Há alguns anos era considerada uma das startups mais valiosas dos Estados Unidos da América, tendo chegado a estar avaliada em 47 mil milhões de dólares. Agora, o futuro da WeWork, empresa que aluga espaços de cowork e que chegou a Portugal no verão do ano passado, é incerto, mas assegura que, por cá, “não haverá qualquer impacto imediato nas operações”.

Foi a própria empresa que, em comunicado enviado esta terça-feira aos investidores, afirmou ter “dúvidas substanciais” acerca da sua capacidade para continuar a operar devido a vários fatores, nomeadamente aos “atuais níveis de liquidez”, à necessidade de angariar capital e à diminuição da procura devido à “volatilidade macroeconómica”. De acordo com o The Guardian, os inquilinos dos escritórios partilhados da WeWork incluem pequenos negócios, startups e freelancers.

No segundo trimestre deste ano, a empresa registou um prejuízo líquido de 397 milhões de dólares, número que compara com os 635 milhões de dólares que foram registados no mesmo período do ano passado. Neste momento, a capacidade de “continuar a operar” depende da execução de um plano delineado pela administração para “melhorar a liquidez e a rentabilidade” ao longo dos próximos 12 meses.

Para isso, vai concentrar-se em reduzir os custos de “rendas e arrendamentos através de ações de reestruturação e negociação de condições de arrendamento mais favoráveis”, controlar e limitar despesas e procurar capital adicional “através da emissão de títulos de dívida ou de capital ou da venda de ativos”.

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“Não haverá qualquer impacto imediato nas operações em Portugal”

Atualmente, a WeWork conta, segundo a BBC, com 512 mil clientes nos seus espaços partilhados de trabalho em 33 países de todo o mundo. Portugal é um deles. Aqui, o primeiro (e único) espaço de trabalho flexível foi aberto no verão do ano passado em Lisboa com a multinacional Organon, que opera no setor da saúde, a ter sido a primeira inquilina.

Foi no número 50 da Rua Alexandre Herculano que a WeWork se estabeleceu, ocupando seis andares do edifício com um terraço ao ar livre e ainda vista para o rio Tejo e para o Castelo de São Jorge. O valor do investimento para a entrada no mercado português, nomeadamente da compra do edifício, não foi revelado pela empresa, segundo noticiou o Jornal de Negócios.

Neste momento, o escritório partilhado em Lisboa continua a funcionar, embora a empresa não diga o grau de utilização nem quantos trabalhadores tem no país. Questionada pelo Observador sobre se existiam planos para sair de alguns mercados, incluindo o português, face às dificuldades financeiras, a WeWork disse apenas que “não haverá qualquer impacto imediato nas operações” em Portugal.

A história da WeWork e o cofundador que inspirou uma série da Apple TV+

Foi fundada em 2010 com a visão de “criar ambientes onde pessoas e empresas se unam e façam o seu melhor trabalho”. Nove anos depois, a WeWork fez uma primeira tentativa para entrar em bolsa, mas tal não chegou a acontecer devido a dúvidas relacionadas com o modelo de negócio, com possíveis prejuízos avultados e com o estilo de liderança de Adam Neumann, cofundador e CEO.

O site Vox escreve que a WeWork promovia o lema “trabalhar muito, festejar muito”. Adam Neumann seguiria essa máxima, existindo vários rumores de que marcava reuniões para as duas da manhã (New York Times) e que bebia shots de tequila com os funcionários depois de os demitir (Wall Street Journal). Em setembro de 2019, devido à tentativa falhada de entrar em bolsa, os diretores da empresa votaram para retirar Adam Neumann do cargo de CEO.

Adam Neumann votou contra si próprio, abdicando da liderança e do controlo maioritário da empresa que cofundou, nota a revista Time. “Embora o nosso negócio nunca tenha estado tão forte, nas últimas semanas, o escrutínio a mim dirigido tornou-se uma distração significativa e decidi que é do interesse da empresa deixar o cargo de CEO”, disse em comunicado divulgado após a saída.

Esta é uma das várias histórias retratadas na série “WeCrashed”, que estreou no ano passado na Apple TV+ e que é protagonizada por Jared Leto e Anne Hathaway, que conta a história da ascensão e queda da WeWork com especial foco em Adam Neumann e na sua mulher, Rebekah Neumann.

“WeCrashed”. Uma ascensão incrível, uma queda espalhafatosa e o sotaque irritante de Jared Leto

A WeWork — depois de um resgate financeiro por parte do Softbank Group — acabaria por entrar em bolsa em outubro de 2021, tendo sido avaliada em 9 mil milhões de dólares (aproximadamente um quinto do valor que era estimado dois anos antes). Nessa altura, a empresa, que ainda não conseguiu dar lucro, enfrentava uma nova dificuldade: a pandemia, que nas alturas de maiores restrições deixou os escritórios vazios e levou as pessoas a trabalhar a partir de casa.

As dificuldades mantiveram-se mesmo depois de os trabalhadores regressarem aos escritórios. A Bloomberg dá conta de que a WeWork tem também enfrentado mudanças na liderança depois de Sandeep Mathrani, que ocupava o cargo de CEO desde o início de 2020, ter saído da empresa em maio. Desde então, é liderada pelo CEO interino David Tolley. 

Esta terça-feira, a WeWork, que em março tinha fechado acordos com o Softbank e outros investidores para reduzir a sua dívida em cerca de 1,5 mil milhões de dólares, anunciou que três dos seus membros independentes do conselho de administração seriam substituídos por quatro novos elementos.

Depois do comunicado a colocar dúvidas sobre a sua viabilidade, a WeWork caiu em bolsa. A empresa que chegou a estar avaliada em 47 mil milhões de dólares, entrou em bolsa a valer 9 mil milhões, tem agora uma capitalização bolsista de 448 milhões de dólares.