O primeiro “live stream” de Marte. Foi assim que a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) anunciou que iria divulgar através do Youtube as primeiras imagens captadas em tempo real do Planeta Vermelho, uma iniciativa para comemorar o 20.º aniversário da missão Mars Express.

Num comunicado divulgado na quarta-feira, a agência convidava todos a juntarem-se à emissão de uma hora no dia 2 de junho e ver Marte como nunca antes, praticamente a tempo real. “De certa forma não existe algo como um ‘live’ no espaço, uma vez que estamos limitados pela velocidade da luz que viaja a grandes distâncias. Mas esta sexta-feira (…) terá a oportunidade de estar o mais próximo possível de Marte“, garantia a ESA.

A maior parte dos dados e imagens recolhidos no espaço são captados durante períodos em que os equipamentos não estão em contacto direto com as estação de antenas na Terra, explica a ESA. Isto significa que os dados são armazenados e transmitidos algumas horas ou mesmo alguns dias depois, quando o contacto é estabelecido.

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O mesmo acontece com a câmara de monitorização da missão Mars Express pelo que, só no prazo de alguns dias, é possível ter disponível um novo lote de dados e imagens, que mais tarde é descarregado, processado e partilhado com o mundo. Este processo faz com que as imagens captadas e divulgadas ao vivo sejam “raras”, apesar de existirem alguns exemplos na história do espaço. Segundo a ESA, o mesmo aconteceu, por exemplo, quando a Nave DART da NASA colidiu intencionalmente com o asteroide Dimorphos para apurar se é possível desviar corpos celestes das suas órbitas.

Nave DART colidiu com o asteroide Dimorphos numa missão suicida pela defesa espacial. Veja as imagens aqui

Antes do início do live, ainda havia algumas dúvidas sobre o sucesso da emissão, como admitiu James Godfrey, do centro de controle de missão da ESA em Darmstadt, na Alemanha. “Esta é uma câmara antiga, originalmente pensada para propósitos de engenharia e que está a uma distância de quase três milhões de quilómetros da terra. Nunca foi tentado antes e, para ser honesto, não estamos 100% certos de que vai funcionar“, explicava o especialista.

 “Normalmente vemos imagens de Marte e sabemos que foram tiradas dias antes. Estou animado para ver Marte como é agora. O mais próximo possível de um ‘agora’ marciano”, afirmou James Godfrey.

A missão acabou por ser bem sucedida e, durante cerca de uma hora, as imagens de Marte foram chegando, com o antecipado delay de 50 segundos, aos espectadores que acompanhavam a emissão do Youtube.

A ESA estima que a diferença de tempo entre a captura das imagens e o seu aparecimento nos ecrãs dos expectadores tenha sido de cerca de 18 minutos. “São 17 minutos para a luz viajar de Marte para a Terra na configuração atual e cerca de um minuto para passar através dos fios e servidores na Terra”, refere o comunicado.

A emissão desta sexta-feira marcou o 20.º aniversário do Mars Express, uma missão lançada em junho de 2003. Deste então providenciou imagens “deslumbrantes” do planeta vermelho, forneceu o mapa mais completo da composição química da atmosfera e demonstrou que Marte já reuniu as condições ambientais necessárias para a existência de vida.