A geração dos “baby boomers”, nascida após a II Guerra Mundial, “não se satisfaz” com um lar tradicional, advertiu esta quarta-feira o presidente da União das Misericórdias, para quem a resposta aos idosos é o maior problema social do país.
Manuel Lemos, 74 anos, jurista, confessou, em entrevista à agência Lusa que quer acabar os dias em casa, rodeado de livros, dos cães de companhia e dos amigos. Tomando-se como exemplo, revelou que não passa sem um smartphone, um iPad e um computador, e que não se revê num lar.
“Precisamos de mais respostas. Acresce ainda outra coisa: Hoje está a chegar o momento do envelhecimento a geração dos ‘baby boomers’, que são outras pessoas, habituadas ao consumo, com outra formação, que são muito mais exigentes e não se satisfazem num lar tradicional”, afirmou.
Defensor de um novo paradigma, assente no apoio domiciliário, o líder da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) reconheceu que são necessárias mais estruturas para idosos, face à longevidade, mas também outro tipo de oferta.
Segurança Social vai distribuir tablets a pessoas com apoio domiciliário
“Mesmo nos lares que existem hoje, temos de encontrar uma nova forma de cuidar dos idosos. Nós e outros países da Europa, andamos todos a procurar encontrá-la, porque isso tem um outro lado do problema que é importantíssimo — o financiamento dessa resposta”, acrescentou, apontando a responsabilidade ao Estado: “Só pode caber ao Estado, porque é o Estado que decreta, é o Estado que regula, que diz o timing em que implementa essa resposta e estabelece os parâmetros de qualidade”.
Para Manuel Lemos, os lares precisam de evoluir. “Correspondem a um padrão que tem 40 ou 50 anos. Cuidam-se as pessoas muito da mesma forma e precisamos de avançar para respostas diferentes, porque mudou o perfil do idoso em lar”, reconheceu.
“Como é que isso se resolve? Se fosse fácil acho que já toda a gente tinha resolvido, mas é um problema muito complicado, nomeadamente a questão do envelhecimento. Portugal tem uma rede de lares assente sobretudo na cooperação entre o Estado e o setor social. Essa rede é manifestamente insuficiente face ao número de idosos que temos a necessitar de apoio”, sustentou, referindo que o país é dos mais envelhecidos na União Europeia, sendo frequentes os casos em que doentes permanecem internados nos hospitais por não terem quem os acolha e preste assistência.
“Precisamos de encontrar resposta, não como se fazia há 10 ou 15 anos atrás, mas uma resposta”, alegou Manuel Lemos, segundo o qual o Estado tem procurado “algumas experiências inovadoras”.
“Tanto quanto sei, no início de junho irá abrir um conjunto de avisos no âmbito do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) que visa apoiar experiências inovadoras na área do envelhecimento e isso é visto por nós com bons olhos, embora não possamos assim de repente dar-nos uma louca e acabarmos com o que temos. Vai demorar muito tempo, alguns anos, a conseguirmos mudar o atendimento aos idosos. Mas é importante começarmos a fazê-lo já desde já”, disse.
Uma das apostas em cima da mesa, avançou o dirigente da UMP, é o reforço do apoio domiciliário, tornando-o mais efetivo, por forma a contrariar “a ideia romântica” de que funciona a 50% durante a semana e ao fim de semana “a família vai tomar conta do idoso”.
“Ou, por exemplo, aproveitar as novas tecnologias para reforçar a segurança das pessoas, para que elas queiram ficar em casa, em vez de irem para um lar”, indicou Manuel Lemos, na véspera do 14.º Congresso Nacional das Misericórdias, a realizar em Lisboa entre quinta-feira e sábado, sob o lema “Valorizar o passado, Viver o presente, Projetar o Futuro”.
De acordo com Manuel Lemos, os lares precisam atualmente de médicos, mais enfermeiros e pessoal com formação, debatendo-se com falta de recursos humanos. Os imigrantes estão cada vez mais a assegurar o trabalho nestas instituições. Sem números concretos sobre a percentagem de trabalhadores estrangeiros nas instituições do setor, atestou que vê este número crescer a cada dia e defendeu melhores salários para fixar trabalhadores.
“Temos um problema sério de recursos humanos. É um problema global no nosso país, mas em particular na nossa área porque o nosso financiamento é muito baixo. As pessoas não querem vir trabalhar para um trabalho que, no caso dos idosos, é bastante pesado e obriga a formação”, observou.
No encontro dos próximos dias vai estar em debate o futuro desta rede, composta por 388 instituições.