Podia haver alguma coisa estranha no dia em que tudo se decidia no Campeonato. Um golo do Santa Clara por exemplo, que conjugado com um golo do FC Porto colocaria de forma virtual os dragões na liderança da prova. No entanto, seria mesmo uma coisa estranha. Primeiro porque na Luz estavam em confronto primeiro e último classificado. Depois, porque seria uma contradição ao que aconteceu desde agosto. Não aconteceu. E o Benfica, ao ganhar na última jornada aos açorianos por claros 3-0, conseguiu cumprir toda a prova sempre no primeiro lugar – nas três rondas iniciais a par do FC Porto mas com vantagem no confronto entre golos marcados e sofridos, a partir daí numa posição isolada. De forma natural, sagrou-se campeão.

Schmidt tem um livro e deu-lhe o título no início da aventura: “Se amas futebol, amas [este] Benfica” (a crónica do jogo que deu campeão)

Apesar de alguns percalços nos dois últimos meses, entre as derrotas com FC Porto e Desp. Chaves, só com o empate em Alvalade é que o Benfica perdeu a oportunidade de superar a sua melhor pontuação de sempre numa só edição do Campeonato, acabando com menos um ponto do que o registo de 2015/16 quando o conjunto então comandado por Rui Vitória fez uma série de dez vitórias consecutivas até aos 88 pontos. Os 87 pontos somados igualaram o registo do último título dos encarnados com Bruno Lage em 2018/19.

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Ainda assim, a grande imagem de marca deste Benfica campeão acabou por ser o futebol ofensivo que Roger Schmidt conseguiu implementar nos encarnados – e que fez com que as redes sociais do clube falassem após o título em “Rogerball”. Há quase quatro décadas que as águias não terminavam uma temporada com uma média tão alta de golos, num total de 2,38 apenas superado pelos 2,64 da época de 1983/84 quando o sueco Sven-Goran Eriksson estava ao leme de uma equipa com Nené, Chalana, Manniche e companhia.

Em paralelo, e de acordo com os dados do Playmakerstats, há quatro épocas que o Benfica não conseguia um total de golos acima dos 130, sendo o equivalente ao segundo melhor registo em quase seis décadas do clube encarnado com 131 golos em 55 jogos contra 140 golos em 60 jogos com Bruno Lage em 2018/19. Contas feitas, ficam os números de uma equipa que teria de ser de forma inevitável campeã perante tudo o que conseguiu atingir: mais pontos, mais vitórias, menos empates, menos derrotas, melhor ataque, melhor defesa, mais goleadas e o primeiro lugar quatro anos depois que valeu o 38.º Campeonato do Benfica.

“Não consigo descrever… É uma mistura de grande felicidade, tenho um orgulho de fazer parte do Benfica e um grande alívio para ser sincero porque foi uma viagem muito longa e foi com grande esforço que chegamos aqui, desde que começamos no verão passado o objetivo era voltar a ser campeão. Sabíamos que o Benfica não vencia troféus há quatro anos e sabíamos que a nação benfiquista queria uma época bem sucedida. Foi uma grande motivação para nós, uma luta difícil. Precisámos de 87 pontos para ser campeões, é muito. Só o conseguimos na última jornada, estamos muito contentes, estou muito feliz pelos meus jogadores, pelo pessoal todo porque todos se empenharam a fundo esta temporada, vejo todos os dias como trabalham, tentaram tudo para ser a melhor equipa de Portugal”, comentou Roger Schmidt.

“Tinha esperanças de conseguir trazer a esta nau a bom porto, estávamos pressionados para vencer e mostrar uma boa atitude e acabamos por vencer. Ao fim de 34 jornadas quem tem mais pontos merece ser campeão. Não foi só o facto de sermos campeões mas a forma como fomos campeões, jogámos um bom futebol, um futebol de ataque. Um pouco segundo a filosofia do Benfica, temos no historial jogadores como Eusébio e Chalana, quem os viu jogar sabe que tentavam sempre entusiasmar os adeptos e jogavam por troféus. Esta temporada conseguimos ter essa recompensa com o troféu hoje”, acrescentou.