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O filho dos Pirenéus quer levar a França ao topo: Antoine Dupont, a esperança gaulesa para conquistar o Mundial de râguebi

Este artigo tem mais de 1 ano

Cresceu na montanha, tornou-se capa da GQ. A França recebe o Mundial que arranca este sexta-feira e conta com maior estrela para vencer pela primeira vez o torneio. Gauleses estão entre os candidatos.

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Médio de formação foi considerado melhor jogador do mundo em 2021 e já ganhou por três vezes o Top14

World Rugby via Getty Images

Médio de formação foi considerado melhor jogador do mundo em 2021 e já ganhou por três vezes o Top14

World Rugby via Getty Images

Parece ser de loucos colocar nas costas de uma pessoa de 1,75 m e 85 quilos a esperança da conquista de um Campeonato do Mundo de râguebi. Força não é que lhe falte, ombros para carregar as expectativas do país anfitrião também não. Antoine Dupont não é dos jogadores que mais se envolve em pujantes empurrões e placagens afirmativas até porque não tem compleição para isso. Por vezes convém ser dos mais finos para passar pela malha apertada dos graúdos. Também é daqueles que não perde uma oportunidade para chutar a bola e até está habituado a imitar um dos melhores futebolistas franceses.

A seleção francesa vai tentar, a jogar em casa, vencer pela primeira vez um Mundial. Depois das frustrações de três segundos lugares e da eliminação nos quartos de final nas últimas duas edições (2015 e 2019), a imagem dos Bleus tem-se espalhado um pouco por toda a França. Antoine Dupont dá a cara num anúncio de uma marca de água. O vídeo não é propriamente original, visto que se trata de um remake de uma versão de 2000 em que o protagonista foi Zinedine Zidane. Para fazer o mesmo papel de Zizou não se pode ser menos do que uma estrela.

Antoine Dupont está habituado a ser o centro das atenções. Todos os guias especializados de lançamento do Mundial o indicam como o jogador a ter em conta na seleção de França. Dan Carter, antiga estrela da modalidade, considerou-o recentemente como o melhor jogador do mundo. “Nos últimos três ou quatro anos, ele tem sido o mais forte e consistente”, considerou o neozelandês em declarações ao Le Figaro. “Fiquei um pouco nervoso por ele quando se tornou capitão, mas mostrou, com o seu caráter e personalidade, e isso afinal não o mudou nada. Ele ainda é o mesmo jogador”, continuou. “A sua calma, leitura capacidade de mudar o rumo do jogo e as suas qualidades técnicas continuam impressionantes”. É caso para dizer que é considerado o melhor jogador do mundo e também o mundo o considera o melhor jogador. A versão francesa da revista GQ colocou-o na capa na edição de janeiro.

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Todo o foco mediático que está a receber não significa que Antoine Dupont goste de dar nas vistas. Afinal, o capitão da seleção francesa veio de Castelnau-Magnoac, uma localidade escondida no meio dos Pirenéus. Uma reportagem do The Guardian, que recolhe testemunhos de familiares, conta que sempre que pode, o jogador do Stade Toulousain regressa a casa. “Acho que é por isso que ele volta”, explica a prima Gaëtan Rousse ao jornal britânico. “Ele sabe que vai ver pessoas que conhece, não tem necessariamente a atenção nele como na cidade”.

Foi ali, onde o ambiente é tão familiar que existe um hotel com o nome “Dupont”, gerido até 2012 por várias gerações da família do jogador, que Antoine começou a praticar o desporto que, pelo menos por ali, é rei. “Podemos fazer outras coisas, mas todos ao meu redor, mesmo aqueles que entretanto pararam, jogaram num clube ou na escola. É um passo obrigatório”, disse à GQ o jogador que se estreou no FC Magnoac onde começou por jogar contra atletas mais velhos. Aos 15 anos, rumou Auch, onde permaneceu até 2014. Seguiu-se o Castres e, depois, o Stade Toulousain, clube que represente atualmente com 26 anos. Venceu três vezes o Top14, o escalão máximo do râguebi francês, e foi uma vez campeão europeu de clubes. Em 2021, foi eleito melhor jogador do mundo, distinção que atualmente pertence ao irlandês Josh van der Flier.

“Não suporto não ser bom”, partilhou com a GQ, analisando também o prémio individual. “É sempre difícil, como em todos os desporto coletivos, ser destacado. Esse prémio é um prazer enorme, tenho muito orgulho, mas sinto mais prazer em ganhar um título com os meus amigos do que em ganhar um troféu sozinho. E isso nunca mudará. É também por isso que praticamos desportos coletivos. É melhor erguer o troféu de campeão no Capitólio [de Toulouse], diante do público do que erguer o de melhor jogador do mundo sozinho em casa. Se ganhei esse prémio foi porque as equipas em que joguei eram fortes e os meus companheiros eram fortes. Eu não faço tudo sozinho”.

5.000 pessoas receberam a seleção nacional francesa na chegada a Rueil-Malmaison, quartel-general da equipa durante o Mundial, dias antes da estreia diante da Nova Zelândia esta sexta-feira (SportTV3, 20h15). A expectativa em torno da seleção é grande. O Presidente da República, Emmanuel Macron, ainda em Marcoussis, visitou os Bleus e deixou palavras de incentivo. “Entrem na competição com determinação. São a equipa mais bem preparada. Conto com vocês”, afirmou o governante francês. “Vocês são grandes campeões. Têm grandes individualidades”, confessou numa roda com os jogadores. “Tenho a certeza de uma coisa: vocês são a melhor equipa”.

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Emmanuel Macron encontrou-se com a seleção francesa em Marcoussis

POOL/AFP via Getty Images

Embalada pelas palavras de Macron, a equipa da França (grupo A) tem uma palavra a dizer na corrida ao título. Atualmente no terceiro lugar do ranking, os gauleses vêm de um segundo lugar no Torneio das Seis Nações de 2023, prova que foi vencida pela Irlanda (grupo B), atualmente equipa número um do mundo e um dos principais adversários dos franceses na luta pelo troféu. A África do Sul (grupo B) vai tentar defender o título e tem por isso uma palavra a dizer nas contas finais.

“Além de acolher este evento que é global, que é o Santo Graal do nosso desporto em França, a pressão deve-se principalmente ao facto de as pessoas esperarem muito de nós. Tivemos resultados convincentes nas últimas temporadas, estando nos primeiros lugares do ranking mundial, e hoje todos querem ver-nos erguer este troféu”, explicou Dupont na conferência de imprensa de antevisão ao jogo contra a Nova Zelândia. “Estamos todos investidos numa missão, todos temos a responsabilidade de fazer algo grande neste Mundial. Sou capitão desta equipa, por isso estou mais destacado que os outros, mas penso que temos uma vontade feroz de sermos incluídos na lista de vencedores desta competição, algo que nenhuma seleção francesa de râguebi conseguiu fazer até agora”.

Ainda assim, a França não está afastada de polémica. Bastien Chalureau foi convocado para o Mundial, tendo sido chamado para o lugar do lesionado Paul Willemse. Chalureau foi condenado a seis meses de prisão em 2020 por crimes de violência racial contra dois jogadores de râguebi nas ruas de Toulouse. Apesar de ter assumido as agressões, o atleta de 31 anos disse não o ter feito por motivos raciais e recorreu da decisão, voltando a ser ouvido após o Mundial. No entanto, a presença do jogador na equipa francesa tem estado a gerar polémica. Deputados e antigos internacionais contestam a decisão do selecionador Fabien Galthié.

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Bastien Chalureau na conferência de imprensa em que reiterou não ter tido comportamentos racistas

AFP via Getty Images

“Não sou racista”, afirmou em conferência de imprensa. “Isso [as críticas] não me afetam apenas a mim, afetam também a minha família, por isso queria vir falar com vocês para esclarecer a situação. O râguebi une pessoas de diferentes comunidades, essa é a beleza deste desporto”, referiu Bastien Chalureau que não faz parte dos convocados para o jogo contra a Nova Zelândia. O XV da França para o jogo inaugural é composto por Thomas Ramos, Damian Penaud, Gaël Fickou, Yoram Moefana, Gabin Villière, Matthieu Jalibert, Antoine Dupont, Grégory Alldritt, Charles Ollivon, François Cros, Thibaud Flament, Cameron Woki, Uini Atonio, Julien Marchand, Réda Wardi.

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