Primeiro Patrícia Mamona, depois Pedro Pablo Pichardo, a seguir um pouco de tudo no caos dos aeroportos originado pelas inundações em Frankfurt. Portugal teria sempre uma das maiores delegações de atletas em Campeonatos do Mundo nesta edição em Budapeste mas houve quase uma lei de Murphy em torno da ida da Seleção para a Hungria, a ponto de alguns atletas que entravam em competição logo no primeiro dia estarem 24 horas antes retidos e à procura da melhor ligação aérea para a cidade magiar. Nem por isso alguma coisa mudou em termos de calendário e era com o mais experiente de todos que começavam os Mundiais.

Histórico: João Vieira conquista prata e é o mais velho de sempre a ganhar uma medalha no Mundial

Aos 47 anos, João Vieira, um dos atletas mais titulados no plano nacional, fazia a primeira de duas provas em que está inscrito nesta edição de 2023: os 20 quilómetros marcha (tem igualmente mínimos para os 35km). Mas como um mal nunca veio só, uma repentina tempestade que se assolou em Budapeste apesar do calor que se devia sentir por estes dias na cidade acabou por atrasar por duas horas o arranque da prova, com a qualificação para a final do lançamento do peso, onde estavam presentes os portugueses Francisco Belo e Tsanko Arnaudov, a ter início mais cedo ainda do que a competição de estrada. Não faltava acontecer nada.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ao contrário do que acontecia na distância mais longa, e apesar de ter feito nos últimos tempos a prova de 50 quilómetros (onde foi vice-campeão mundial em 2019, em Doha), João Vieira, que cumpria a 13.ª presença em Campeonatos do Mundo numa fase em que ocupa o 83.º lugar do ranking mundial, apresentava-se com uma melhor marca pessoal e do ano que não entrava no top 30 dos atletas presentes. Também por isso, o experiente atleta que soma dezenas e dezenas de títulos nacionais pretendia sobretudo fazer uma boa participação que pudesse dar outro ânimo para a competição de 35 quilómetros na próxima quinta-feira.

Para uma história com diploma, marchar, marchar: João Vieira termina 50km marcha no quinto lugar aos 45 anos

Olhando para aquilo que foi a corrida, João Vieira acabou por cumprir: após uma partida onde ficou na cauda de todos os atletas, o português passou no sete quilómetro já na 43.ª posição mas não desistiu e foi fazendo o percurso ao seu ritmo, subindo sempre alguns lugares em todas as passagens até terminar em 33.º com o tempo de 1.23.37. O espanhol Álvaro Martín foi o vencedor com a grande marca de 1.17.32, seguido do sueco Perseus Kärlstorm (1.17.39) e do brasileiro Caio Bonfim (1.17.47). Todos conseguiram bater os seus respetivos recordes nacionais, numa prova em que a armada japonesa acabou por ser a deceção.

O ouro de Carlos Lopes empurrou-o para a estrada. Aos 45 anos, João Vieira quer acabar os 50km marcha em Tóquio — e ir ainda mais longe

Nas 12 edições anteriores, João Vieira tinha conseguido os seguintes resultados: medalha de prata em Doha-2019 (50km); medalha de bronze em Moscovo-2013 (20km); nono lugar em Berlim-2009 (20km); 11.º lugar em Daegu-2011 (20km); 11.º lugar em Londres-2017 (50km); 17.º lugar em Paris-2003 (20km); 25.º lugar em Osaka-2007 (20km); 36.º em Pequim-2015 (20km); desqualificação em Sevilha-1999 (20km) e em Edmonton-2001 (20km); desistência em Helsínquia-2005 (20km) e em Oregon-2022 (35km).

De recordar que, além da medalha de prata nos Mundiais de 2019 de Doha nos 50 quilómetros, João Vieira ganhou duas medalhas em Europeus, o bronze em Gotemburgo-2006 (onde fez a marca que tem como recorde pessoal, 1.20.09) e a prata em Barcelona-2010 (depois da desqualificação do russo Stanislav Emelyanov). O atleta tem ainda uma outra medalha em Campeonatos do Mundo, neste caso de bronze, da edição de 2013 em Moscovo após a desqualificação do russo Alexandr Ivanov seis anos depois em 2019.