O chefe da diplomacia italiana, Antonio Tajani, inicia esta segunda-feira uma visita à China para gerir danos e negociar melhores termos com Pequim, apontaram vários analistas, numa altura em que Itália se prepara para abandonar a Iniciativa “Faixa e Rota”.
Itália é o único país do G7, grupo que reúne algumas das maiores economias do mundo, que assinou um memorando de entendimento no âmbito do principal programa da política externa de Pequim. O acordo expira em março de 2024, aguardando-se agora uma decisão formal da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, sobre a não renovação por mais cinco anos.
Antes de partir para a China, Tajani admitiu que a adesão de Roma à iniciativa chinesa não trouxe os resultados esperados.
O ministro acrescentou que Itália gostaria de trabalhar com Pequim, mas que quer condições equitativas.
Em agosto, o ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, fez duras críticas à decisão do anterior Executivo em aderir à iniciativa: “Foi um ato improvisado e atroz”, disse.
Exportamos um monte de laranjas para a China, enquanto [os chineses] triplicaram as exportações para Itália nos últimos três anos”, acrescentou.
Citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, Wang Yiwei, especialista em assuntos europeus da Universidade Renmin, em Pequim, argumentou que Roma “não quer realmente desistir”, mas antes negociar termos mais benéficos com a China.
Itália pode tentar usar o atual momento geopolítico, numa altura em que a China tenta melhorar as relações com os governos europeus, face às tensões com Washington e os planos da União Europeia (UE) para reduzir riscos nas relações com o país, para “reforçar o seu poder negocial”, observou.
Embora a China valorize a participação de Itália, não se vai deixar sequestrar por ameaças de desistência”, disse.
Para Noah Barkin, especialista nas relações Europa — China da consultora Rhodium Group, Tajani está numa “missão de gestão de danos“, para assegurar que Pequim não retaliará, caso Roma desista do acordo.
É pouco provável que Pequim inicie uma nova disputa com uma capital europeia, numa altura em que está desesperada para atrair investimento europeu”, notou.
“O facto de não ter retaliado contra a Holanda, que restringiu o fornecimento de tecnologia para produção de chips semicondutores, mostra que [a China] está preparada para ‘fingir que não viu’, em prol da estabilidade nos laços com a UE”, frisou.
O investimento estrangeiro na China caiu para o nível mais baixo dos últimos 25 anos, no segundo trimestre do ano. O número de empresas da UE que veem a China como o seu principal mercado de investimento também atingiu um mínimo histórico, de acordo com um inquérito da Câmara de Comércio Europeia no país asiático.
O projeto internacional “Faixa e Rota” inclui a construção de portos, linhas ferroviárias ou autoestradas, criando novas rotas comerciais entre o leste da Ásia e Europa, Médio Oriente e África.
O maior relacionamento entre Pequim e os países envolvidos abarca um incremento da cooperação no âmbito do ciberespaço, meios académicos, imprensa, regras de comércio ou acordos financeiros, visando elevar o papel da moeda chinesa, o yuan, nas trocas comerciais.
Lançada em 2013 pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a iniciativa simboliza uma mudança na política externa da China, de um perfil discreto para uma postura mais assertiva.
Muitos países consideraram que os resultados da cooperação com a China ficaram aquém das expectativas.
Em 2019, havia expectativas irracionais sobre o que aquele acordo poderia trazer para Itália, mas [a adesão] acabou por não gerar grandes vantagens”, afirmou Noah Barkin.
As exportações italianas para a China permaneceram praticamente estáveis, enquanto o investimento estrangeiro direto chinês no país afundou.
Dados do Rhodium Group indicam que o investimento estrangeiro direto da China em Itália caiu de 650 milhões de dólares, em 2019, para apenas 20 milhões de dólares, em 2020, e 33 milhões de dólares, em 2021.