A diretora executiva do NatWest demitiu-se na sequência do encerramento da conta bancária que Nigel Farage, antigo líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), tinha no Coutts Bank. Alison Rose admitiu ser a responsável pela fuga de informação em que assentou a reportagem da BBC relativamente ao caso e onde foi revelado que se tratava de uma decisão meramente comercial — o que se veio a provar ser mentira.

De acordo com uma nota divulgada pelo Telegraph, o banco revelou que se trata de uma decisão por “mútuo acordo”, que surge já depois de Alison Rose ter admitido através de um comunicado que cometeu um “grave erro de julgamento” ao abordar o tema da relação entre Farage e o banco com um jornalista.

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A história dura há várias semanas, desenvolveu-se com uns capítulos atrás dos outros e culmina com a decisão de afastamento, semanas depois de o governo britânico, pela voz do ministro das Finanças, Jeremy Hunt, ter admitido que estava “profundamente preocupado” com as notícias que davam conta de que há cada vez mais bancos a fechar contas de clientes que expressam opiniões “controversas”.

A denúncia do encerramento da conta surgiu pela voz do próprio Nigel Farage, mas tomou outras proporções quando aquele que é conhecido como um dos engenheiros do Brexit percebeu as verdadeiras razões e o divulgou. Depois de a tal fonte anónima, que se veio a concluir ser Alison Rose, ter dito à BBC que Farage não cumpria a exigência de riqueza do banco – ter um empréstimo de um milhão de libras (1,1 milhões de euros) —, o antigo líder do UKIP revelou o documento a que teve acesso.

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“Num memorando explosivo de 40 páginas, o Brexit é mencionado 86 vezes e a Rússia 144”, referiu. Também a relação pessoal com o ex-Presidente dos EUA não escapou ao relatório. “O apoio a Donald Trump, o que penso sobre a imigração e as vacinas são apresentados como motivos para a minha saída“, apontou, acrescentando que o banco mencionava ainda uma perceção de que na sociedade era visto como “xenófobo e racista”.

Antes, já tinha dito em declarações ao jornal Telegraph que, entre 2014 e 2016, quando usou “pela primeira vez os serviços do Coutts, nunca surgiram problemas” e “depois de o Brexit se tornar uma realidade, tudo mudou.”

O banco Coutts acabou por se retratar na sequência da denúncia de Nigel Farage e por pedir desculpa pelos “comentários profundamente inadequados” que foram feitos sobre o antigo líder do UKIP antes de lhe fecharem a conta.

Segundo foi noticiado nessa altura, o banco organizou em novembro do ano passado uma reunião para avaliar o risco reputacional que Nigel Farage representava. O comité considerou que continuar a tê-lo como cliente “não era compatível com o Coutts, uma vez que as opiniões que expressou de forma pública divergem das posições como uma organização inclusiva”. O conhecido apoio do Brexit seria apenas um exemplo e o mesmo aconteceria nomeadamente com as suas declarações sobre questões como os direitos LGBTQI+.

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Foi exatamente Alison Rose que, na sequência da denúncia, disse acreditar de “forma muito vigorosa na liberdade de expressão” e reconheceu que “o acesso a serviços bancários são fundamentais para a sociedade”. “De forma alguma é nossa política excluir um cliente pelo facto de ter opiniões políticas e pessoais que estão dentro da lei.”

Agora, confirma que “errou” ao responder às perguntas da BBC sobre o caso e estendeu as desculpas a Nigel Farage. Alison Rose será substituída por Paul Thwaite, atual CEO de negócios comerciais e institucionais da NatWest, enquanto o banco encontra outro substituto.

Na sequência da saída, Nigel Farage escreveu no Twitter para dizer que “outros devem seguir-se” a Alison Rose. “Espero que isto sirva de aviso ao setor bancário. Precisamos de mudanças culturais e legais num sistema que, injustamente, encerrou muitos milhares de pessoas inocentes. Darei o meu melhor para ser a sua voz”, concluiu.