O BCE toma nesta quinta-feira uma nova decisão sobre as taxas de juro na zona euro e, em simultâneo, divulga um conjunto de projeções macroeconómicas atualizadas que devem estimar uma inflação média acima de 3% não só este ano mas também em 2024. A confirmar-se que será essa a projeção feita pelo BCE, isso significa que os economistas do banco central reconhecem que a inflação irá descer mais lentamente do que o previsto – o que reforça a ideia que Christine Lagarde poderá anunciar esta quinta-feira uma nova subida das taxas de juro, a décima consecutiva.
Fontes próximas do processo disseram à agência Reuters, na noite de terça-feira, que a previsão de inflação para 2024 irá mesmo apontar para um valor acima de 3%. Nas últimas semanas vários economistas e bancos de investimento admitiram que o valor poderia ficar abaixo dessa fasquia – potencialmente em 2,7%, que é a média atual das projeções dos economistas para 2024. Porém, fazendo fé na informação transmitida à Reuters, em Frankfurt deverá vingar entre os economistas do Banco Central Europeu (BCE) a ideia de que a inflação irá baixar muito mais lentamente do que isso, mantendo-se mais tempo longe do objetivo de 2%.
Os analistas dos bancos de investimento têm-se manifestado muito divididos sobre aquilo que será a decisão do BCE sobre as taxas de juro, esta quinta-feira. Mas a confirmação de que os economistas de Frankfurt veem a inflação acima de 3% em 2024 reforça a expectativa de que a autoridade monetária poderá avançar para mais uma subida das taxas de juro, que seria a décima consecutiva e elevaria para 4% a taxa mais relevante para a política monetária neste momento, que é a chamada “taxa dos depósitos”.
“A reunião do Conselho do BCE desta quinta-feira surge numa altura em que existem sinais divergentes sobre aquilo que devem ser as próximas políticas”, afirma Martin Wolburg, economista da Generali Investments em nota de antecipação. “Por um lado, as estimativas sobre as expectativas de inflação continuam teimosamente elevadas“, afirma o economista, destacando que as negociações salariais coletivas na zona euro estão a levar a aumentos que superam os 4%, o que “é algo que não tem precedentes” na zona euro e é uma “ameaça para a estabilidade dos preços” porque as empresas depois vão tentar repercutir esses aumentos dos custos salariais nos preços.
“Por outro lado”, aponta o especialista, “os últimos dados sobre a atividade económica têm surpreendido pela negativa e irão levar o BCE a rever em baixa, de forma significativa, as suas projeções globalmente otimistas para o crescimento”.
Pesados os dois lados da balança, num “debate que será muito renhido“, o BCE deverá acabar por não subir as taxas de juro nesta reunião de setembro, aposta Martin Wolburg. Ainda assim, mesmo que essa expectativa se confirme, “a decisão de manter as taxas de juro inalteradas deverá vir acompanhada de um discurso relativamente agressivo, para deixar claro que não se deve interpretar esta decisão como o fim do ciclo de aumentos das taxas de juro”.
O resultado da reunião desta quinta-feira poderá ser, na ótica do economista da Generali Investments, a chamada “pausa” que também foi seguida dos EUA, pela Reserva Federal. O banco central norte-americano teve uma reunião em que decidiu não mexer nas taxas de juro, para dar algum tempo para monitorizar os efeitos das subidas anteriores, mas isso não o impediu de voltar novamente às subidas na ocasião seguinte.
Um fator que adensa a dúvida sobre a mexida nas taxas de juro é que alguns dos membros do conselho tendencialmente mais propensos a apertar a política monetária estarão nesta quinta-feira sem direito de voto, devido à rotação normal que acontece nas reuniões do Conselho do BCE. Mas, apesar deste efeito, boa parte dos analistas continua a ver como cenário mais provável que o BCE aumente as taxas de juro em mais 25 pontos-base, para 4%.
É a opinião, por exemplo, de Franck Dixmier, diretor global de investimentos em obrigações da Allianz Global Investors (AllianzGI). “Acreditamos que esta desaceleração do crescimento na zona euro ainda não é suficientemente preocupante para justificar uma pausa, enquanto os níveis de inflação ainda estão longe da meta do BCE“, afirma o especialista.
Para Franck Dixmier, esta quinta-feira “é o momento certo para [o BCE] continuar a limitar as condições monetárias” e até pode nem ser o último aumento das taxas de juro que a autoridade monetária irá fazer este ano. Essa é a expectativa da generalidade dos economistas – que haja apenas mais um aumento de 25 pontos-base, agora em setembro ou mais tarde – mas a AllianzGI avisa que esta pode ser uma visão incorreta. Os juros podem subir para pelo menos 4,25% na zona euro, um nível que pode ser atingido ainda em 2023, afirmam os economistas da AllianzGI.
O aumento das taxas de juro para 4% já está refletido e incorporado na evolução diária das taxas Euribor, que têm estabilizado mas mantêm-se insistentemente acima dos 4% no prazo a 12 meses. Caso se forme a perceção nos mercados financeiros de que este aumento dos juros pode não ser o último, isso poderá refletir-se nas próximas semanas em novas subidas das Euribor, que servem de indexante à larga maioria dos créditos à habitação em Portugal.
O Governo de António Costa está a preparar um conjunto de “melhorias” no pacote de medidas de apoio para quem está a ser mais penalizado, depois de a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, ter reconhecido que o diploma já lançado há vários meses não teve a procura e o acesso que o Governo previa.
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O Banco Central Europeu anuncia a sua decisão às 13h15, hora de Lisboa, com a habitual conferência de imprensa de Christine Lagarde a partir das 13h45.