Ao longo de 37 dias, aconteceu de tudo um pouco no universo FC Porto. Houve a derrota na Supertaça frente ao Benfica em Aveiro, três jornadas iniciais do Campeonato a ganhar com empates ao intervalo e duas com vitórias surgidas apenas nos descontos, um polémico empate com o Arouca aos 90+19′ num jogo marcado pela falha do VAR e tudo o que se seguiu. Pelo meio, fora dos relvados, houve ainda outros casos como as críticas ao técnico de Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto e membro do Conselho Superior do clube, e as declarações de Carlos Xavier sobre Taremi, entretanto corrigidas na forma mas não no conteúdo. Agora, 37 dias depois, Sérgio Conceição surge num papel que dava para tudo. De treinador, para comentar como viu o início da temporada dos dragões. De portista, para falar sobre as “farpas” de que foi alvo. De comentador, para abordar a questão do avançado iraniano. Não se furtou a nenhum tema. E ainda foi mais longe.

“Não quero fugir a nada. Ao presidente da Câmara, pelo respeito pela cidade que ele preside a que tanto devo e gosto, não devo responder. Ao vice do Conselho Superior, acho que há pessoas adequadas para responder, nomeadamente o nosso presidente e o doutor Lourenço Pinto, que é o líder do órgão. Ao adepto, há muitos que com certeza terão uma crítica mais ou menos agressiva, adepto é adepto. Como ele teve protagonismo, vou responder em público. A forma é enganadora, o meu passado é indelével. Não se pode apagar, são dez títulos, nos últimos sete nacionais ganhei cinco. Nestes seis anos, entre receitas e gastos há um saldo positivo de mais de 600 milhões de euros”, começou por referir em relação às críticas de Rui Moreira.

“Estamos sempre sujeitos à crítica e normalmente os verdadeiros adeptos do FC Porto têm de perceber que estamos num ano difícil. Passámos alguns anos sob alçada do fair play financeiro, mas tivemos boas prestações na Europa, o que fez com que tivéssemos saído desse garrote. Estamos num ano difícil, os adeptos têm de ser inteligentes para perceber que num ano eleitoral há muita gente a querer posicionar-se. A minha mensagem é para o verdadeiro adepto, aquele que espera três ou quatro horas aqui por autógrafos, que acompanha a equipa, ao sol, à chuva, ao vento, temos mesmo de estar juntos. Quando vejo um adepto criticar com a forma e o conteúdo que foi, não gostará desta grandíssima instituição”, acrescentou.

Comentários de Carlos Xavier sobre Taremi? A crítica que interessa ao Taremi é a dos colegas e da equipa técnica, que é sempre construtiva. É isso que me interessa a mim e ao Taremi”, disse.

“Como tenho visto o FC Porto até aqui? Nós, treinadores, procuramos sempre mais. Houve momentos de grande brilhantismo nestes sete anos, mas mesmo assim havia espaço para melhorias. Estamos sempre em busca do máximo nos treinos e jogos. Há coisas a melhorar. Ainda não perdemos no Campeonato, estamos em primeiro lugar, mas temos de fazer mais em termos de resultados. Tivemos já cinco jogos em que não ganhamos todos, mas estou aqui para evoluir a equipa, torná-la competitiva e, no final, fazer as contas”, salientou sobre a parte desportiva, antes do regresso ao banco na Amadora: “A Reboleira é sempre um campo difícil, recordo-me disso quando ainda era jogador. Temos apenas seis ou sete vitórias em 16/17 jogos nesse estádio. Devemos olhar para o que o Estrela tem feito bem na defesa, no ataque e na estratégia tática, cabe-nos contrariar esse Estrela que estará motivado por jogar contra um candidato ao título”.

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“Compensações? A compensação é dada em relação ao que são as incidências do próprio jogo, por exemplo situações de VAR, entrada da equipa médica, substituições, etc. Acho que é justo, é o que toda a gente andava a pedir porque o tempo útil de jogo da nossa Liga era dos mais baixos da Europa. Nós, FC Porto, temos tido como média de tempo de jogo cento e tal minutos, mas como equipa somos a que tem pior tempo útil. O que queremos é um ritmo alto, intensidade e é difícil. Se há dez ou 20 minutos de compensação é preciso perceber quantos é que são jogados. Isto faz parte da nossa cultura, faz parte do que é o querer ganhar e cabe ao árbitro decidir se tem de se jogar mais algum minuto da compensação ou não. Nós, FC Porto, queremos acelerar o jogo, que decorra de forma natural e normal”, analisou Sérgio Conceição.

Em paralelo, Sérgio Conceição ainda sobre o mercado (ainda não tinha estado em conferências após o fecho) e abordou não só a venda de Otávio mas também a possível contratação que não chegou a acontecer de João Moutinho. “Vou falar do Otávio, o melhor jogador do Campeonato passado, super importante na equipa. Os timings são o que são. Na sexta-feira, antes do Farense, entrei numa clínica para fazer uma intervenção aos joelhos e saí sábado com o Otávio vendido. Saí do hospital diretamente para o Olival, não muito bem por causa da anestesia, mas foi difícil perder um jogador como ele. Vocês sabem a importância que ele tinha. Sobre o João Moutinho, o presidente falou-me nessa situação. Parecia-me que estava em condições de nos ajudar. Falei com o João ao telefone e entretanto, com a saída do Otávio, houve que ajustar uma ou outra situação dentro do nosso plantel. Esse timing não foi o melhor. Com a saída do Otávio houve situações a ajustar, e o João optou por ir para Braga. Ele como o Pepe e outros fazem parte do ADN do clube”, frisou.

“Plantel mais equilibrado com este mercado? Tentámos fazê-lo, dentro das possibilidades do clube. Sobre o Francisco [Conceição], houve muita gente que não compreendeu a sua contratação. O Francisco é muito válido no que é o seu jogo, a desequilibrar, é irreverente. Veio a custo zero, é um jogador que conhece a casa, veio da formação. O que tentámos foi equilibrar o plantel para termos soluções para os muitos jogos que vamos ter, vamos precisar de toda a gente. O Francisco conhece o clube e a cidade, ama o clube e a cidade, veio a custo zero. Digo isto porque pareceu-me haver alguma polémica em torno de um jogador que nos pode ajudar muito esta época”, acrescentou ainda a propósito das últimas entradas.

“Se estou arrependido de algumas atitude? Deixaria a minha resposta para um programa do Daniel Oliveira, que já me convidou duas ou três vezes e não pude estar presente. Quando falo, digo aquilo que sinto ou prefiro não dizer. Não sou o mais genuíno possível, sou genuíno e digo o que sinto. Olhando para o que fiz na altura de forma fria, alteraria comportamentos também, sem dúvida. Mas naquele momento fui o que fui. Amanhã serei o que serei. Espero estar aqui para a semana… A minha vida foi dura e de luta. Ninguém gosta de perder, todos gostam de ganhar. Há alguns que sentem de forma diferente, têm caráter diferente. Algumas coisas foram erradas, claro, mas algumas não. Se isso justifica tudo, não, se atenua sim, há coisas a melhorar, há. Sou apaixonado pela vida e respeito os meus amigos, a minha família e quem comigo trabalha. Tento ser melhor todos os dias. Aceito de bom grado a evolução”, concluiu o técnico.