“Uma alegria para o país”. Foi assim que o Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou que as quatro crianças desaparecidas há mais de 15 dias na sequência da queda de uma avioneta na região de Guaviare tinham sido encontradas com vida “após árduas buscas” por parte das Forças Armadas do país. Porém, horas após o primeiro tweet do governante (que entretanto foi apagado), a confusão gerou-se. Afinal, após mais de 450 horas na Amazónia colombiana, os menores ainda não apareceram.

O El Colombiano escreveu que a empresa proprietária da aeronave que caiu, a Avianline Charters, publicou um comunicado onde desmentiu o Presidente e afirmou que não está confirmado que os quatro irmãos — de 13, 9 e 4 anos e 11 meses — tenham sido encontrados na densa floresta da Amazónia colombiana, na região de Caquetá. O mesmo jornal local avançou que obteve, através de fontes suas próximas, a confirmação de que as Forças Armadas nem sequer viram as crianças e que os esforços de procura e resgate continuam.

Por sua vez, o colombiano El Tiempo detalhou que foi o Instituto Colombiano de Bem-estar Familiar (ICBF, que é uma organização governamental) a dar a indicação a Gustavo Petro que as crianças teriam sido localizadas e estariam “bem de saúde”, algo que o Ministério da Defesa do país ainda não confirmou. Contactada por esse jornal, a avó das crianças, Fátima, disse que as autoridades não comunicaram com os menores até ao momento. “Não sabemos muito bem, dizem-nos que as crianças foram encontradas por um camponês e um compatriota”, acrescentou.

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Quase 24 horas após ter lançado a confusão, o Presidente colombiano retratou-se no Twitter, lamentando o sucedido e explicando que apagou a publicação que dava conta do aparecimento das crianças porque “as informações fornecidas pelo ICBF não podem ser confirmadas”. “As Forças Armadas e as comunidades indígenas continuarão a sua busca incansável para dar ao país a notícia que tanto espera. Neste momento, não há outra prioridade senão avançar com as buscas até encontrá-los. A vida das crianças é o mais importante”, escreveu.

Antes da primeira publicação do Presidente, a última atualização feita pelas Forças Armadas da Colômbia salientava apenas o esforço dos militares , que continuavam “com o objetivo de localizar os quatro menores” que estão desaparecidos desde o primeiro dia de maio. Esta sexta-feira, num novo tweet publicado após o pedido de desculpas do chefe de Estado colombiano, adiantaram que a operação de busca e salvamento — apelidada de “Operação Esperança” — continua, com uma novidade: foram encontradas novas pegadas perto de um riacho que podem ser dos quatro irmãos.

Foi a 1 de maio que uma avioneta, do modelo Cessna 206, emitiu um alerta de socorro, segundo a agência Reuters, devido a uma falha de motor. A aeronave transportava sete pessoas numa viagem com destino a San José Del Guaviare. As autoridades ainda investigam para apurar as causas do acidente. O piloto, o copiloto e a mãe das crianças, que pertencem à comunidade indígena Huitoto, morreram. O corpo da primeira vítima foi encontrado dentro da aeronave, os outros dois alguns metros à frente.

Ao longo dos últimos dias, equipas de resgate, apoiadas por cães de busca e salvamento, encontraram frutas mastigadas e abrigos improvisados feitos com vegetação da floresta, bem como pegadas, que lhes deram esperança de que os menores estejam vivos. Um helicóptero, que sobrevoou a zona, reproduziu uma mensagem gravada pela avó das crianças na língua murui huitoto para os avisar para pararem de se mexer na selva, que de acordo os meios de comunicação locais, é “casa” de alguns dos maiores felinos da América e tem plantas espinhosas e venenosas.

Preciso dos meus netos. Quero-os vivos e seguros”, afirmou Fátima, ao El Colombiano, enquanto aguardava no aeroporto de Villavicencio a chegada do corpo de sua filha.

Manuel Ranoque, pai das crianças, encontra-se a ajudar as equipas de resgate. De acordo com a estação colombiana Caracol Televisión, Magdalena Mucutui Valencia viajava com os filhos Cristin, Tien Noriel, Soleiny e Lesly para reencontrar o marido, que há um mês tinha fugido de Araracuara depois de ser alvo de ameaças  por parte dos dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

Notícia atualizada às 6h47 de dia 19 de maio, com a indicação de que Gustavo Petro apagou o tweet em que anunciava o aparecimento dos menores, que já tinha sido desmentido pelos jornais locais