O Supremo Tribunal Federal do Brasil autorizou esta sexta-feira a Polícia Federal a recolher um novo depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre a alegada conspiração para um golpe de Estado para o manter no poder depois de perder as eleições.

A decisão foi tomada pelo juiz Alexandre de Moraes, responsável pelas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro, quando milhares de radicais destruíram as sedes dos três poderes, em Brasília, para forçar a destituição do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

O novo interrogatório do ex-chefe de Estado, com data ainda por definir, faz parte de um desdobramento do caso que envolve o senador Marcos do Val.

Na quinta-feira, a Polícia Federal brasileira realizou buscas nos escritórios e residências do senador declarado apoiante do ex-presidente Jair Bolsonaro, uma ação também autorizada pelo magistrado Alexandre de Moraes.

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O senador está a ser investigado nesse processo desde fevereiro, quando denunciou uma bizarra trama golpista, que na realidade foi interpretada como uma tentativa de desqualificar o próprio juiz Alexandre de Moraes.

Do Val deu várias versões, algumas contraditórias, na qual disse que em dezembro, antes da posse de Lula da Silva, se encontrou com Bolsonaro e Daniel Silveira, militante da direita mais radical brasileira.

Segundo o senador, nesse encontro ele foi orientado a pedir uma reunião com Alexandre De Moraes, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral, e a gravar a conversa sem que o juiz percebesse.

A intenção, segundo Do Val, era que o juiz aceitasse alguma suposta irregularidade para favorecer Lula da Silva nas eleições, o que teria servido de pretexto para invalidar as eleições e manter Bolsonaro no poder.

O próprio Alexandre De Moraes admitiu que, em dezembro passado, se encontrou com o senador, que revelou este alegado plano, mas recusou apresentar uma queixa formal.

A decisão esta sexta-feira do juiz relativamente a um novo depoimento de Bolsonaro coincide também com a publicação na revista Veja de uma série de mensagens encontradas no telemóvel do tenente-coronel Mauro Cid, ex-assessor de Bolsonaro, reforçando a tese de que a equipa mais próxima do ex-presidente conspirou para anular a vitória eleitoral de Lula.

O ex-chefe de Estado já depôs perante a polícia em pelo menos três ocasiões em diferentes processos judiciais, entre eles pela tentativa de golpe de Estado em janeiro.

Testemunhou ainda pela entrada irregular no país de um conjunto de joias que lhe foi oferecido pelo governo da Arábia Saudita e pelo seu alegado envolvimento numa rede ilícita de falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil marcou para 22 de junho o início do julgamento que pode tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível.

Jair Bolsonaro está a ser acusado de ter lançado ataques contra o sistema de votação em 2022, quando ainda era presidente, sendo que o Ministério Público Eleitoral manifestou-se a favor da perda dos direitos políticos por oito anos.

Além dos processos que enfrenta no TSE, o capitão reformado do exército, que regressou ao Brasil no final de março vindo dos Estados Unidos, está a ser investigado numa dezena de processos nos tribunais comuns e noutros cinco no Supremo Tribunal Federal.