É capaz de matar animais, de danificar colheitas, de infestar equipamentos elétricos e carros e até de causar choques anafiláticos em humanos. A temida formiga vermelha já chegou à Europa, como mostra um estudo publicado esta segunda-feira, e ameaça espalhar-se pelo Velho Continente se nada for feito, alertam os especialistas.

A formiga vermelha, uma das espécies invasores consideradas mais difíceis de combater, foi detetada na ilha italiana da Sicília. Os investigadores do Instituto de Biologia Evolutiva, da Universidade Pompeu Fabra (em Barcelona), identificaram 88 colónias, numa área de cinco hectares, perto da cidade de Siracusa, no sul da Sicília.

Os habitantes da zona começaram a queixar-se de picadas dolorosa de formigas em 2019, facto que alertou as autoridades italianos, que enviaram fotos das formigas para o Instituto de Biologia Evolutiva, disse, ao jornal El Mundo, Roger Vila, investigador principal do estudo. Os investigadores deslocaram-se depois a Itália e acabaram por confirmar o estabelecimento destes animais em território europeu, pela primeira vez. “Pudemos confirmar que se trata desta espécie perigosa”, disse Roger Vila. Anteriormente, já tinham sido encontradas algumas formigas desta espécie na Europa em produtos importados (em países como Espanha, Finlândia e Holanda) mas não de forma consolidada.

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A formiga vermelha tem uma picada dolorosa, capaz de matar animais (como aves) e de causar choques anafiláticos em humanos — trata-se de reações alérgicas graves, que podem levar à morte. A picada é semelhante à causada pela vespa asiática, outra espécie invasora, amplamente instalada na Europa. “Esta formiga injeta substâncias chamadas alcalóides, que, dependendo da pessoa, podem causar maior ou menor reação. O normal é que a pessoa tenha uma erupção cutânea, mas, numa percentagem baixa da população, causa um choque anafilático”, alerta o investigador.

Esta espécie de formiga tem capacidade para destruir culturas agrícolas e de infestar equipamentos elétricos, incluindo carros e computadores. Podem formar rapidamente colónias de grandes dimensões, com várias rainhas, sublinha o Guardian. Uma vez implantadas, estas colónias podem destruir plantas nativas e ameaçar outras espécies de formigas e de insetos.

As formigas vermelhas são originárias da América do Sul e terão chegado à Sicília através do porto desta cidade, vindas da China ou dos EUA, países onde estão há muito estabelecidas. Na Austrália, onde chegaram no início deste século, estes animais estão a ameaçar a realização de churrascos em diversas zonas, garante Roger Vila. “Um dos problemas desta formiga é que ela vive muito bem em ambientes urbanos – adora jardins, relva em torno de piscinas ou casas”, realça o especialista. A Austrália está a investir mais de 230 milhões de euros num plano para erradicar a espécie, até agora sem sucesso. A Nova Zelândia foi o único país a conseguir erradicar a formiga vermelha do seu território, em 2009, mas as autoridades demoraram três anos para destruir um único ninho, garante Vila.

Os investigadores do Instituto de Biologia Evolutiva alertam que o continente europeu tem características favoráveis à propagação da formiga vermelha. “Pode espalhar-se por boa parte das áreas urbanas do sul da Europa e do norte da Europa onde não esteja frio extremo, principalmente pelas principais cidades costeiras do Mediterrâneo e outras grandes cidades que tenham grandes parques”, avisa Roger Vila, enumerando cidades como Paris, Londres, Roma ou Barcelona.

Os esforços devem, por isso, ser direcionados para a prevenção. “Esforços coordenados de deteção precoce e resposta rápida são essenciais para gerir, com sucesso, esta nova ameaça, antes que ela se espalhe de forma incontrolável”, realça o investigador.