Pelo menos 34 pessoas foram detidas esta segunda-feira em protestos contra a reforma judicial em várias cidades israelitas, referiu o Haaretz. Destas, cerca de 19 foram detidas em Jerusalém, o centro das manifestações.

O Parlamento israelita aprovou esta segunda-feira uma parte essencial da reforma judicial proposta pelo Governo do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, apesar dos protestos de vários quadrantes políticos e sociais.

A votação ocorreu após uma sessão turbulenta em que os deputados da oposição gritaram “vergonha!” antes de abandonarem a sala, com a proposta do Governo a ser aprovada com 64 votos a favor e nenhum contra.

Do lado de fora, milhares de pessoas reuniram-se na estrada que dá acesso ao Parlamento em Jerusalém para protestar. De acordo com o Haaretz, pelas 15h30, estavam cerca de 20 mil manifestantes com bandeiras do país junto ao Knesset, que gritavam “democracia ou rebelião” e “nunca nos vamos render”.

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Desde as primeiras horas, os manifestantes — convocados pelos movimentos de protesto generalizados que se tornaram os mais participativos da história do país — reuniram-se num acampamento num parque próximo, tendo tentado cortar as ruas e bloquear o acesso ao Parlamento.

Um protesto numa outra zona de Jerusalém, a Begin Highway, levou à detenção de pelo menos duas pessoas. A multidão teve de ser dispersada com recurso a canhões de água. Algumas centenas de pessoas protestaram em frente ao Supremo Tribunal, em Jerusalém.

Em Tel Aviv, várias centenas pessoas bloquearam uma estrada, Kaplan Junction. Também aqui as autoridades tiveram de recorrer a canhões de água para fazer dispersar os manifestantes. Os ânimos continuavam exaltadas durante a noite, com o Haaretz a dar conta de vários feridos que tiveram de ser levados para o hospital.

A reforma determina mudanças radicais que aumentam os poderes do Governo na área judicial, limitando a capacidade de o Supremo Tribunal contestar decisões parlamentares e alterando a forma como os juízes são selecionados.

Netanyahu e os seus parceiros de Governo alegam que as mudanças são necessárias e, desde o início, deram sinais de que não iriam alterar a sua postura, apesar dos fortes protestos sociais.

Os manifestantes que representam vários setores da sociedade olham para a reforma como uma tomada de poder alimentada por ambições pessoais de Netanyahu, que está a ser julgado num processo judicial por acusações de corrupção.

Netanyahu considera reforma judicial uma “etapa democrática necessária”

Benjamin Netanyahu qualificou esta segunda-feira de “etapa democrática necessária” a aprovação pelo Parlamento de uma medida decisiva da controversa reforma judicial apresentada pelo seu Governo ultranacionalista.

“Esta etapa destina-se a restabelecer um equilíbrio entre os poderes (…), votámos [esta medida] para que o Governo possa conduzir uma política em conformidade com a decisão da maioria dos cidadãos”, afirmou o primeiro-ministro num discurso pela televisão.

Em simultâneo, o chefe de Governo israelita exortou a oposição a dialogar para “chegar a acordos” sobre outros aspetos da reforma que ainda não foram submetidos a votação. “Continuaremos a esforçar-nos para negociar e chegar a acordos. Não renunciamos à oportunidade de garantir um amplo acordo, e digo que é possível”, disse no decurso da alocução.

Netanyahu também indicou que a oposição rejeitou “todas as propostas de compromisso” apresentadas pela sua coligação de direita e extrema-direita, e assinalou que o Executivo “se manterá em contacto com a oposição para dialogar” sobre o futuro da reforma durante a pausa nos trabalhos parlamentares no mês de agosto.

“Todos estamos de acordo que Israel deve continuar a ser uma democracia forte, que deve proteger os direitos individuais de todos”, argumentou, antes de solicitar aos mais dez mil reservistas que suspenderam o seu serviço para prescindirem das divergências políticas e que revertam a sua decisão.