Não foi propriamente o aniversário que estava à espera. Enquanto algumas das jogadoras que se sagraram campeãs mundiais na Austrália já se encontram de férias nas ilhas Baleares (e com Jenni Hermoso, que tem estado no centro de todo o turbilhão a mostrar uma nova tatuagem na perna com a frase “Não há verão sem beijo”), Luis Rubiales continua pela sede da Real Federação Espanhola de Futebol a preparar aquela que será a defesa possível à onda de pedidos para que saia da liderança do órgão. Foi assim que passou o dia em que fez 46 anos, desiludido por não contar com um apoio que esperava ter – o da própria Jenni, com quem dizia ter uma grande relação pessoal mas que através de um comunicado pediu também o seu afastamento.

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Como aconteceu num passado recente, Rubiales volta a estar cercado no seu poder. Como aconteceu num passado recente, Rubiales tenta perceber como sair do cerco para continuar no seu poder.

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O primeiro movimento para esse objetivo passa por uma Assembleia Geral antecipada da RFEF que se vai realizar esta sexta-feira. Pontos principais na ordem de trabalhos? O rescaldo de todos o Mundial feminino, a apresentação do novo plano estratégico para o futebol feminino e a criação do Comité Estratégico para o Desenvolvimento do futebol feminino. Ou seja, a defesa daquela que correu bem na sua gestão recente e o desejo de que aquilo que aconteceu após o apito final no Estádio Olímpico de Sidney não coloque em causa aquilo que foi sendo realizado. Dúvida: como justificar aquilo que o deixou no olho do furação?

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Como recorda a imprensa espanhola, Ángel Maria Villar, o seu antecessor no cargo, tinha a mesma estratégia quando a sua liderança era colocada em xeque: marcava uma Assembleia Geral da RFEF, tentava controlar as votações em causa e saía a dizer “Quem me dá apoio é o futebol espanhol”. “Rubiales pode ressurgir das cinzas como uma Fénix quando todo o mundo pensa que está morto”, aponta um funcionário da RFEF ao El País. Este é um território que domina, em grande parte alheio a toda a pressão que sente em termos políticos e mediáticos e onde poderá reunir o apoio da maioria dos 140 membros entre os líderes das associações regionais, clubes, jogadores profissionais, árbitros e treinadores. “Por forma a que todos os que têm lugar na Assembleia possam marcar presença, o briefing online semanal foi cancelado”, anunciou numa circular interna o Comité Técnico dos Árbitros. Rubiales pretender uma maioria na sala para sair reforçado.

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Ainda assim, e olhando também para o passado recente de Rubiales, existe um plano B já pensado caso as coisas não corram como pretende – e um plano que iria depois limitar tudo aquilo que se possa pensar fazer fora da esfera da RFEF para colocar em risco a continuidade do atual líder no cargo até ao próximo ano.

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Segundo o Mundo Deportivo, o Comité de Integridade da própria RFEF pode avançar com uma sanção ao presidente da Direção que, confirmando-se, iria evitar maiores castigos que viessem “de fora”. Como? Se o órgão avançasse com uma suspensão de dois a seis meses pelo que se passou após a final do Mundial, e se esse castigo fosse aceite pelo Conselho Superior dos Desportos de Espanha, qualquer outra atuação via TAD ou demais tribunais perderia efeito. Assim, ficava de parte uma inabilitação de um mês a 15 anos que levaria a que um vice-presidente tivesse de assumiu o cargo e permitia também algum tempo para Luis Rubiales começar a preparar as eleições de 2024, onde haverá de novo sufrágio por ser um ano olímpico.

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“Esta Assembleia é uma autêntica farsa. Há 30 anos que estou no mundo do futebol e não vim para líder da Liga feminina para me calar agora. As votações são com a mão no ar com cartões de cores e as câmaras focam o contrário do que é votado. Há um controlo absoluto da Assembleia, não é uma votação democrática”, criticou Beatriz Álvarez no El Partidazo da Cadena COPE. “Há dois caminhos com Luis Rubiales. Todos esperávamos que tivesse um pouco de dignidade e que se demitisse por tudo o que fez. A outra opção é o governo atuar. Existem mecanismos legais para isso que podem ser acionados”, acrescentou.

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De recordar que, além de toda a pressão política e mediática que Rubiales tem sofrido nos últimos dias, o Conselho Superior dos Desportos recebeu algumas denúncias e existem queixas a ser preparadas também para o Tribunal Administrativo do Desporto. “Após todos os acontecimentos na final do Mundial foram abertas diligências internas na Federação referentes a assuntos de integridade, bem como o resto de todos os protocolos aplicáveis”, destacou a RFEF em comunicado. Ainda assim, se o CSD seguir com essas denúncias para o TAD e se Rubiales for acusado, Victor Francos, presidente do CSD, poderá convocar uma reunião da Comissão Diretiva e votar a suspensão preventiva do líder da RFEF do cargo. É isso que Luis Rubiales tenta evitar a todo o custo, a começar pela Assembleia Geral da RFEF marcada para sexta-feira.

No entanto, e além de toda essa pressão que chega de Espanha (clubes, treinadores e jogadores da La Liga têm-se pronunciado contra o sucedido, com destaque para a condenação do comportamento do líder da RFEF por parte de Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid), também a FIFA entrou em cena. “O Comité de Disciplina da FIFA informou no dia de hoje [quinta-feira] o senhor Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, da abertura de um procedimento disciplinar contra ele tendo por base acontecimentos durante a final do Campeonato do Mundo feminino no passado domingo. Estes atos podem resultar em violações dos artigos 13.1 e 13.2 do Código de Disciplina da FIFA”, disse em comunicado.

O artigo 13.1 defende que “as associações e os clubes, assim como os jogadores, funcionários e qualquer outro membro ou pessoa que leve a cabo uma função em seu nome, devem respeitar as Regras de Jogo, assim como os Estatutos da FIFA e as normas da FIFA, regulamentos, diretivas, diretrizes, circulares e decisões, e cumprir os princípios do jogo limpo, leal e íntegro”. De seguida, o artigo 13.2 fala dos vários pontos que podem levar a uma sanção disciplinar, onde se inclui na alínea b) “insultar uma pessoa física ou juridicamente de qualquer forma, em especial utilizados gestos ou linguagem ofensiva”.

Notícia atualizada às 13h30 com o comunicado emitido pela FIFA