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A chegada à Hungria de 11 prisioneiros de guerra ucranianos libertados pela Rússia prometia ser um momento feliz, mas rapidamente se transformou num foco de tensão entre Kiev e Budapeste. Pouco se conhece do processo de negociação, apenas que nem o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia nem o da Hungria estiveram diretamente envolvidos. No processo terá sido chave a relação pessoal do Patriarca Kiril de Moscovo com o vice-primeiro-ministro húngaro Zsolt Semjen, bem como o envolvimento do Serviço de Caridade Maltês.
Tudo começou quando, a 8 de junho, a Igreja Ortodoxa Russa revelou que tinha entregue à Hungria um grupo de ucranianos originários de Zakarpattia — região ucraniana onde, segundo o Kyiv Independent, residem 150.000 indivíduos de etnia húngara. Mais tarde a transferência acabou por ser confirmada por Zsolt Semje, que garantiu que estavam no país como “pessoas livres”. Mas o processo levantou dúvidas junto das autoridades ucranianas e mesmo a Comissão Europeia pediu que a situação seja clarificada.
No início desta semana, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia exigiu acesso imediato aos prisioneiros de guerra libertados, alegando que estavam a ser mantidos em isolamento, sem acesso a fontes abertas de informação e impedidos de contactar com os familiares sem a presença de terceiros. Dmytro Kuleba, chefe máximo do ministério, foi mais longe e esta segunda-feira afirmou que a transferência dos ucranianos para a Hungria foi motivada pelos “interesses políticos” do primeiro-ministro húngaro.
“Existia um objetivo simples: Viktor Órban tinha de mostrar aos húngaros, tanto dentro como fora da Hungria, que é o seu único defensor. Toda esta operação foi implementada sob os interesses políticas de uma pessoa”, afirmou, citado pelo Ukrainska Pravda. Kuleba disse ainda que esta tinha sido “essencialmente uma operação secreta” que teria contado com o envolvimento de outros além da Hungria.
A administração de Órban tem rejeitado as críticas, garantindo que as autoridades de Kiev foram informadas da transferência dos ucranianos no próprio dia e que estes deixaram de ser prisioneiros no momento em que chegaram a Budapeste. Esta terça-feira, o próprio ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria voltou a reforçar a tese.
“Dmytro Kuleba dirigiu novamente acusações falsas ao primeiro-ministro Viktor Orbán e à Hungria. Já explicámos claramente várias vezes, mas vamos repetir: Graças à cooperação da Igreja Ortodoxa Russa e do Serviço de Caridade Maltês, 11 pessoas foram libertadas do cativeiro. Isto aconteceu sem o envolvimento do governo húngaro”, escreveu numa publicação no Facebook, citada pela European Pravda. Segundo Péter Szijjártó, os ucranianos libertados podem mover-se de forma livre pela Ucrânia e contactar quem quiserem. “Em vez de ataques falsos e ataques pessoais, devíamos celebrar a liberdade de 11 pessoas. Se o meu colega ucraniano tem dúvidas ou questões sabe como contactar-me”, acrescentou.
Para já a embaixada ucraniana em Budapeste conseguiu trazer três dos ucranianos de volta a casa, segundo revelou esta terça-feira o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia. Oleg Nikolenko garantiu que as entidades competentes “continuam a tomar medidas” para trazer de volta à Ucrânia os restantes.
A Comissão Europeia também já se fez ouvir, através do porta-voz Peter Stano. Budapeste deve explicar o seu papel na troca de prisioneiros ucranianos com a Rússia, apontou Stano.
As relações diplomáticas entre a Hungria e a Ucrânia não têm sido as melhores durante a guerra, uma vez que o primeiro-ministro Viktor Orban tem criticado a imposição de sanções da União Europeia à Rússia. Este episódio só veio aumentar a tensão, gerando também críticas na oposição húngara.