O encontro, não incluído na agenda de António Costa, entre o primeiro ministro (PM) português e o seu homólogo húngaro Viktor Orbán está a ser alvo de críticas por vários atuais e ex-responsáveis políticos, tanto à direita como à esquerda.

O ex-ministro Miguel Poiares Maduro criticou o uso, por parte do primeiro-ministro, de um avião Falcon 50, da Força Aérea para assistir, em Budapeste, à final da Liga Europa — uma deslocação, que, como o Observador noticiou, não constava da agenda oficial de António Costa.

“Num Estado sério, um PM usar um avião do Estado para um evento fora da sua agenda pública era o fim do percurso político desse PM”, escreveu Poiares Maduro. “Imagino que esta amizade com Orban serve para afinar a conspiração internacional de extrema direita contra o PS”, afirmou o agora professor da Faculdade de Direito da Universidade Católica.

Também o presidente da Iniciativa Liberal fez uma referência à notícia. “Falcon utilizado por António Costa fez uma escala em Budapeste para que o primeiro-ministro assistisse à final da Liga Europa em Budapeste, ao lado de Viktor Órban”, escreveu Rui Rocha no Twitter. “Enfim, nada de novo. Mais uma sexta-feira normal da governação socialista”, sublinhou, depois de se referir a outros temas que marcaram o dia.

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O líder da Juventude Social Democrata comentou a paragem que o primeiro-ministro fez em Budapeste, quando ia a caminho da II Cimeira da Comunidade Política Europeia, que decorreu na Moldova. “Para todos os democratas: António Costa não passará”, escreveu Alexandre Poço, ironizando com a forma como António Costa respondeu, em janeiro de 2022, a André Ventura.

“Comigo não passará”, disse o primeiro ministro num debate para as legislativas de janeiro.

Já o deputado do Chega, Pedro Frazão, lembrou, no Twitter, a vontade de António Costa “ir para a Europa”. “Para tal, os primeiros-ministros socialistas não chegarão para a eleição, e Costa precisará do suporte de PM que não sejam do PPE. O Orbán foi expulso do PPE e na bola fazem-se amigos”, escreveu Frazão.

Mais tarde, também André Ventura acusou Costa de “hipocrisia política e imoralidade”. “Querer estar com José Mourinho e apoiar um treinador português, um jogador português, uma equipa portuguesa é sempre louvável, mas António Costa não colocou na agenda pública que ali estaria, o que significa que, de alguma forma, um equipamento do Estado foi utilizado para finalidades que, não sendo secretas, foram mais privadas do que políticas ou públicas”, afirmou André Ventura, defendendo que “os equipamentos do Estado, suportados pelo erário público e pelo contribuinte, não devem ser utilizados desta forma”, disse o líder do Chega num vídeo divulgado aos jornalistas.

À esquerda, a ex-eurodeputada do PS Ana Gomes também relaciona o encontro entre António Costa e Viktor Orbán com a possibilidade de o primeiro-ministro querer concorrer a um cargo europeu. “Uma campanha alegre”, escreveu a também ex-candidata presidencial no Twitter, com sarcasmo.

Também Mariana Mortágua, líder do Bloco de Esquerda, considerou “lamentável” que António Costa se tenha sentado ao lado de Orbán. “Acho lamentável que o primeiro ministro tenha decidido parar uma viagem oficial para ir ver futebol, que tenha usado os recursos do Estado para fazer essa paragem. Acho ainda mais lamentável que tenha visto este jogo de futebol ao lado de um, enfim, líder autoritário de extrema-direita de um país como a Hungria”, disse Mariana Mortágua aos jornalistas, durante a tarde deste sábado, à margem da Marcha do Orgulho LGBTI+.

E a resposta de Paulo Raimundo não foi diferente. O secretário-geral do PCP disse este sábado que “não é normal” a escala feita pelo primeiro-ministro e defendeu que a situação “tem de ser esclarecida” pelo próprio.