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Ninguém parece entender-se na Rússia quanto à contraofensiva da Ucrânia. Esta quarta-feira, duas versões contraditórias: de um lado Vladimir Putin, o Presidente russo, que nas últimas semanas se tem desdobrado em declarações públicas sustentando a ideia de que a operação de Kiev está condenada ao fracasso (posição que voltou a repetir). Do outro, o líder mercenário do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin. Simultaneamente aliado e “pedra no sapato” do Kremlin, horas depois das palavras do Presidente russo, veio dizer que o regime está a “mentir” à população — e que até a Crimeia pode estar em risco.

Putin foi o primeiro a falar. Numa aparição na televisão estatal russa, o chefe de Estado voltou a desvalorizar os efeitos da contraofensiva ucraniana na “operação militar especial” russa, e disse até que o contra-ataque ucraniano está a “acalmar”.

As declarações pareceram aproveitar as palavras de Volodymyr Zelensky que, nos últimos dias, admitiu que a contraofensiva não estava a avançar com a rapidez desejada. Procurando reforçar — e até ir além — das palavras do Presidente ucraniano, Putin procurou vincar uma ideia: Kiev não vai ter sucesso.

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Estranhamente, de momento até estamos a ver que [a contraofensiva] está a acalmar. Tal deve-se ao facto de que o inimigo está a sofrer perdas sérias, quer em pessoal, quer em equipamento”, disse o Presidente russo na televisão estatal.

Putin advertiu, no entanto, que o potencial ofensivo da Ucrânia “ainda não se esgotou”, sublinhando que Kiev ainda tem armas e manobras ao seu dispor. “Há reservas que o inimigo está a ponderar, sobreonde e como as introduzir”. No entanto, o Presidente russo garantiu que isso não teria qualquer efeito no terreno — a Ucrânia, garantiu, “não tem hipótese”.

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O líder do grupo Wagner ofereceu uma visão diferente. Num áudio publicado nas redes sociais através do seu serviço de comunicação, Yevgeny Prigozhin contradisse Vladimir Putin e disse que Kiev está a arrasar as defesas russas, acusando os responsáveis do Kremlin de quererem esconder a realidade da população.

“Estão a enganar o povo russo”, disse, citado pelo The Guardian, antes de acrescentar um número considerável de vilas já foi perdido, com o líder mercenário a culpar a falta de armamento e munições para os alegados desaires militares. “Bocados enormes foram entregues de mão beijada ao inimigo, [e] tudo isto está a ser totalmente escondido de toda a gente”, declarou o líder dos Wagner, que ao longo de quase um ano e meio de conflito têm sido responsáveis por muitas das principais conquistas militares da Rússia.

Prigozhin foi mais longe ao afirmar mesmo que os russos podem vir a sofrer perdas ainda maiores. “Um dia a Rússia vai acordar e descobrir que a Crimeia também foi entregue à Ucrânia”, acrescentou, numa referência ao território anexado pela Rússia em 2014.

Para já, Kiev vai apenas relatando ganhos modestos na contraofensiva, que visa recuperar muitos dos territórios perdidos. No entanto, não é segredo que o governo ucraniano não desiste de reconquistar a península e expulsar definitivamente a Rússia do seu território. Também esta quarta-feira, um oficial ucraniano deixou até um aviso nesse sentido aos russos na Crimeia: “Todos os que conseguirem, digamos, regressar à terra-mãe de onde vieram… decerto ficariam contentes com isso”.

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