Sobre presidenciais, Marcelo Rebelo de Sousa não pensa (“estou liberto e até proibido de pensar”). Mas sobre outras eleições pensa bastante — e aproveitou este sábado para mandar recados sobre elas, incluindo os impactos das europeias de 2024 em toda a Europa e, presumivelmente, em Portugal: “Preocupa-me mais, de longe, a eleição europeia porque vai dar a medida do pulso da Europa. Os populismos sobem ou não sobem? Os partidos que estão no poder aguentam ou não?”.

São duas questões que se colocarão em Portugal, particularmente a dúvida sobre se as europeias funcionarão ou não como um cartão amarelo ou vermelho ao Executivo depois de um arranque de legislatura atribulado.

E Marcelo, que tem mantido uma relação mais tensa com São Bento nos últimos meses, não se coibiu de voltar a desenterrar o fantasma de uma possível dissolução do Parlamento: “As eleições legislativas em princípio, espero, já não serão no meu mandato. Ninguém deseja ter de antecipar legislativas”, atirou, sem ser questionado sobre isso, aos jornalistas, de visita a uma feira de vinhos.

O Presidente da República comentou, de resto, vários assuntos da atualidade, começando pelo Orçamento do Estado em preparação para 2024 e as cautelas do Executivo. “Tenho visto da parte do Governo uma atenção ao que estão a ser os sinais deste momento, que podem ser, ninguém tem certezas, de desaceleração da recuperação”, avisou, lembrando o exemplo da economia alemã e recordando que os efeitos do abrandamento das economias europeias “chegam naturalmente a Portugal”.

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“Parece que há sinais de que o investimento externo e privado vai continuar a subir, mas temos a inflação, em que estamos bem em termos europeus” mas pode haver um “deslizamento”, a somar ao fator do crescimento, que no ano passado foi “espetacular”, no primeiro trimestre foi “bom” mas no segundo é de “0%”, prosseguiu o Presidente. “Há aqui uma incógnita”, resumiu, garantindo que o Governo “está atento ao que é preciso lançar de liquidez na economia”.

E deixou um aviso: o Executivo tem uma “folga” graças ao Plano de Recuperação e Resiliência e à “gestão orçamental muito criteriosa” que o Governo fez num ano “muito bom” como foi o anterior — “é um elogio que se deve fazer ao Governo”, considerou, logo lembrando que, mesmo que o atual governador do Banco de Portugal, Mário Centeno (o pai da fórmula das contas certas do Executivo), “não goste” de que se fale numa almofada, ela pode ter de ser usada em 2024 no caso de o crescimento não avançar ao ritmo que se previa.

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Aos jornalistas, Marcelo falou ainda da Habitação — continua a achar que o pacote do Governo “não é suficiente para ter efeito no prazo pretendido” e que se Costa mandou uma carta à Comissão Europeia por causa do assunto é porque saberá que há “sensibilidade” para o tema — e da Educação, mantendo a “esperança” de que haja espaço para o diálogo entre Executivo e professores.