Já tem 38 anos, parecia ter apenas 18. Os últimos minutos da final da Taça dos Campeões Árabes trouxeram de volta a melhor versão de Cristiano Ronaldo em toda a linha. Tudo começou na forma como celebrou o golo da reviravolta frente ao Al Hilal de Jorge Jesus, numa decisão com direito a dois festejos depois da revisão do VAR, teve depois a lesão no joelho esquerdo que motivou a substituição, acabou com saltos, abraços e muitas selfies (muitas mesmo) com companheiros de equipa, técnicos e elementos do staff. Após marcar pelo quinto encontro seguido, o bis do avançado português valeu o primeiro triunfo do Al Nassr na prova.

Os deuses são mesmo eternos: Ronaldo bisa, marca seis golos em cinco jogos e conquista Taça dos Campeões Árabes pelo Al Nassr

Ainda houve um momento quase cómico, quando os altifalantes anunciaram a atribuição do prémio de MVP do jogo e Ronaldo parecia encaminhar-se para as escadas para receber o galardão antes de ouvir o nome de Milinkovic-Savic como figura da final. O capitão da Seleção ficou a rir mas nem por isso deixaria de receber um galardão individual, neste caso o de melhor marcador da prova. Seguiu-se o tão ambicionado troféu coletivo, que fez questão de partilhar com toda a equipa ao rumar com Luís Castro da tribuna para o centro do relvado para o final de festa do 33.º título da carreira. Em todos esses momentos, nem por um segundo o problema no joelho foi relembrado. No entanto, continuava lá. E podia colocar em risco a estreia na Liga.

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Há coisas “estranhas” que nunca deixarão de ser estranhas aos olhos dos amantes europeus do futebol. Um exemplo? Após o intervalo, na antecâmara do reinício da segunda parte, entoou-se o hino da Arábia Saudita com direito a banda e tudo enquanto todos os jogadores se perfilavam como se a partida não tivesse ainda começado. Ainda assim, o encontro em si com estrelas como Sadio Mané, Talisca, Brozovic, Fofana, Malcolm, Milinkovic-Savic, Koulibaly ou Rúben Neves (Neymar deve ser o próximo, neste caso para o Al Hilal de Jorge Jesus) e a festa final com recurso a luzes e drones para um espectáculo digno de uma final de Campeonato do Mundo mostraram que a Arábia Saudita ganhou mesmo uma posição diferente no mundo do futebol.

“É um desafio grande para todos nós, a reintegração, e de jogadores estrangeiros e saudita. Acho que, para o futebol saudita e mesmo para a seleção, vai ser muito bom. Vai haver um crescimento grande do futebol no país e fico muito feliz por podermos estar todos a contribuir para que o futebol cada vez seja mais forte. O futebol é uma paixão. O futebol é muito interessante porque é uma modalidade que tem adeptos de forma transversal em todo o mundo, nuns países mais do que noutros, mas é transversal. Sente-se muito essa paixão na Arábia. Os estádios estão com muitos adeptos e eles são muito dedicados ao jogo, são muito participativos no jogo. É aquilo que eu tenho sentido”, destacara no final da última semana o técnico Luís Castro, português que trocou os brasileiros do Botafogo pelo Al Nassr e já conquistou o primeiro título.

Entre todas essas mudanças, também há aquilo que esteja ainda mal e não é alterado. Aliás, foi o próprio treinador do conjunto de Riade que apontou essa lacuna, ao falar de algo “injusto e desumano” em relação à partida inaugural da Liga apenas 48 horas depois de uma final da Taça dos Campeões Árabes que teve até prolongamento. Se Ronaldo estava em dúvida pela lesão no joelho esquerdo, ainda mais ficou perante uma janela tão curta de recuperação. Na última temporada, uma ausência do português até poderia ser mais “facilmente” disfarçada, tendo em conta o nível médio das equipas. Agora, tudo mudou. E o Al Nassr teria pela frente um Al-Ettifaq comandado por Steven Gerrard que conta com nomes como o antigo capitão do Liverpool, Jordan Henderson, o avançado Moussa Dembelé ou o central escocês Jack Hendry, com essa particularidade do reencontro entre o internacional inglês e Mané após vários anos juntos no Liverpool.

O encontro até começou da melhor forma para o conjunto de Luís Castro, com Sadio Mané, um dos “heróis” resistentes da final de sábado, a inaugurar o marcador após assistência de Al Hassa (4′) e a ter pouco depois uma oportunidade para aumentar uma vantagem numa fase em que o Al-Ettifaq procurava ainda entrar no jogo. No entanto, a formação de Steven Gerrard foi equilibrando, conseguiu ter mais bola, chegou melhor ao intervalo mesmo em desvantagem mas deu a volta logo no arranque do segundo tempo, primeiro com Robin Quaison a aproveitar um erro infantil de Al Aqidi para marcar após canto (47′) e logo de seguida com Vitinho, que tinha entrado ao intervalo, a assistir Moussa Dembelé (53′). Até ao final, Al Sulaiheem e Ayman ainda acertaram no poste, Mané viu o bis anulado e o Al Nassr começaria mesmo a Liga com uma derrota.