O despertador tocou, mas Vikram e Pragyan não acordaram. A sonda e rover indiano ‘entraram em hibernação’ após o pôr do sol na Lua e, quando os técnicos da Organização Indiana de Investigação Espacial (ISRO) os tentaram acordar, não obtiveram resposta. “Os esforços para estabelecer contacto vão continuar”, informou a ISRO na sexta-feira, via a rede social X (antigo Twitter).

A missão Chandrayaan-3 fez história ao tornar-se a primeira a pousar no polo sul da Lua, no dia 23 de agosto, depois de uma viagem que tinha começado no dia 14 de julho. O objetivo era conseguir recolher o máximo de informação durante 14 dias — o tempo de luz num dia lunar — e assim fez.

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Um dia na Lua dura o equivalente a 29,5 dias na Terra. Em cada ponto do planeta, cerca de metade do tempo está iluminado pelo Sol e a outra metade está às escuras. O período de escuridão coloca dois grandes problemas às sondas e rovers, como é o caso de Vikram e Pragyan: por um lado, sem raios solares a incidirem nos painéis não conseguem produzir energia; por outro, a noite lunar é incrivelmente fria (com temperaturas abaixo dos 200 graus Celsius negativos).

As temperaturas extremamente baixas estavam previstas e a sonda e o rover programados para ‘hibernar’ enquanto durasse a noite lunar. Os equipamentos foram desligados no dia 4 de setembro e os operadores esperavam que pudessem voltar a funcionar no dia 22, com o nascer de um novo dia, mas os contactos não foram bem sucedidos.

A equipa da ISRO queria ligar os equipamentos durante o dia lunar e tentar aproveitar mais 14 dias terrestres a explorar o polo sul lunar. Têm até dia 30 de setembro para o fazer, antes de se fazer noite no satélite natural da Terra novamente.

Se a parte eletrónica tiver sobrevivido às temperaturas frias, há 50% de hipóteses de ‘reanimação’, se não, pelo menos a missão já cumpriu os seus objetivos principais, disse Nilesh Desai, diretor Centro de Aplicações Espaciais, na Índia, citado pelo jornal India Today.

Os equipamentos, no entanto, não foram desenhados para suportar temperaturas abaixo dos 120 graus Celsius. Equipamentos que consigam suportar temperaturas mais baixas são uma tecnologia que ainda não existe na Índia, disse Pallava Bagla, autor indiano de livros sobre exploração espacial, citado pela Al Jaeera. As missões indianas são conhecidas por se apoiarem sobretudo em conhecimento e materiais internos e por terem um orçamento muito reduzido.

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Assim, acordar será um bónus da missão. Durante o período em que se manteve ativo e conseguiu enviar informações para a Terra, o rover Pragyan detetou, tal como esperado, ferro, titânio, alumínio e cálcio no solo lunar. Surpreendente foi o facto de ter também detetado enxofre e em concentrações muito maiores do que anteriormente previsto.

Outra importante informação recolhida diz respeito às temperaturas do solo: se à superfície se registavam cerca de 50 graus Celsius, as temperaturas caiam 10 graus perfurando pouco mais de sete centímetros. O solo lunar é um mau condutor térmico, o que até pode ser bom para futuros bases humanas na Lua, uma vez que um posto subterrâneo estaria bem isolado das enormes variações de temperatura à superfície, destacou o jornal The New York Times.

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