O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, “vai dar início” às obras de construção do centro Magalhães, o primeiro lar para portugueses em Toronto, durante a visita ao Canadá, na próxima semana, disse à Lusa fonte da organização.

“No próximo sábado [16 de setembro] vamos fazer a inauguração oficial do projeto. Já estava planeado, mas surgiu a oportunidade devido à visita do Presidente da República”, afirmou Manuel da Costa, presidente do Conselho de Administração do Magellan Community Charities.

De acordo com o empresário, esta será uma boa oportunidade para Marcelo Rebelo de Sousa “ajudar na construção” e até terá uma “pá especial” para esse “trabalho simbólico”, num projeto de “extrema importância para a comunidade portuguesa”.

O Presidente da República vai estar no Canadá, de 13 a 17 de setembro, numa visita de trabalho, com passagens por Montreal e por Toronto.

Este será o primeiro lar de cuidados continuados para idosos de língua portuguesa em Toronto, composto por um edifício com 256 camas, 57 unidades de habitação a preços acessíveis, estando ainda prevista a construção de um centro comunitário.

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A inflação e a pandemia vieram atrasar os planos, mas o projeto do centro Magalhães “está no bom caminho”, devendo ficar concluído dentro de aproximadamente três anos, disse o responsável.

“As dificuldades são enormes porque com a inflação e os custos a subirem temos uma incerteza no que vamos enfrentar com os custos de construção, porque agora pode ser um dólar, mas amanhã podem ser dois. Como vivemos com dinheiros doados, não sabemos o que se vai passar no futuro, mas temos fé que a comunidade portuguesa vai continuar a apoiar este projeto”, disse.

Manuel da Costa referiu que “só todos juntos é que será possível concluir este projeto de uma comunidade para uma comunidade”.

O projeto está orçado 100 milhões de dólares canadianos (68,4 milhões de euros), um financiamento obtido através de doações e empréstimos de instituições financeiras, e por apoios dos governos federal, provincial e municipal.

“Só dentro de três a quatro semanas é que teremos mais detalhes sobre os custos totais. Neste momento, na angariação de fundos dentro da comunidade, são necessários mais sete milhões de dólares canadianos (4,8 milhões de euros)”, frisou.

Em abril de 2018, quando lusodescendente Charles Sousa era o ministro das Finanças do Ontário, o ministério da Saúde e de Cuidados de Longo Termo da província canadiana atribuiu ao Centro Magalhães a licença de 256 camas de cuidados prolongados.

Cerca de um ano depois, a Câmara Municipal de Toronto anunciou a cedência para o projeto de um terreno, localizado no número 640 da Lansdowne Avenue, iniciativa também inserida no programa de habitações a preços acessíveis do município.

O terreno municipal foi cedido por um período de 99 anos com o custo simbólico de um dólar por ano, ficando isento do imposto predial, numa parceria inédita da autarquia.

O município de Toronto vai ainda ser responsável pela construção de uma zona verde e por unidades de habitação a preços acessíveis.

Na cerimónia oficial de arranque da construção do centro Magellan participam, além de Marcelo Rebelo de Sousa, também o secretário de Estado das Comunidades, Paulo Cafôfo, o deputado federal luso-canadiano Charles Sousa, a presidente da Câmara Municipal de Toronto, Olivia Chow, e a vereadora da Davenport Alexandra Bravo.

De acordo com o recenseamento de 2021, a comunidade portuguesa no Canadá é constituída por 448.305 pessoas, que declararam ser de “origem portuguesa”, ou seja, portugueses e lusodescendentes.

Existiam 166.651 portugueses inscritos na rede consular no Canadá em 2022.

Portugueses chegaram há 70 anos e novas gerações estão mais diferenciadas

A comunidade portuguesa no Canadá, que o Presidente da República visita a partir de quarta-feira, trabalha maioritariamente na construção civil, restauração, pequeno comércio e serviços, embora as gerações mais recentes desempenhem funções mais diferenciadas e cargos políticos.

Marcelo Rebelo de Sousa visita este país entre quarta-feira e 17 de setembro, numa deslocação que assinala os 70 anos da chegada dos primeiros portugueses àquele país.

Sete décadas depois, a comunidade de portugueses e lusodescendentes é constituída por 448.305 pessoas, segundo dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que cita o Censo de 2021.

Esta comunidade trabalha, na sua grande maioria, em regime de trabalho por conta de outrem, na construção civil, restauração, pequeno comércio e serviços, nomeadamente de manutenção/limpeza de edifícios.

Existem ainda trabalhadores nas áreas tecnológicas e na administração pública (federal e local).

Mas a comunidade tem vindo a registar alterações, existindo hoje também, nas segunda e terceira gerações, e principalmente nos grandes centros urbanos (Vancouver, Toronto e Montreal), pequenos, médios e grandes empresários, profissionais liberais, prestadores de serviços, artistas, escritores, académicos, investigadores, quadros superiores de grandes empresas e da administração pública.

E também deputados (federais e/ou provinciais), presidentes de câmara e vereadores, adjuntos e membros de gabinetes, funcionários públicos, desportistas de alta competição e altos dirigentes sindicais.

O MNE português sublinha que, enquanto a tendência dos emigrantes portugueses das primeiras vagas migratórias era para orientarem os filhos para a entrada imediata no mercado de trabalho, nas seguintes gerações tem sido dada uma maior relevância ao investimento na educação.

Em termos de áreas de jurisdição, a referente à secção consular da Embaixada de Portugal em Otava, a comunidade portuguesa encontra-se localizada, na sua maioria, na área geográfica correspondente à área metropolitana composta pelas cidades de Otava (incluindo Vanier, Orléans, Gloucester e Kanata) e Kingston no Ontário, e Gatineau (incluindo Hull e Aylmer), no Quebeque.

De acordo com o Censo de 2021, na região de Otava/Gatineau residem 15.045 portugueses e 3.560 em Kingston.

Na área de jurisdição do Consulado Geral em Montreal, a maioria reside em Montreal e nas cidades limítrofes de Laval, Longueueil, Brossard e Saint-Thérèse.

Na província do Quebeque, registam-se 2.600 portugueses na cidade do Quebeque.

Nas províncias marítimas, são 2.990 os portugueses e lusodescendentes residentes na Nova Escócia (maioritariamente em Halifax), sendo que 2.095 vivem na província de Nova Brunswick.

Na área de jurisdição do consulado geral em Toronto, as principais áreas de fixação são, no Ontário, as cidades de Toronto (180.820), Hamilton (20.955), Kitchener–Cambridge–Waterloo (19.950) e London (13.265).

Na Província do Manitoba, a principal área de fixação desta comunidade é a cidade de Winnipeg (11.785).

No território de Nunavut residem 100 portugueses e lusodescendentes.

Relativamente à área de jurisdição do consulado geral em Vancouver, as principais áreas de residência são, na Província da Colúmbia Britânica, Vancouver (22.980), Victoria (3.955), Kelowna (1.620) e Prince George (910).

Na Província de Alberta, a comunidade fixou-se maioritariamente em Edmonton (10.330) e Calgary (7.790), enquanto na Província de Saskatchewan optou pelos dois principais centros urbanos, Saskatoon (870) e Regina (455).

Nos territórios do noroeste e na província de Yukon residem, respetivamente, 75 e 95 portugueses e lusodescendentes, sendo Yellowknife e Whitehorse as cidades de maior concentração.

No ano passado, Portugal e o Canadá celebraram 70 anos de relações diplomáticas. Este ano assinalam-se sete décadas sobre a chegada dos primeiros imigrantes portugueses oficialmente registados, em 1953.

O chefe de Estado estará em Montreal e Toronto e terá encontros com representantes da comunidade portuguesa, confirmou à Lusa fonte do Palácio de Belém.

Visita pode incentivar jovens a lutar pelo futuro das associações

O presidente da Associação Portuguesa do Canadá (APC) diz esperar que a visita do Presidente da República ao país motive os jovens lusodescendentes a “não deixarem morrer as associações”.

“É uma forma de mostrar o reconhecimento por nós, pelo trabalho que temos feito na promoção de Portugal aos canadianos e não só. Para motivar os jovens a darem continuidade para permanecermos com as portas abertas”, disse Jason Luzio, de 42 anos.

O dirigente, filho de emigrantes de Alcanena (Santarém), natural de Montreal, mostrou-se ainda orgulhoso de se identificar mais como português, apesar de ter nascido no Canadá.

“É importante que os jovens no Canadá saibam quem é Marcelo. Não nasci lá, mas sou também português. Estou muito feliz”, afirmou.

A APC, fundada em 1956, é a associação portuguesa mais antigo no Canadá.

Portugal e o Canadá estão a assinalar este ano o 70.º aniversário da imigração oficial portuguesa para o Canadá, tendo celebrado em 2022 sete décadas de relações diplomáticas.

Também o empresário Jack Prazeres, natural da Lourinhã, no Canadá desde os 12 anos, em 1974, considera que as relações entre os dois países “ficam mais fortes” com a visita do Presidente da República, entre 13 e 17 de setembro.

O empresário e líder comunitário realçou que a comunidade “está envelhecida” e muitos não tiveram muitas “oportunidades de regressarem” a Portugal.

“A presença do Presidente da República é mais um sinal para eles que realmente vão gostar, porque nunca tiveram aquela relação. Infelizmente há muitos portugueses que nunca voltaram lá ou não tão frequentemente. Esta visita fortalece as relações e promove também o turismo a Portugal”, realçou.

No entanto, também será importante que Marcelo Rebelo de Sousa passe algum tempo “dentro da comunidade, ouvindo e falando com as pessoas”, considerou.

“O Presidente consegue sempre fazer algo pelos problemas dentro do governo. Todas as comunidades têm os seus problemas, é importante ultrapassar as barreiras que temos”, referiu.

Segundo fontes da comunidade, a visita de trabalho de Marcelo Rebelo de Sousa começa no dia 13 de setembro, em Montreal, estando prevista uma receção pela comunidade portuguesa, no dia seguinte.

Em Toronto, no dia 15, O Presidente da República encontrar-se-á com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e vai inaugurar a exposição no Toronto Metro Hall, Movimento Perpétuo — A Diáspora Portuguesa para o Canadá. Participa ainda num jantar no ‘The National Club’ em Toronto, organizado pelo Conselho da Diáspora Portuguesa.

No sábado, dia 16 de setembro, está prevista uma visita à Galeria dos Pioneiros e o lançamento da primeira pedra no terreno do futuro centro Magalhães, o primeiro lar para idosos da comunidade portuguesa. À noite, no salão do sindicato da construção LiUNA Local 193, terá lugar um jantar de homenagem ao Presidente da República.

No domingo, Marcelo Rebelo de Sousa irá marcar presença na missa matinal, antes de viajar para Nova Iorque (Estados Unidos), onde participará na 78.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, entre 17 e 23 de setembro.

Língua em risco e associativismo entre principais problemas da comunidade

O conselheiro Daniel Loureiro apontou o risco de a língua portuguesa se perder e o envelhecimento do movimento associativo como os principais problemas da comunidade portuguesa no Canadá, que o Presidente da República visita na próxima semana.

“O Presidente tem que ouvir questões como as barreiras linguísticas, preocupações dos jovens, das mulheres e do próprio movimento associativo. Pode não ter necessariamente um impacto direto nestas questões, mas também pode ter uma palavra a dizer ou a passar a mensagem. Podemos vir a perder a língua (portuguesa) devido à não transmissão de pais para filhos, ou de avós para netos. Temos um movimento associativo a envelhecer. Portugal pode ajudar”, frisou o conselheiro das comunidades portuguesas, a visita de Marcelo Rebelo de Sousa, na próxima semana, será uma boa oportunidade para “expor alguns dos desafios que a comunidade ainda enfrenta”.

Daniel Loureiro, de 33 anos e licenciado em comunicação social, lembrou que a última visita de um Presidente português ao Canadá “teve lugar há cerca de 20 anos”, pelo que esta é uma boa oportunidade para abordar os problemas da comunidade.

Portugal e o Canadá estão a assinalar este ano o 70.º aniversário da imigração oficial portuguesa para o Canadá, tendo celebrado em 2022 sete décadas de relações diplomáticas.

Para o conselheiro das comunidades, o que a comunidade tem feito nos últimos 70 anos “tem sido muito positivo”, mas também tem de se transmitir ao Presidente da República preocupações que são “muito importantes para a comunidade”.

, Daniel Loureiro realçou a importância de se transmitir estas mensagens a Marcelo Rebelo de Sousa “sobre a dificuldade na transmissão na língua e os desafios do movimento associativo”.

“A presença do Presidente da República é muito positiva, ajuda na transmissão e divulgação dessas mensagens e pode ser a ponte de transmissão para esses problemas, mas também há muitos aspetos positivos que podem ser transmitidos”, acrescentou o conselheiro, filho de emigrantes de Alcanena (distrito de Santarém), eleito para o órgão consultivo do Governo português em 2015.

Para o conselheiro da Diáspora Portuguesa, Wilson Teixeira, esta visita é importante pelo reconhecimento à comunidade portuguesa no Canadá.

Nomeado para o conselho sob o alto patrocínio do Presidente da República, em maio passado, o empresário sublinhou que a presença de Marcelo Rebelo de Sousa no Canadá será uma “aproximação à diáspora e servirá também para promover a marca Portugal”.

“A presença pode legitimar os valores e a cultura e dar um apoio moral à nossa sociedade, à nossa comunidade, que tem sido instrumental no crescimento da própria sociedade canadiana”, destacou.

Para o empresário, trata-se ainda de um “reconhecimento do impacto e da importância dos portugueses cá fora”.