Vinte e oito milhões de veículos com o emblema de alguma das 14 marcas do grupo Stellantis estão preparados para trocar os combustíveis convencionais por combustíveis sintéticos, sem necessidade de qualquer alteração mecânica. Trata-se de modelos em circulação no Velho Continente, equipados com motores Euro 6, que o grupo franco-italo-americano produz desde 2014 e que, se efectivamente passassem a ser atestados com e-fuels, poderiam reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO2) na Europa em até 400 milhões de toneladas, num período de 25 anos, estima o grupo liderado pelo português Carlos Tavares.

Ainda segundo a Stellantis, estão aptas a consumir e-fuels de baixo de teor de carbono nada menos que 24 famílias de motores deste grupo, tendo sido esta a conclusão a que se chegou após meses de testes em vários centros técnicos na Europa, recorrendo a e-fuels fornecidos pela empresa de energia e produtos químicos Aramco. Os testes abrangeram análises a uma série de elementos, das emissões no tubo de escape passando pela capacidade de arranque, potência do motor, diluição do óleo, depósito, canais e filtros de combustível, sem esquecer o desempenho do combustível em temperaturas extremas.

“Os resultados reforçam a nossa visão de que o combustível sintético pode ser uma solução imediata nos veículos existentes e que, quando produzido através de uma via de baixo teor de carbono, pode desempenhar um papel importante na redução das emissões de carbono no sector dos transportes e no apoio a uma transição energética ordenada”, sublinhou Amer Amer, transport chief technologist na Aramco.

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Esta empresa tem actualmente em operação duas fábricas que visam explorar a produção de e-fuels, uma na Arábia Saudita em parceria com a a Neom Energy and Water Company, e outra aqui ao lado, em Espanha. Em Bilbau, a Aramco juntou forças à Repsol para produzir diesel sintético e combustível para a aviação, enquanto que a gasolina sintética destinada a veículos ligeiros de passageiros vem da Arábia.

Para a Stellantis, os testes com e-fuels não representam uma alternativa à electrificação. “A nossa prioridade é proporcionar uma mobilidade sem emissões para todos, com foco na electrificação”, realça o chief engineering & technology officer da Stellantis Ned Curic. A estratégia do grupo que junta as antigas PSA e FCA não se desviou um milímetro em relação a isso, mas a Stellantis vê com bons olhos todas as soluções com potencial para baixar as emissões de CO2. É o caso do e-fuel que, com base no ciclo de vida dos modelos de combustão interna, poderia saldar-se numa redução de pelo menos 70% das emissões de CO2 face à queima de combustíveis fósseis.

“A substituição de combustíveis convencionais por e-fuels pode ter um impacto enorme e quase imediato na redução das emissões de CO2 da frota de veículos em circulação, oferecendo aos nossos clientes uma opção fácil e economicamente eficiente para reduzir a sua pegada de carbono, numa opção tão simples como escolher uma bomba diferente num posto de combustível”, destaca Ned Curic.

Sem petróleo, mas com características muito semelhantes ao gasóleo e à gasolina convencionais, os e-fuels resultam de um processo químico que combina hidrogénio (H2) e CO2, recaindo no H2 a principal dificuldade em fazer deste tipo de combustível uma solução viável e competitiva, pois para que o impacto ambiental dos combustíveis sintéticos seja relevante, é essencial que todos os elementos que o compõem tenham origem em energias renováveis. E esse processo representa, até agora, uma factura demasiado elevada a pagar pelo consumidor.