Sem qualquer clube no ativo desde 2021, altura em que deixou o Marselha, André Villas-Boas não é alguém que tenha muitas aparições públicas. No entanto, e quando tem, diz coisas. E a presença no QSP Summit, que está a decorrer na Exponor, em Matosinhos, foi mais uma prova disso mesmo quando o tema foi o FC Porto, clube do qual é sócio e onde esteve pela última vez em trabalho na temporada de 2010/11, quando ganhou a Liga Europa, o Campeonato, a Taça de Portugal e a Supertaça antes de rumar ao Chelsea por 15 milhões, tornando-se nessa fase o técnico mais caro de sempre na história (o recorde foi entretanto batido).

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“Vou contar-vos uma história e as razões pelas quais o plano da presidência está na minha cabeça. Sou um tipo veiculado ao destino. Assim foi a minha conversa com Bobby Robson, assim foi jogar uma final da Liga Europa com o Domingos Paciência, um ídolo de infância e a pessoa responsável por eu ter saído de uma carreira de jornalismo para uma de futebol. Sou muito veiculado à emoção e à intuição. Em 2015, na Rússia [Zenit], recebi uma mensagem de uma pessoa que ainda trabalha no FC Porto que dizia ‘Um dia vais ser presidente do FC Porto’. Nunca tinha pensado no assunto, mas a forma como aquilo alterou as minhas emoções… Senti como um destino que tenho para cumprir”, comentou André Villas-Boas no painel sobre liderança em tempos desafiantes, citado pelo jornal O Jogo, antes de falar sobre a carreira.

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“As exigências de ser presidente do FC Porto são únicas, pela responsabilidade da pessoa que construiu o nosso portismo. O nosso portismo é graças a uma pessoa. É uma coisa que me está destinada e eu raramente não cumpro os meus destinos. Eu parei a minha carreira por decisão até 2024. Quero ter um papel ativo, como sócio votante que sou, sócio de 45 anos. Se é como candidato ou não, não sei… Não posso responder se serei ou não candidato. Se tenho as qualidades para o ser? Prefiro que sejam os outros a dizer isso. Felizmente neste período tenho encontrado pessoas que me motivam para várias coisas, entre as quais a presidência”, acrescentou a esse propósito, abordando ainda a relação com o presidente dos dragões.

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“Tenho máximo de respeito pela pessoa que lá está. Respeito absoluto. Nós andamos desencontrados na relação, fruto de um jogo que tive entre o FC Porto e o Marselha… Para mim foi jogar ao Estádio do Dragão, vazio, o sócio do FC Porto e não o treinador do Marselha. O sócio do FC Porto que por acaso era treinador do Marselha e por acaso ganhou quatro títulos pelo FC Porto [em 2010/11]. Nesse dia confirmei o meu destino, no meu regresso a casa”, explicou André Villas-Boas sobre a origem de uma relação mais tensa com o líder dos azuis e brancos, sem deixar de elogiar o papel que teve para si e para o clube.

“Se o mesmo vai acontecer em 2024, em 2028 ou quando os estatutos disserem, que também estão a ser retocados, não consigo responder de forma precisa… Há tantas coisas a que estamos sujeitos… As eleições estão marcadas para abril de 2024, o meu papel como sócio ativo é votar nas mesmas. Se é como candidato ou não, não sei”, concluiu ainda nesse ponto André Villas-Boas no mesmo QSP Summit.

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Ainda sobre o FC Porto, o treinador abordou a atual situação financeira dos azuis e brancos, revelando a sua preocupação com o estado das contas dos dragões. “Nos últimos anos tivemos uma gestão desportiva desenquadrada das realidades financeiras do clube. E que muito sucesso nos trouxe, fruto de uma pessoa capaz de encarar todos os valores e princípios do FC Porto, e com uma capacidade de exigência e intransigência invulgares. A verdade é que a situação económica do FC Porto está cada vez pior há muitos anos. O futebol tem este sucesso desportivo e o sucesso financeiro… O que é sucesso no futebol? São os títulos? É a sustentabilidade do FC Porto enquanto clube de associados para o longo termo? Que é o que os adeptos querem sentir e a confiança que querem ter. Ultimamente falamos muito na entrada de capital estrangeiro nas SAD e começámos já a tocar nessa entrada nos três grandes clubes nacionais. A entrada de capital estrangeiro nos três grandes não se pode traduzir apenas como sucesso e passo de futuro, tem de se traduzir também como falência das gestões anteriores”, apontou sobre o cenário do clube nesta fase.

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Em paralelo, Villas-Boas fez também um reparo sobre um processo de renovação que já deveria ter ocorrido com Sérgio Conceição. “Olhar para a sua sustentabilidade económica, para a renovação do seu treinador, que tarda em acontecer… Os nossos inimigos são externos e não internos e nesta fase que não é de período eleitoral temos é de remar todos no mesmo sentido. A primeira coisa que gostava de ver resolvida, como adepto, era a renovação do treinador. Deveria ter renovado após o Inter, ganhando ou perdendo o jogo. Porque assim o merece e porque se assim fosse se calhar tínhamos evitado estes cenários de namoro, fruto da sua qualidade e do seu trabalho. Acho que esta era uma pergunta que todos os portistas gostavam de ver respondida. Renovação de Sérgio Conceição para quando? Porque é que não avança? Será que o próprio não quer? Também não sei, porque não falo com ele. Como portista gostava de ter esse conforto em relação à construção do futuro com um treinador que tanto nos tem dado”, comentou o ex-técnico portista.