O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse esta terça-feira recear que a junta militar que governa o Níger, desde o golpe de Estado de 26 de julho, tenha menos controlo sobre os fluxos migratórios a partir do Sahel.

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“Receamos que o novo regime militar não se preocupe tanto com isso [as migrações] e que não se importe que mais pessoas tentem atravessar o Saara correndo risco de vida“, declarou Borrell, durante um debate no Parlamento Europeu sobre os recentes golpes militares na região, nomeadamente no Níger e no Gabão.

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O Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros sublinhou que o Presidente deposto, Mohamed Bazoum, estava disposto a cooperar com a União Europeia (UE) no combate às causas profundas da pressão migratória, como “o crescimento descontrolado da população e a falta de capacitação das mulheres”.

Borrell afirmou que a “grande preocupação” de Bazoum era evitar que as mulheres fossem obrigadas a casamentos forçados “para que não iniciassem o seu ciclo reprodutivo aos 15 anos”, bem como o controlo das fronteiras.

O Níger não é um ponto de partida para os migrantes, mas é um ponto de passagem e, de acordo com Borrell, o país conseguiu reduzir o movimento migratório em 75% desde 2016.

Este caminho de passagem será, sem dúvida, menos controlado pela junta militar do que por um regime democrático eleito pelos nigerinos e por um parceiro de confiança como o Presidente Bazoum”, afirmou o chefe da diplomacia europeia.

Perante o golpe de Estado no Níger, liderado pelo general Abdourahamane Tchiani, antigo chefe da Guarda Presidencial, que descreveu como uma “revolta palaciana”, Borrell reiterou o apoio à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) na sua posição sobre Niamey e a “não dar sinais de abertura que possam reforçar o regime militar”.

Borrell disse ser a favor de “repensar” a presença da União Europeia no Sahel, onde as missões de treino militar que a UE enviou para o Burkina Faso, Mali e planeou para o Níger não atingiram o objetivo de ajudar os governos a combater o terrorismo, porque os militares acabaram por tomar o poder.

Nos últimos dez anos, a UE gastou 600 milhões de euros em missões civis e militares na região, segundo Borrell, que reconheceu que a política europeia no Sahel “não foi certamente coroada de êxito”.

Por essa razão, referiu a possibilidade de assinar acordos com países africanos para levar a cabo “uma missão diferente”.

No entanto, Borrell afirmou que a UE não se deve autoflagelar e manifestou a sua solidariedade com Paris face ao movimento anti-francês que está a emergir no Sahel, uma vez que “a França tem sido um alvo fácil para os militares que se aliaram ao grupo Wagner”.

Desde o golpe de Estado, as relações entre o Níger e França têm sido tensas. A junta militar anulou os seus acordos de cooperação com Paris, que continua a ter militares destacados no Mali, onde participaram na operação “Barkhane” de luta contra o terrorismo.

Sem dúvida que não se fez o suficiente, mas também não devemos pensar que, após tantos anos de independência, a culpa é toda da herança colonial ou da utilização dos seus recursos. Há uma literatura que não ajuda na procura de soluções para os problemas reais”, concluiu.