O secretário-geral do PCP defendeu este domingo na Suíça que a emigração deve ser um “direito, mas não uma obrigação”, lamentando que Portugal feche “portas às aspirações” e apelou a que se “criem condições” para quem quer regressar.
Naquela que, segundo disse, foi a sua “primeira participação enquanto secretário-geral do PCP numa iniciativa no setor da emigração”, Paulo Raimundo esteve na comuna de Échallens, perto da cidade de Lausana, para participar na Festa Nacional do PCP na Suíça.
Discursando perante militantes do partido, o secretário-geral do PCP defendeu que “emigrar é um direito, mas um direito não é uma obrigação e não pode ser a última escolha para quem não consegue, no seu país, concretizar a sua vida e os seus objetivos”.
“A emigração leva muitos portugueses a sair do seu país, (…) porque o nosso país fecha as portas às aspirações de quem quer lá viver e trabalhar, por via do desemprego, da precariedade, dos baixos salários, da exploração e empobrecimento, da falta de perspetivas profissionais e pessoais”, lamentou.
PCP defende urgência em “quebrar barreiras” no acesso à justiça
Segundo Paulo Raimundo, uma das questões que tem sido “muito visível” nas últimas gerações de emigrantes, é a saída de jovens de Portugal devido ao “problema da estabilidade laboral e, acima de tudo, dos salários”.
“Nós enfrentamos em Portugal um problema que é uma emergência nacional, que é a necessidade do aumento geral dos salários, porque só os salários dignos permitem uma vida digna”, salientou.
O líder do PCP considerou que se assiste em Portugal a um “ataque brutal aos direitos e salários, com três milhões de trabalhadores – 70% de toda a mão-de-obra – a ganhar menos ou até mil euros brutos de salário por mês”.
Enquanto isto acontece, disse Paulo Raimundo, os “principais grupos económicos” estão a ganhar “milhões de euros de lucros por dia” e “os 5% mais ricos de Portugal estão a concentrar nas suas mãos, nos seus bolsos, carteiras e cofres, 42% de toda a riqueza criada por quem trabalha”.
“Isto não pode continuar desta maneira: uma situação de profunda desigualdade e injustiça, de empobrecimento da grande maioria do nosso povo, enquanto uma pequena minoria se vai enchendo à custa do empobrecimento da maioria”, disse.
Paulo Raimundo defendeu que “Portugal não é pobre, tem é sido, ao longo dos anos, profundamente empobrecido e roubado” e salientou que o PCP apresenta “propostas e alternativas” tanto a nível interno, como também para as comunidades portuguesas fora do país.
Entre as propostas elencadas pelo secretário-geral do PCP para o setor da emigração, Paulo Raimundo sustentou em particular que é necessário “criar condições para que aqueles que entendam regressar a Portugal”, o possam fazer.
“Isso não se resolve por retórica, resolve-se com medidas concretas, coisa que estamos ainda muito longe que aconteça”, vincou. Por outro lado, Paulo Raimundo referiu também que o PCP defende “serviços consulares de maior proximidade”.
“Estamos profundamente contra tudo o que seja encerramento de serviços e empurrar para distâncias de quilómetros e quilómetros, independentemente da geografia do país, os serviços consulares dos emigrantes”, disse. O secretário-geral do PCP defendeu ainda que se deve garantir a “gratuitidade no acesso ao ensino do português”, assim como a “contratação de mais portugueses para o ensino da língua”.
“Defendemos a isenção de propinas para o ensino básico em português e a gratuitidade dos manuais escolares tal como acontece hoje em Portugal”, referiu.
O líder do PCP sustentou que, “para dar respostas a estes problemas concretos que enfrentam os emigrantes, mas também para dar respostas aos problemas que se enfrentam em Portugal, é preciso uma rutura com a política de direita” que se vive no país.
“Em Portugal, não há só o lamaçal que existe nas televisões, não há só os desonestos e os que fazem as negociatas como aparecem nas televisões. Não, Portugal, tem gente séria, empenhada, honesta e que vai pôr o país a andar para a frente”, sublinhou.