Bastaram apenas três a cinco minutos para Bordalo II e a sua equipa se conseguir aproximar do palco principal da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), situado no Parque Tejo, e estender a “passadeira da vergonha”, composta por notas de 500 euros, numa crítica aos gastos do governo com o evento. Em entrevista à CNN, a partir do seu atelier, o artista plástico disse que a equipa se limitou a vestir um colete refletor e foi-se aproximando do palco sem que ninguém os impedisse.
“O nosso objetivo era tirar uma foto em que pelo menos se visse o palco no fundo. Mas a verdade é que fomos andando e andando e ninguém nos questionou e chegámos ao sítio perfeito para tirar a foto”, explicou.
“Habemus Pasta”. Artista Bordalo II estende “passadeira da vergonha” no palco principal da JMJ
O artista garantiu não ter nada contra o evento, mas considera que a forma como o investimento foi feito é “injusta para a população”, especialmente tendo em conta um momento em que muitas pessoas enfrentam dificuldades financeiras. “Nós começamos a entender que há muitas verbas alocadas. E não são trocos, é dinheiro a sério. E nós vivemos um momento em que as pessoas passam dificuldades, com a subida de preços das casas e taxas de juro, as pessoas vivem em dificuldades para ter uma vida digna”, sublinhou.
Bordalo II também criticou o argumento que, desde o anúncio da vinda da jornada para Portugal, tem vindo a ser repetido por diversas vozes para justificar os gastos. “Afinal o que é o retorno económico? É termos um negócio durante uma semana e fazermos mais dinheiro ou termos a médio e longo prazo uma estrutura que funciona, em que os nossos filhos têm mais e melhores condições para estudar, os professores são bem tratados para dar uma boa educação”.
Existe muita indignação e acho que existe muito sentido de injustiça em relação à forma como as coisas estão a acontecer.”
A ideia surgiu depois de divulgado o preço do palco em que se vão realizar alguns dos momentos centrais, como a missa final, celebrada pelo Papa Francisco. “Começámos a somar e somar os valores de milhões de coisas em ajustes diretos que nem entendíamos. A partir do momento em que há um trabalho que qualquer pessoas pode fazer e não há um concurso público, o valor que é proposto ao estado pagar não é questionado. Nesse momento entendemos que os valores começaram a escalar estupidamente e nós, como cidadãos, podemos refilar um pouco”, acrescentou.
A maioria dos contratos para a JMJ foi celebrada por ajuste direto
O artista disse ainda que o Vaticano, uma “empresa que funciona muito bem e que é muito antiga”, provavelmente não precisa do dinheiro dos contribuintes. “Nem toda a gente é obrigada a aceitar o festival ou a fazer parte do seu investimento”, acrescentou.
Em declarações à Rádio Observador, o presidente do Observatório de Segurança Interna desvalorizou a entrada de Bordalo II e da sua equipa no recinto, explicando que o espaço está aberto e o dispositivo ainda não foi ativado. “Em termos de segurança, esta ação vale zero”, sublinhou Hugo Costeira, afirmando que vê a ação do artista “com humor”.
Durante a tarde desta sexta-feira, o Sistema de Segurança Interna explicou, em comunicado, que, apesar de a responsabilidade daquele espaço ser da PSP, as obras ainda estão a decorrer e, por isso, “ainda não é considerado um espaço público, sendo responsabilidade do empreiteiro da obra, bem como da empresa privada contratada para o serviço de segurança”.
“Neste fase, o fluxo de construção obriga à entrada e saída de muitos funcionários nas diferentes áreas do recinto”, acrescenta o comunicado. Por isso, o plano de segurança só entrará em vigor quando a obra estiver terminada. O Sistema de Segurança Interna refere ainda que antes do início da Jornada Mundial da Juventude “será efetuada uma vistoria aos recintos por parte da PSP e que os mesmo só serão abertos após confirmação de que reúnem as necessárias condições de segurança”.
A realização da JMJ em Lisboa terá um custo de 160 milhões de euros, segundo as estimativas divulgadas até agora. Destes, 30 milhões de euros foram investidos pelo Estado português.