Parece quase um paradoxo para quem lê jornais, foi o que aconteceu. Enquanto se discutiam todas as razões para que a Agência dos EUA para a Atmosfera e os Oceanos concluísse que esta terça-feira foi o dia mais quente de sempre (a temperatura média do ar na superfície foi de 17,18ºC, superando os 17,01ºC da véspera que batera o anterior registo de 16,92ºC a 24 de julho de 2022), Wimbledon enfrentava um completo caos no seu calendário devido à chuva que apareceu pouco mais de uma hora depois do arranque dos jogos da manhã e não mais iria parar. No total, em 77 encontros programados, 69 foram cancelados e apenas seis começaram e acabaram, por sinal aqueles que se realizaram no court central e no court 1. Nuno Borges foi um dos afetados, sendo que a própria organização está obrigada a devolver o dinheiro das entradas caso não exista pelo menos uma hora de partida nos restantes campos que não estão cobertos pelo “salvador” teto retrátil.

Assim, o português tinha marcado para esta quarta-feira o regresso ao Grand Slam inglês, depois da estreia em 2022 com uma derrota na ronda inaugural frente ao norte-americano Mackenzie McDonald em três sets. E o objetivo, mesmo tendo noção das dificuldades que a adaptação à relva comporta, era claro: repetir o que fez no último US Open e mais recentemente em Roland Garros e passar à segunda ronda do Major.

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Os pontos de break que fizeram toda a diferença: Nuno Borges perde na estreia no quadro principal de Wimbledon

“Com qualquer adversário será um encontro duro. Estou motivado para dar tudo e enfrentar o Cerundolo. Sei que tem vindo a jogar muito bem, vi-o jogar aqui no ano passado. Sei que joga bem aqui, estava a jogar taco a taco com o [Rafa] Nadal… Vou tentar usar as minhas ferramentas para tirar partido da relva, porque sei que ele está bem adaptado. Sei que é um desafio grande, mas estou entusiasmado para ir com tudo a jogo”, disse o português à agência Lusa após o sorteio que o colocou em confronto com o 19.º do ranking mundial que ganhou no último fim de semana o torneio ATP de Eastbourne, batendo Tommy Paul. “Uma entrada direta aqui é uma evolução mas claro que vou a jogo para ganhar e tentar chegar à segunda ronda. Cada encontro aqui é uma final e, seja contra o adversário que for, será muito duro. Espero estar à altura”, frisou.

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E essa entrada direta no quadro principal de Wimbledon tinha também reflexo na forma como os adversários olhavam para o português, com o argentino a deixar elogios antes do encontro ao maiato de 24 anos que está nesta fase em 69.º da hierarquia mundial. “Tem um grande serviço e bate muito chapado. Pode ser perigoso em relva e está confiante porque tem somado muitas vitórias em torneios challengers este ano. Mas vou ter de ver mais encontros dele e estudar mais as suas virtudes e defeitos, salientara Francisco Cerundolo, recordando um ano de 2023 em que Nuno Borges ganhou os challengers de Monterrey e de Phoenix e na relva atingiu as meias-finais de Nottingham, onde perdeu com o “regenerado” Murray. Agora, o português voltou a demonstrar um bom nível mas uma lesão no tornozelo condicionou a ambição de algo mais.

Não foi propriamente um arranque fácil, nem para o português nem para todos aqueles que começaram jogos depois das 11h tendo em conta que para fazerem o set inicial de pouco mais de 40 minutos demoraram mais de quatro horas com duas interrupções pela chuva pelo meio. Nesse período, Nuno Borges começou mal com um break no seu primeiro serviço, chegou ao 2-3 sempre a ganhar os seus jogos nas vantagens e teve depois uma oportunidade de ouro desperdiçada para reentrar no set inicial, com dois pontos de break no serviço de Cerundolo que foram anulados pelo argentino para o 5-3 antes de nova paragem que permitiu ao português segurar o seu serviço entre um ponto de break salvo e quebrar pela primeira vez o serviço do adversário para o 5-5, fazer o 6-5 e fechar mesmo o primeiro parcial a seu favor com 7-5.

O português estava por cima do encontro. Adaptava-se de uma forma melhor ao vento que ia soprando, tinha mais confiança nos seus jogos de serviço, via Cerundolo com algumas manifestações de insatisfação perante bolas que não estavam a sair. No entanto, a ganhar 1-0 no segundo set e com 15-15 no marcador, Borges teve uma escorregadela numa subida à rede, ficou de imediato agarrado ao tornozelo direito e foi assistido pelo médico que lhe ligou o tornozelo. Ainda continuou em campo, muitas vezes a fazer movimentos para perceber até onde conseguia ir, mostrou algumas limitações na forma como jogava em alguns pontos e não foi a tempo de recuperar o nível a que estava antes da lesão, vendo Cerundolo crescer na partida, ganhar outra confiança no seu jogo e fechar a vitória na ronda inicial de Wimbledon por 6-3, 6-3 e 6-4.