A maioria dos inquiridos num estudo sobre cancro da mama desconhece a complexidade do acesso e disponibilização de novos medicamentos e 79,3% considera inaceitável que os doentes tenham de esperar muito tempo pela decisão de aprovação de fármacos.
O estudo, promovido pela Associação de Apoio a Portadores de Alterações nos Genes Relacionados com Cancro Hereditário (Evita), avaliou o conhecimento dos portugueses sobre o cancro da mama triplo negativo (CMTN), através de 800 inquéritos, numa amostra considerada representativa da população portuguesa, acima dos 25 anos.
A presidente da Evita, Tamara Milagre, disse à agência Lusa que cerca de 15% dos cancros da mama são triplo negativo, que afeta mulheres muito jovens.
“É um cancro bastante complexo, pode ser bastante rápido (…) e costuma recidivar com mais facilidade”, afirmou Tamara Milagre, realçando que se a mulher for diagnosticada antes dos 50 anos é uma indicação para fazer um teste genético, para selecionar melhor o tratamento e prevenir futuros cancros em restantes familiares.
Segundo a associação, mais de 80% dos cancros da mama hereditários com mutação BRCA1 são classificados como CMTN e, aproximadamente, 15% destas doentes são portadores de uma mutação genética. Por este motivo, a Evita considerou essencial avaliar o conhecimento sobre o cancro hereditário, sendo que mais de metade dos inquiridos (63,3%) tem conhecimento que existem mutações genéticas com risco para cancro hereditário, um número que aumenta para 65,7% quando se trata de questionar o facto de uma mulher portadora de uma mutação genética apresentar um risco elevado de desenvolver cancro ao longo da vida.
Relativamente ao tratamento, 75% dos inquiridos acredita na eficácia e no potencial de cura oferecido pelos tratamentos atuais. Por outro lado, mais de metade (51%) defende que este tipo de cancro tem um grande impacto na qualidade de vida dos sobreviventes.
A Evita refere que “ficou claro que a maioria dos portugueses (70,7%) desconhece a complexidade do acesso e disponibilização de novos medicamentos“, explicando que “o processo de avaliação, que tem início após a confirmação de segurança e de eficácia por parte da Agência Europeia do Medicamento, o que pode levar até 676 dias — quase dois anos”.
Confrontados com o facto de Portugal levar, em média, mais 300 dias a tomar uma decisão que outros países europeus, 79,3% dos inquiridos consideraram inaceitável os portugueses terem de esperar tanto tempo.
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“Imagine-se uma mulher jovem com esse diagnóstico, muitas vezes tem filhos menores em casa, e é altamente dramático se nós temos medicação que tem evidência científica e depois não temos acesso a esta medicação em Portugal. E, portanto, achámos urgente levantar o conhecimento sobre esta doença e a perceção dos portugueses relativamente ao acesso da inovação em Portugal”, salientou Tamara Milagre.
Disse ainda que este tipo de cancro é “muito relevante” para a associação porque têm “muitas mulheres nesta situação”, contando que têm tido abordagens por parte de mulheres que “souberam de novos medicamentos, que já foram autorizados, inclusivamente pela Agência Europeia do Medicamento e, neste momento, ainda não têm um acesso fácil a esta inovação em Portugal”.
Através da divulgação destes dados, a associação pretende aumentar o grau de conhecimento e sensibilização da população portuguesa para os cancros resultantes de mutações genéticas, com particular foco neste subtipo, tendo previsto o lançamento este ano de uma nova plataforma ‘online’ (EVITA Platform), que visa apoiar e informar os seus utilizadores, bem como promover a investigação da prevenção e do tratamento do cancro hereditário.
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