para uma “degradação das instituições” ou o PCP a centrar a sua intervenção nos problemas do país, desde a habitação, saúde ou educação, dizendo que “o país empobrece, enquanto o Governo acena com resultados económicos que ninguém vê na sua vida”.

Já a IL pediu políticas centradas na primeira infância com o partido a defender uma “Provedora da Criança” ou a “inclusão das creches e da educação dos zero aos três anos na lei de bases do sistema educativo”.

O PAN criticou a falta de uma aposta “num plano de prevenção de resíduos” e anunciou que o partido vai apresentar propostas com o objetivo de dar resposta à questão da gestão de resíduos, afirmando que espera que “haja vontade política” para as acompanhar.