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Inauguração das obras de expansão do Terminal de Contentores do Porto de Sines, 1.ª etapa da fase 3, iniciativa da PSA Sines, concessionária do Terminal de Contentores de Sines, 1 de julho de 2022. TIAGO CANHOTO/LUSA
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Exportações diminuíram 2,3% em cadeia — depois de uma forte subida de 6,1% nos primeiros três meses do ano

TIAGO CANHOTO/LUSA

Exportações diminuíram 2,3% em cadeia — depois de uma forte subida de 6,1% nos primeiros três meses do ano

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"Efeitos acumulados" da subida dos juros "começam a sentir-se" nos dados da economia. PIB estagna mas gás no consumo surpreende

Consumo privado surpreendeu e acelerou. Mas na segunda metade do ano, e com um verão pouco quente para a economia, reflexo dos juros nos dados já será "pleno". Meta de Medina (de 2,7%) ameaçada.

A balança estabilizou no segundo trimestre do ano: de um lado, a pesar pela negativa, as exportações, que caíram mais do que as importações; do outro lado, a puxar para cima, mas sem ser suficiente para evitar a estagnação, o consumo privado, que para surpresa de muitos não só continuou a crescer como acelerou, em cadeia, face ao arranque do ano.

Sem subir nem descer, a economia portuguesa sobreviveu à primavera por pouco, mas os números agora revelados em detalhe pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram com mais clareza como começam a ser visíveis os efeitos das consecutivas subidas das taxas de juro e o “pessimismo” que já circunda as empresas: nos dados das exportações, no investimento e, em concreto, na formação bruta de capital fixo — um indicador que ajuda a medir o investimento em bens de uma economia.

INE confirma estagnação em cadeia da economia no segundo trimestre

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O consumo privado continua, pelo menos para já, a ser a exceção e a escapar entre os pingos da chuva. Mas os economistas consultados pelo Observador acreditam que não por muito tempo, à medida que se forem esgotando as poupanças. A segunda metade do ano deverá trazer se não uma queda pelo menos um abrandamento do indicador, acreditam, num semestre que já deverá refletir “em pleno”, em vários indicadores, os efeitos das subidas consecutivas das taxas de juro.

Mas isso não significa que haja nova estagnação. Alguns economistas continuam a estimar taxas de variação positivas nos próximos trimestres. E mesmo que haja estagnação, a meta de 1,8% inscrita pelo Governo no Programa de Estabilidade não estará em risco. O mesmo não se poderá dizer da meta posteriormente (julho) traçada por Fernando Medina, aos jornalistas, em Bruxelas: 2,7%, um número dificilmente alcançável no entender dos especialistas consultados pelo Observador. É que, no horizonte, há muitas outras nuvens que nem os meses de verão conseguiram dissipar.

Consumo privado: a surpresa das contas, mas até quando?

O INE confirmou, esta quinta-feira, a estagnação da economia portuguesa, depois de um salto — que surpreendeu muitos analistas — no início do ano, de 1,6% em cadeia. Em termos homólogos, porém, houve uma subida de 2,3%, ligeiramente mais modesta do que a de 2,5% dos primeiros três meses do ano.

A primavera tremeu. De um lado da balança, a pressionar para baixo as contas nacionais estiveram as exportações que, depois de uma forte subida de 6,1% nos primeiros três meses do ano, diminuíram 2,3% em cadeia — que nem o turismo conseguiu conter. Pedro Braz Teixeira, diretor do Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade, viu com alguma “surpresa” a queda tão pronunciada deste indicador, para a qual não encontra justificação na forte subida que se verificou no início do ano.

Foi uma queda demasiado pronunciada e generalizada aos bens e serviços. De tal maneira que a procura interna recuperou, mas se não tivesse recuperado tínhamos tido uma queda do PIB”, afirma, em declarações ao Observador.

Do outro lado da balança, mas que não foi suficiente para evitar a estagnação, esteve a procura interna alavancada pela “aceleração do consumo privado“, que ganha fôlego após um trimestre de desaceleração, diz INE. E apesar da inflação “elevada e persistente” que se continuou a sentir, nas palavras do Núcleo de Estudos de Conjuntura da Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica.

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A recuperação do consumo privado — em 0,6%, o que resultou num contributo de 0,38 pontos percentuais para o PIB, nas contas da equipa de economistas do BPI — surpreendeu alguns economistas. Para o NECEP, da Universidade Católica, liderado por João Borges de Assunção, esta recuperação do consumo privado “é uma surpresa positiva”. A surpresa foi também sentida por Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, que não acredita, porém, que se manterá na segunda metade do ano, “à medida que as elevadas taxas de juro penalizam sobretudo os créditos à habitação, diminuindo substancialmente o rendimento disponível e, deste modo, a propensão para o consumo”.

Para Pedro Braz Teixeira, do Fórum para a Competitividade, a recuperação do consumo privado mostra um efeito que já vinha do início do ano — e que, aliás, é já um “subterfúgio” dos portugueses: não é que as pessoas não estejam a sentir a perda de poder de compra, mas estão a diminuir as poupanças para tentarem manter algum nível de consumo. “As famílias estão a tentar manter o padrão de consumo. Não é que o rendimento esteja a permitir este nível de consumo, é que as famílias estão a recorrer mais à poupança para realizarem esses consumos”, explica, ao Observador.

Essa é uma trajetória “que se pode manter no curto prazo, mas não é sustentável” porque as poupanças não são eternas, diz o economista, que também antecipa — se não um recuo — pelo menos um abrandamento do consumo privado no futuro próximo. Mais: antecipa que o segundo semestre signifique nova “cacetada” sobre as famílias com empréstimos à habitação.

Mas o perfil de consumo mudou face ao primeiro trimestre, de acordo com os dados do INE. De janeiro a março, as despesas com produtos duradouros — por exemplo, carros ou eletrodomésticos — conheceu um impulso considerável, de 8%. Mas na primavera, travou a fundo e houve estagnação. Este comportamento evidencia, para o núcleo da Católica, uma “aversão ao risco por parte dos consumidores”. Já a despesa em bens alimentares cresceu 1,4%, uma desaceleração face aos 1,6% do primeiro trimestre. Em termos homólogos, porém, acelerou para 1,5%.

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A recuperação do consumo privado — em 0,6%, o que resultou num contributo de 0,38 p.p. para o PIB, nas contas da equipa de economistas do BPI — surpreendeu alguns economistas

Bloomberg via Getty Images

Paulo Rosa, do Banco Carregosa, diz que depois da época festiva de dezembro de 2022, “é normal que o consumo privado tenha abrandado e mesmo sido penalizado no primeiro trimestre”. “Entretanto, outras épocas festivas e o início das férias de verão terão incrementado novamente as compras das famílias“, observa.

Investimento em queda evidencia “pessimismo” das empresas

O investimento também pesou na balança da economia, com uma queda em cadeia de 0,5%, dando continuidade às perdas que já se fizeram sentir no primeiro trimestre, e em termos homólogos, caiu 0,6%. É um “sinal negativo“, que leva a que a recuperação observada no final do ano passado seja apenas “efémera”, avaliam os economistas da Católica.

Quer isto dizer que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) ainda não está a chegar às empresas? Pedro Braz Teixeira reconhece que há atrasos acumulados dos últimos meses, mas sublinha que o PRR está muito virado para a construção — precisamente, o único setor que viu a formação bruta de capital fixo subir, em cadeia, num contexto de subida das taxas de juro e escassez de oferta da habitação.

Todos os outros perderam, com destaque para o “equipamento de transporte”, que recuou 20,4%. O economista aponta uma explicação para estas quedas: “Significa que há um certo pessimismo por parte das empresas em relação ao que vem aí”. Esse pessimismo é sentido nas exportações, que “estão a portar-se mal”, ou nos dados da conjuntura internacional, que estão “em deterioração”, com a perda de poder de compra transversal a vários países.

As empresas percebem que esta perda de poder de compra se reflete nas vendas“, refere, apontando para o PMI — o “Purchasing Managers Index”, um indicador que mede a atividade económica dos países e que está em queda, sendo “mesmo possível que tenhamos valores negativos”.

A incerteza vê-se, também, nos dados do Banco de Portugal divulgados esta quarta-feira, que mostram um investimento direto estrangeiro em Portugal a recuar 57% no primeiro semestre face ao mesmo período de 2022. “A incerteza quanto à evolução da economia global e a ‘desglobalização’ penalizam o investimento offshore”, afirma, por sua vez, Paulo Rosa, do Banco Carregosa. Para Pedro Braz Teixeira é, também, um sinal de que Portugal não está a receber frutos do “fenómeno de reindustrialização europeu” que começou em 2014 e “ganhou impulso” com a pandemia, para evitar a excessiva dependência à China.

Nem o turismo conseguiu inverter a estagnação. A queda das exportações de serviços em cadeia (5,4%) foi superior à redução dos bens (-0,6%), o que para o núcleo de economistas da Católica sugere que “o turismo estará mais frágil este ano“.

Para o NECEP, os dados das contas nacionais “continuam difíceis de interpretar por via da presença de efeitos puramente nominais”: com a recuperação-surpresa do consumo privado ou o investimento que volta a transmitir um sinal negativo, “a economia portuguesa parece estar num impasse, acompanhando a generalidade das economias europeias”. “Os efeitos acumulados da subida das taxas de juro começam a sentir-se nos dados agregados de atividade económica“, concluem.

Inflação de agosto surpreende economistas. Meta de Medina em risco

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Depois de nove meses de abrandamento, a inflação voltou a acelerar em agosto, para 3,7%, um valor que superou as expectativas de muitos especialistas. Os economistas do BPI, por exemplo, estimavam que ficasse nos 3,5%, mas apesar de o indicador ter sido superior ao esperado, acreditam que a inflação vai voltar a descer, de forma gradual e “não isenta de alguns sobressaltos”, admitindo “episódios pontuais de aumento”.

Para o aumento da inflação de agosto, contribuiu o aumento do preço dos combustíveis no retalho, nota o BPI, que também destaca a subida “relevante em temos mensais” do índice de produtos alimentares não transformados (0,95%). “Não obstante estes aumentos, consideramos que o tom vai continuar a ser de descida gradual da inflação, que aliás se verificou novamente na componente subjacente (-0,15% em termos mensais)”, refere o banco. A redução homóloga dos preços nos produtores industriais “cada vez mais expressivas”, assim como “algum” arrefecimento da procura interna, que antecipa, “terão nisto um papel importante”.

Pedro Braz Teixeira, do Fórum para a Competitividade, também admite que esta aceleração de agosto tenha sido “pontual“, até porque os preços da energia são particularmente voláteis. Mas acredita que estes 3,7% de agosto podem pôr em causa as previsões de Fernando Medina de que a inflação se vai manter abaixo dos 3% em “vários meses” da segunda metade do ano.

Essa meta, para Pedro Braz Teixeira, “fica mais difícil”, uma vez que o país já parte, em agosto, com um valor próximo dos 4%.

Segunda metade do ano mais fraca terá “pleno reflexo” da subida dos juros

Se as subidas das taxas de juro começam a sentir-se nas contas, no segundo semestre do ano esse efeito já será “pleno”. É essa a crença dos economistas do BPI: “Pela negativa, no segundo semestre do ano teremos o pleno reflexo do aumento das taxas de juro nos balanços dos agentes económicos“, lê-se na nota de análise divulgada esta quinta-feira.

Este efeito é particularmente significativo porque a grande maioria do stock de crédito à habitação tem taxa variável, o que torna a economia mais exposta ao aumento dos juros. Além disso, o BPI sublinha a “permanência de riscos globais relacionados com o setor energético” que “não permitem descartar totalmente alguns constrangimentos nos últimos meses do ano, associados por exemplo, a uma inverno mais rigoroso”.

Para o BPI, os indicadores disponíveis para o terceiro trimestre parecem apontar “para uma evolução mais modesta do PIB face ao primeiro semestre ou mesmo comparativamente a 2022″, como o indicador diário de atividade do Banco de Portugal ou a interrupção na melhoria da confiança das famílias — segundo o INE, recuou em agosto interrompendo uma trajetória de subida que se verificava desde dezembro. Por outro lado, pela positiva, admite que o investimento venha a registar desempenhos “mais positivos” por via da execução dos fundos europeus, como o PRR.

O crescimento do segundo trimestre foi “menos forte” do que os economistas do BPI esperavam, o que coloca “alguma pressão” na atual previsão para o crescimento desta instituição bancária, de 2,6% — logo, também para a estimativa mais atual do Governo, de 2,7%. Uma meta que Pedro Braz Teixeira concorda que fica ameaçada.

Em julho, Fernando Medina disse que o Governo estava mais otimista do que em abril, e que acreditava num crescimento de 2,7%, acima dos 1,8% — que ainda é a estimativa oficial, tal como constava no Programa de Estabilidade. Este valor dos 1,8%, porém, para os economistas, não deverá estar em causa. “Teria de acontecer uma grande catástrofe”, aponta Pedro Braz Teixeira.

O ministro das Finanças Fernando Medina à chegada para a reunião do Conselho de Ministros dedicado à temática da Ciência, em Aveiro, 6 de julho de 2023. JOSÉ COELHO/LUSA

Meta de 2,7% para o crescimento da economia este ano pode estar em causa

JOSÉ COELHO/LUSA

Nas contas do BPI, se a economia estagnasse no segundo semestre, o crescimento anual ficaria nos 2,1%. Mas os economistas do banco continuam a estimar crescimentos em cadeia positivos, “pelo que o crescimento no ano poderá não ficar muito abaixo dos 2,5%”.

Paulo Rosa, do Banco Carregosa, acredita, mesmo, que as revisões em alta de algumas instituições internacionais quanto à evolução do PIB português, como o FMI, venham a ser revertidas, desta vez em baixa. Ainda assim, está tranquilo em relação ao segundo semestre do ano: apesar da estagnação, “o robusto crescimento do primeiro trimestre”, de 1,6%, “suportado sobretudo pelo turismo e outras exportações, permite alguma tranquilidade para a segunda metade do ano“.

Só que continuam a pairar nuvens no horizonte: a “gradual fragilidade da economia alemã”, que ameaça com uma recessão; a subida das taxas de juro; a gradual subida dos preços dos combustíveis no último mês, que pode “penalizar o crescimento económico português, alicerçado sobretudo no turismo”. Além de que não desapareceram os “fantasmas de um cenário de estagflação, estagnação económica e inflação elevada”, que “podem regressar neste segundo semestre”, corroborada pela subida da inflação para 3,7%.

As economias da zona euro têm mostrado “desempenhos díspares”: as do sul beneficiaram do “bom momento do setor do turismo” no pós-pandemia e da deslocalização de algum turismo do leste da Europa; as economias do norte europeu, mais industrializadas, por sua vez, têm sido “penalizadas pelo fraco desempenho da economia chinesa e pelas elevadas taxas de juro que impactam negativamente o crescimento“. E essa subida poderá não terminar tão cedo. Daqui a duas semanas, a 14 de setembro, Christine Lagarde poderá estar a anunciar outra “cacetada” às famílias e empresas: aquela que seria a décima subida consecutiva das taxas de juro.

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