Era a esperança de um lado e a história do outro. Em Istambul, na final da Liga dos Campeões, Manchester City e Inter Milão opunham a esperança inglesa e a história italiana: uns procuravam o troféu que continua a escapar, os outros procuravam o troféu que andou muito longe durante mais de uma década.

No City, existiam três motivos principais que tornavam a conquista da Champions absolutamente prioritária. O primeiro passava pela afirmação e confirmação total do projeto, prolongando a hegemonia interna dos últimos anos para a glória europeia; o segundo passava pela desforra da cruel final de 2021, quando um golo de Havertz deu o troféu ao Chelsea; e o terceiro passava pela necessidade de levar o clube à elite continental, juntando-se aos principais rivais na Premier League e às equipas com quem pretende sempre competir a nível europeu.

Ficha de jogo

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Manchester City-Inter Milão, 1-0

Final da Liga dos Campeões

Estádio Olímpico Atatürk, em Istambul (Turquia)

Árbitro: Szymon Marciniak (Polónia)

Manchester City: Ederson, Manuel Akanji, Rúben Dias, John Stones (Kyle Walker, 82′), Nathan Aké, Rodri, Gündoğan, Kevin De Bruyne (Phil Foden, 36′), Bernardo Silva, Haaland, Jack Grealish

Suplentes não utilizados: Stefan Ortega, Scott Carson, Kalvin Phillips, Laporte, Julián Álvarez, Sergio Gómez, Mahrez, Máximo Perrone, Cole Palmer, Rico Lewis

Treinador: Pep Guardiola

Inter Milão: André Onana, Dumfries (Bellanova, 76′), Dimarco, Bastoni (Gosens, 76′), Darmian (D’Ambrosio, 84′), Acerbi, Barella, Brozovic, Çalhanoglu (Mkhitaryan, 84′), Dzeko (Lukaku, 57′), Lautaro Martínez

Suplentes não utilizados: Handanovic, Cordaz, Gagliardini, De Vrij, Correa, Asilani, Skriniar

Treinador: Simone Inzaghi

Golos: Rodri (68′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Barella (59′), a Lukaku (83′), a André Onana (90+2′), a Haaland (90+2′), a Ederson (90+4′)

No Inter, também existiam três motivos principais que tornavam a conquista da Champions absolutamente prioritária. O primeiro passava pela reconquista de um título que escapava desde 2010, quando José Mourinho juntou a Liga dos Campeões à Serie A e à Taça de Itália, e que já tinha sido assegurado em três ocasiões; o segundo passava pela salvação de uma temporada onde o brilhantismo esteve sempre longe e o Campeonato ficou entregue ao Nápoles demasiado cedo; e o terceiro passava por afastar a ideia de que chegou à final de Istambul sem saber propriamente como, entre a eliminatória muito sofrida com o FC Porto e um futebol que poucos entusiasma.

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Depois, obviamente, existiam os treinadores: um Pep Guardiola que procurava a terceira Liga dos Campeões da carreira depois de a ter conquistado duas vezes com o Barcelona e de também ter falhado sempre com o Bayern Munique, um Simone Inzaghi que vivia o jogo mais importante do próprio percurso e que podia catapultar-se para outros voos. A história de Guardiola compensava a esperança do City, a esperança de Inzaghi compensava a história do Inter.

Na hora de escolher o onze inicial, Guardiola surpreendeu ao lançar Nathan Aké no trio de centrais, deixando Kyle Walker no banco, e mantinha as titularidades dos portugueses Rúben Dias e Bernardo Silva. Já Inzaghi segurava a dupla Lautaro/Dzeko no ataque, com Lukaku como suplente, e apostava em Brozovic no meio-campo em detrimento de Mkhitaryan. Em campo, não foi preciso esperar muito para perceber que o teórico favoritismo do City não seria tão notório como expectável.

Os ingleses tinham mais bola, maior presença no meio-campo adversário e maior proximidade à baliza de Onana, mas raramente conseguiam criar perigo. Os italianos mantinham um acerto defensivo impressionante, um pragmatismo quase irritante e uma forma simples e rápida de chegar perto de Ederson. Adicionalmente, sublinhava-se um nervosismo pouco habitual na equipa de Guardiola, com o guarda-redes brasileiro a cometer vários erros na saída de bola e jogadores influentes e decisivos como De Bruyne, Grealish e Bernardo a surgirem algo apagados.

Bernardo teve uma boa ocasião para inaugurar o marcador com um pontapé por cima (6′), Brozovic respondeu com um remate que também não saiu enquadrado (20′) e Barella ainda tentou surpreender Ederson com um chapéu que saiu mal medido (26′). À beira da meia-hora, o City mostrou que podia causar estragos com poucos passes e em poucos instantes e Haaland apareceu na cara de Onana depois de um enorme passe de De Bruyne, permitindo a defesa do guarda-redes camaronês (27′).

Pouco depois, um dos momentos decisivos da final. Tal como tinha acontecido há dois anos, na final contra o Chelsea no Estádio do Dragão, De Bruyne lesionou-se e teve de ser substituído por Phil Foden mesmo depois de ainda forçar a permanência em campo. No fim da primeira parte, com a ocasião de Haaland a ser a única e verdadeira oportunidade de golo, Manchester City e Inter Milão estavam empatados a zeros — e já tinham provado, no entretanto, que qualquer superioridade, favoritismo ou discrepância tinha sido completamente esvaziada no momento em que o apito inicial soou em Istambul.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e a lógica da primeira parte manteve-se, com o City a ter a larga maioria da posse de bola mas a não conseguir desbloquear a louvável organização defensiva do Inter. Os italianos tinham o jogo exatamente onde queriam, estavam confortáveis taticamente e iam debelando as investidas adversárias e explorando a transição rápida e o ataque à profundidade que os ingleses deixavam aberta nas costas.

Inzaghi também foi obrigado a realizar uma substituição forçada perto da hora de jogo, quando Dzeko se lesionou e teve de ser substituído por Lukaku, e Lautaro ficou muito perto de abrir o marcador quando aproveitou um erro de Akanji para aparecer na cara de Ederson, que evitou o golo do argentino (59′). Pouco depois, a quase 20 minutos do fim, o City conseguiu finalmente furar a muralha italiana.

Bernardo Silva desequilibrou na direita, ganhou a linha de fundo e cruzou, com a bola a sofrer um desvio e a sobrar para Rodri nos primeiros metros da grande área — aí, quase sozinho, o espanhol atirou de primeira e bateu Onana (68′), colocando o City em vantagem e obrigando o Inter a mudar a estratégia para ir atrás do resultado nos últimos 20 minutos. Inzaghi decidiu mexer pouco depois, trocando Gosens e Bellanova por Bastoni e Dumfries, e Guardiola respondeu pouco depois com a entrada de Walker para o lugar de Stones, que saiu completamente exausto e já limitado fisicamente.

Dimarco — que foi o melhor elemento do Inter em Istambul — ficou muito perto de empatar, ao acertar na barra com um chapéu a Ederson e a cabecear contra Lukaku na recarga (70′), e Foden também poderia ter acabado com as dúvidas num lance em que permitiu a defesa de Onana (78′). A derradeira oportunidade dos italianos surgiu já na ponta final, num momento em que Ederson defendeu um cabeceamento de Gosens depois de um canto (90+6′), e nada mudou até Szymon Marciniak apitar pela última vez no Estádio Olímpico Atatürk.

No fim, e apesar de o Inter Milão ter alcançado o feito impressionante de terminar com o dobro dos remates dos ingleses, o Manchester City venceu e conseguiu conquistar a Liga dos Campeões pela primeira vez — e dar a terceira a Pep Guardiola. Tão conhecido por jogar com a camisola dentro dos calções, Rodri decidiu passar os noventa e seis minutos da final da Champions com a camisola fora dos calções. E mostrou que este sábado, 10 de junho de 2023, era o dia em que a esperança iria finalmente vencer a história.