Antonoaldo Neves, o ex-presidente executivo da TAP, que autorizou a atribuição de uma pré-reforma de 1,3 milhões de euros a um antigo administrador, ao fim de apenas três anos a trabalhar na companhia, refere que o processo cumpriu as regras internas e que foi autorizado pelo conselho de administração.

Nas respostas que enviou à comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP, o último CEO da gestão privada da transportadora indica que Trey Urbahn, que foi primeiro administrador e depois diretor da empresa entre janeiro de 2016 e dezembro de 2018, aderiu a um programa de pré-reformas que foi elaborado para toda a organização e “não especialmente para este senhor”.

O antigo CEO da TAP diz que o então diretor de estratégia foi um dos colaboradores que “solicitaram adesão e estava plenamente qualificado para o programa de pré-reformas proposto pela área de recursos humanos da TAP. O pagamento desta pré-reforma acabou por ser interrompido pela companhia no final do ano passado depois de receber um parecer jurídico que apontava para a ilegalidade da reforma de 27 mil euros mensais, tendo sido pedida a devolução da verba já paga no montante de 1,3 milhões de euros.

As outras “Alexandras Reis” que até receberam mais, mas ficaram fora do radar e dos relatórios da TAP

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Os vários responsáveis da companhia ouvidos na comissão de inquérito, onde este caso foi conhecido numa das primeiras audições ao administrador financeiro Gonçalo Pires, não chegaram a justificar os fundamentos da ilegalidade, remetendo para o facto do quadro em causa ter sido gestor e diretor.

Trey Urbahn, cujo nome completo citado pela deputada do Bloco de Esquerda é Maximilian Otto Urbahn, assinou um contrato de trabalho com TAP em 2016 para diretor executivo na área comercial, por iniciativa do presidente executivo Fernando Pinto, já depois de ter sido nomeado administrador pelos acionistas privados. Trey Urbahn era o gestor americano apontado como o braço direito de David Neeleman que foi nomeado para a TAP em 2015, vindo da Azul, a companhia brasileira fundada pelo empresário.

Quando saiu da TAP, Urbahn voltou a trabalhar num projeto de Neeleman de lançamento de uma companhia aérea nos Estados Unidos, mas em 2019 volta a ser nomeado administrador não executivo da transportadora portuguesa, tendo sido informado que não poderia acumular o salário com a pré-reforma que manteve até ter sido suspensa pela TAP.

Antonoaldo Neves vem agora afirmar que, “se não me falha a memória”, esta pré-reforma terá sido validada pelo comité de pessoas e remunerações do conselho de administração (onde estavam os representantes do Estado) que “avaliou o programa referido bem como a situação específica do Sr. Max Urban (como foi escrito o nome nas perguntas dos deputados).

Também David Neeleman vem em defesa de Trey Urbahn, um dos muitos trabalhadores que se qualificaram para o programa, um programa que foi revisto pelo conselho de administração que, através da comissão de remunerações, fez recomendações para este caso, não se tendo oposto.

Atualmente presidente da Etihad Airways (companhia do Abu Dhabi), Antonoaldo Neves confirma que quando saiu da TAP em 2020, por iniciativa do Governo e a poucos meses do fim do mandato, recebeu os salários devidos até ao final do ano, nem indicar no entanto o valor.