Já tinham encontrado uma fralda usada, a tampa de um biberão, uma toalha e umas sapatilhas azuis que, determinaram com a ajuda do pai, pertenceriam a Noriel, de 4 anos. Agora, as Forças Militares da Colômbia acharam frutos meio comidos e pegadas que acreditam pertencer a Lesly, de 13, a mais velha dos quatro irmãos que estão desaparecidos há praticamente um mês na selva do país, e reforçaram a tese de que os menores não apenas terão sobrevivido ao acidente de avião que os deixou órfãos de mãe, como continuarão, 30 dias depois, vivos, algures no meio da Amazónia colombiana.
“As crianças estão vivas”, garantiu esta terça-feira o general Pedro Sánchez, que lidera a operação de busca e salvamento, que reúne 150 comandos especiais e 90 indígenas e recebeu o apropriado nome de “Esperança”.
Em primeiro lugar, se os irmãos estivessem mortos, disse, “teria sido mais fácil encontrá-los, porque estariam estáticos e os cães de busca tê-los-iam detetado pelo cheiro”. Mas, para lá da lógica, há outros indícios que consubstanciam a teoria: “Encontrámos provas e corroborámo-las com GPS, como quando encontrámos as duas fraldas, uma delas usada, que passámos a cem metros delas. Mas ali, a 20 metros de distância, não se vê nada”, explicou à imprensa colombiana.
#EsNoticia | Una nueva pista sobre el posible paradero de los cuatro menores desaparecidos, fue hallada una huella sobre el terreno fangoso que al parecer pertenecería a Lesly, la niña de 13 años.(1) pic.twitter.com/6pqg0UNOmZ
— Fuerzas Militares de Colombia (@FuerzasMilCol) May 30, 2023
Faz esta quinta-feira um mês que o Cessna em que seguiam com a mãe, em direção a San José Del Guaviare, cidade a cerca de 400 quilómetros de Bogotá, onde o pai se tinha refugiado depois de alegadamente ser ameaçado por guerrilheiros, se despenhou. Tanto ela como o piloto e o co-piloto morreram, mas quando as equipas de salvamento chegaram ao local não encontraram nem rasto das quatro crianças da família Ranoque Mucutuy. Desde então que as autoridades procuram Lesly, 13 anos, Soleiny, 9, Noriel, 4, e Cristian, a bebé de apenas 11 meses, que entretanto completou o primeiro ano de vida na passada sexta-feira, dia 26 de maio.
As buscas estão a decorrer numa área de cerca de 323 quilómetros quadrados, ao longo das margens do rio Apapóris, onde além de jaguares, pumas, cobras e outros animais selvagens, há também guerrilheiros armados e cartéis de narcotraficantes — “A primeira estrutura do grupo narcocriminoso ‘Iván Mordisco’ está ativa ali”, detalhou Pedro Sánchez, citado pelo espanhol ABC. Por muito que reconheça os riscos acrescidos, o general acredita ainda assim que as crianças não terão sido capturadas.
A família diz que Lesly, a mais velha das quatro crianças, da etnia Huitoto, tem “uma grande habilidade” para se deslocar pela selva — e logo nos primeiros dias, as equipas de busca encontraram de facto um “abrigo improvisado feito de paus e galhos”.
Para além dos frutos e raízes comestíveis que a flora oferece — e a que as crianças estarão a recorrer para se alimentarem, acreditam as autoridades —, foi despejada na zona uma centena de kits de sobrevivência, com água, comida e soro.
Agora, é preciso que os irmãos parem de andar (ou de se esconder) para que possam ser encontrados. Com o pai a acompanhar as buscas no local, coube à avó fazer uma gravação, que vai atroando em loop o silêncio da selva, em espanhol e no dialeto Huitoto: “Filha, agradeço que estejas quieta e parada, escutem o microfone. Filha, fica parada aí. Para que eles te encontrem”.
É uma tentativa desesperada, que surge depois de a “Operação Esperança”, que tem sobrevoado o local, em três helicópteros, ter feito cair no terreno de buscas milhares de panfletos, a pedir, em vão, às crianças que parem de andar, para que possam ser encontradas.