“Infelizmente, fui afetado pela onda mais recente de despedimentos na Talkdesk.” É desta forma que começam várias das publicações feitas esta segunda e terça-feira sobre os despedimentos na empresa portuguesa, que desenvolve soluções tecnológicas para centros de contacto. Nesta altura, há já várias publicações feitas no LinkedIn e também no Reddit sobre o assunto.
O Observador questionou a empresa sobre quantos trabalhadores é que foram afetados e em que mercados. Numa declaração enviada ao Observador, assinada por Tiago Paiva, CEO da Talkdesk, são mencionadas “reduções limitadas na contagem de trabalhadores que foram feitas em algumas áreas, que não vão afetar negativamente a nossa velocidade de inovação”. Não foram dadas indicações sobre números de pessoas afetadas ou países.
“A Talkdesk tem colocado sempre a inovação como um princípio nuclear. Historicamente, temos investido em produtos a uma velocidade maior do que os nossos concorrentes e vamos continuar a fazê-lo”, é possível ler no comentário. Tiago Paiva garante que o compromisso para com os clientes se mantém e que a empresa quer “continuar a investir e a contratar em áreas estratégicas que permitam inovar de forma mais rápida e mais eficiente e em escala.” Na mesma declaração, garante que “o negócio continua forte” e que “existe uma tremenda oportunidade de mercado” para a companhia.
Nas publicações feitas no LinkedIn, há vários trabalhadores em Portugal que começaram a semana com a notícia de despedimentos, desde gestores de produto, a gestores de engenharia, investigadores na área de UX (experiência de utilizador), designers ou programadores. Há várias pessoas que estão a tentar encontrar um novo posto de trabalho através do LinkedIn ou mesmo quem seja de outras empresas a tentar recrutar talento entre as pessoas de saída da Talkdesk.
Noutros canais, há relatos de funcionários que terão recebido chamadas a explicar que o posto de trabalho teria sido eliminado. Ter-se-ão seguido os cortes aos sistemas da empresa, nomeadamente o email ou Slack, um serviço usado para a comunicação interna entre funcionários.
Em agosto do ano passado, a Talkdesk também fez despedimentos, na altura justificando a decisão com o “contexto económico” e a necessidade de alinhar os recursos de que dispõe com “as necessidades”. Nessa altura, a empresa terá ficado com mais de mil trabalhadores, muito abaixo dos 2.100 trabalhadores que teria em 2021.
A Talkdesk, criada em 2011, disponibiliza software centrado na cloud para a indústria dos centros de contacto. Fundada por Tiago Paiva e Cristina Fonseca, atingiu o estatuto de unicórnio em outubro de 2018, quando fechou uma ronda de financiamento de 100 milhões de dólares.
Trabalhadores contradizem CEO e falam em proposta de rescisão por mútuo acordo
Alguns dos trabalhadores surpreendidos esta segunda-feira com a notícia de mudanças na empresa estão a partilhar uma visão diferente da história. Está a ser proposto aos funcionários a assinatura de uma rescisão por mútuo acordo — o que, aos olhos da lei, não seria um despedimento e, consequentemente, não garantiria o acesso a subsídio de desemprego. A proposta terá sido apresentada esta segunda-feira e terá sido estabelecido um prazo até esta sexta-feira, 29 de setembro, para comunicarem à empresa a decisão.
Até lá, os trabalhadores afetados estão sem acesso aos sistemas da empresa — só se mantém o email, para assegurar a comunicação com o departamento de recursos humanos. Os trabalhadores afetados mantêm-se em contacto através de um grupo de WhatsApp, que já terá pelo menos 130 pessoas, a maioria portugueses.
Num email enviado aos funcionários, a que o Observador teve acesso, fala-se numa “decisão estratégica” que afeta as equipas de produto e engenharia. É dito que a decisão tenta alinhar a dimensão das equipas com as necessidades de negócio. Em relação às equipas de investigação e desenvolvimento (R&D), é mencionado que nos últimos anos esta área “cresceu de forma desproporcional” em relação ao resto da empresa e que “para ter uma organização eficiente” vão “ajustar o total em R&D para ser consistente com as melhores práticas na indústria”.
O foco na América do Norte também é mencionado neste email, onde se explica que foi necessário relocalizar o investimento em R&D em localizações como os EUA, Portugal e China para “acomodar o futuro crescimento na América do Norte”.
(Atualizado às 19h55 com mais informação)